No espaço de quatro anos, as maiorias absolutas no panorama autárquico diminuíram de norte a sul do país. Em 2021, existiam 258 executivos municipais (de entre um total de 308) que governavam sozinhos. Agora, esse número diminuiu, passando a existir 233 presidentes de câmara maioritários em Portugal. Ainda assim, isto significa que, apesar da tendência decrescente (desde 2017 que existem cada vez menos maiorias), três em cada quatro câmaras municipais terão um presidente a governar sem ter de dialogar com a oposição.Esta queda nas maiorias absolutas acompanha, em parte, as perdas do PS. Consultando os dados do Ministério da Administração Interna (MAI), em 2021 os socialistas conseguiram vencer 149 presidências e 125 maiorias. Agora, isso reduziu e o PS passou para as 129 autarquias e 101 maiorias. Já o PSD, que em 2021 tinha 114 câmaras (com 106 maiorias), governa agora 136 concelhos, 109 dos quais maioritários.À esquerda, a CDU (que governava 11 dos seus 19 municípios em maioria) acaba agora por ter a maior parte dos vereadores em metade dos 12 concelhos a que preside.Além das oscilações nos votos, João Cancela, professor auxiliar na Faculdade de Ciênciais Sociais e Humanas (FCSH), introduz outro dado: a fragmentação. “Menos maiorias absolutas é uma consequência lógica de estar tudo mais fragmentado”, explica o investigador. Para isto contribuiu também o Chega, que “apesar de não ter tido objetivamente um bom resultado no número de câmaras obtidas, teve uma votação expressiva a nível nacional [653.943 votos]”. E ainda que os números não sejam comparáveis aos das legislativas, onde o partido de André Ventura conseguiu ter mais de 1,3 milhões de votos, este fator contribuiu para que fossem eleitos vários vereadores em municípios de norte a sul. “Com isso, o Chega consegue complicar as contas” dos executivos municipais, explica João Cancela, ainda que ressalve que a fragmentação no poder local tenha sido menor do que nas eleições legislativas de 18 de maio.Além disso, na opinião de João Cancela, o fenómeno das candidaturas independentes, que elegeram 20 autarcas, acaba por ter alguma influência neste desfecho autárquico. E deve até fazer os partidos “repensar” no que está a falhar: “Devem fazer pensar o que leva os eleitores a procurar uma oferta de pessoas que sentem mais capacitadas para governar as suas terras do que a oferta partidária existente. Há um número suficientemente grande de cidadãos que se reveem nestes movimentos, seja programaticamente ou ao nível das personalidades que concorrem.” Isto leva a que “os independentes” governem agora um “leque muito diversificado” de cidades, incluindo uma capital de distrito (Setúbal), já depois de a câmara do Porto ter sido presidida por Rui Moreira, que foi eleito pela primeira vez em 2017 e cumpriu três mandatos consecutivos..Autárquicas: PSD vence nas cinco maiores câmaras, pela primeira vez desde 2005, mas PS trava queda eleitoral .Confira aqui os resultados das Autárquicas 2025 em todos os concelhos e freguesias