A freguesia dos Olivais foi a que em Lisboa mais sofreu para ter Executivo funcional. A limitação foi de tal ordem que algumas das competências da própria gestão estiveram limitadas, uma vez que as finanças e respetivos pagamentos a fornecedores e trabalhadores estavam condicionados pela formação da equipa que iria cumprir o mandato. O PS venceu no dia 12 de outubro e acumulava, possivelmente, seis vogais, um deles do Bloco, integrado na coligação. Tem um Executivo aprovado, que não volta atrás, mas de forma polémica ainda assim.Na segunda-feira transata, Susana Matos, da CDU, foi integrada no Executivo. Porém, a sua entrada é, de acordo com o PCP, “contra a vontade da própria eleita que votou contra a proposta”, expressou o partido em nota oficial enviada ao DN, avançando que se apresentou “formalmente a renúncia ao mandato no Executivo.” Confirmando-se as afirmações, foi a terceira vez que o PS incluiu nomes sem aprovação dos próprios a priori. “Dissemos sim com a garantia de que as pessoas na lista sabiam que eram escolhidas”, precisa Gonçalo Maggessi, geógrafo e operador de infografismo, líder do movimento independente Olivais em Ação.O processo foi longo. O PS tentou, na primeira reunião, avançar com um Executivo de seis, o que foi reprovado na freguesia onde PSD-IL-CDS-PP alcançaram cinco eleitos (com a particularidade de serem três da IL e um de PSD e CDS-PP). Havia ainda a contar com três para o movimento Olivais em Ação, três para o Chega, um para a CDU e para o movimento Olivais+. Em causa, o temor de ilegalidade que a oposição salientou ao PS: por ser uma freguesia com mais de 20 mil eleitores (tem mais de 27 mil) e 19 eleitos para os cargos políticos vinca-se a necessidade de sete nomes no Executivo.A coligação Viver Lisboa foi, portanto, forçada a negociar ou, pelo menos, a encontrar soluções. Foram propostos nomes vindos da Iniciativa Liberal e do Olivais em Ação. Gonçalo Mag- gessi relata ao Diário de Notícias que a inclusão destes dois nomes, em propostas diferentes, “não foi falada”, sendo “apresentada à revelia”. Viu-se o mesmo desfecho, com 11 votos contra. Até a negociação seguir o seu rumo, primeiro “sem pelouros, depois com pelouros”, o movimento Olivais em Ação diz ao DN que “não poderia acolher a proposta para poder romper com o passado da junta” e que se insurge com a colocação de Duarte Carreira nas listas do PS, depois deste ter estado “uma década no Executivo”. Iara Ferreira, a nova autarca, reformulou a solução juntamente com o presidente da Concelhia do PS de Lisboa, Davide Amado, tentando convencer com um ou dois lugares o Olivais em Ação, no entanto a manutenção de Duarte Carreira nas listas impossibilitou o acordo. “Disseram que não negociavam com mais ninguém, que éramos os mais sensatos”, conta Maggessi, revelando a “contraproposta de quatro [socialistas] mais os três do movimento”, que “não foi aceite”, porque “já teriam uma pessoa de outra força política.”“Existiram três assembleias, havia quem achasse que podia ser de seis o Executivo, mas foi chumbada a proposta. E, sim, temeu-se uma ilegalidade. Depois, procurámos um acordo escrito, falámos com as forças políticas, também com a Iniciativa Liberal, e propusemos um 5-2, que era um bom acordo [ao movimento Olivais em Ação]. A lógica de governação seria PS e Olivais em Ação, mas percebemos que não seria possível”, precisa ao DN Davide Amado, descrevendo a visão do PS na negociação e queixando-se de que a incerteza na definição do Executivo fez com que a junta “não praticasse atos entre a segunda e terceira assembleias.”O movimento Olivais em Ação queixa-se ainda da posição do PS na Assembleia Municipal. Depois de um primeiro empate por 9-9, na segunda votação, já com todos os elementos do PS presentes, foi vitoriosa a lista de Eurico Brilhante Dias, líder parlamentar do partido, com outro socialista e um elemento do Bloco de Esquerda. “Tinha sido mencionado que poderiam existir listas mais representativas e que tanto o nosso movimento como a Iniciativa Liberal poderiam liderar a mesa”, relata, lembrando que até para o Executivo tinha sido sugerido uma solução de três PS, dois dos Olivais em Ação e dois da Iniciativa Liberal. Maggessi considera que a viabilização da Assembleia, com dez votos, e do Executivo “deve ter vindo do Chega”, associação que, naturalmente, é meramente uma dedução por ser uma votação secreta.PSD tem mais maiorias, PS apoio da CDU em váriasEntre as 24 freguesias de Lisboa, só nos Olivais se verificou um vencedor com menos de 30% dos votos. Nas 11 vitórias da coligação Por Ti, Lisboa, apenas Campo de Ourique e Campolide, dado o maior aperto eleitoral, implicam negociação. “O PS não tem por método inviabilizar Executivos”, vinca Davide Amado, garantindo que, em ambos os casos, os vencedores Ana Mateus (Campo de Ourique), do PSD, e José Cerdeira (Campolide), da IL, “não falaram com o PS.” No caso de vitórias mais apertadas do PS, em Santa Clara, Beato e Misericórdia, estão também aprovadas as equipas de governação. Em Santa Clara pode haver limitação futura por serem cinco eleitos pelo PS e, mesmo com a CDU ao lado, PSD e Chega acumulam sete mandatos. O que pressupõe que muitas negociações orçamentais possam ser difíceis. Na Misericórdia, com dois eleitos pela CDU, há a entrada no Executivo de uma vogal comunista com o pelouro da Cultura. No caso de Marvila, um dos grandes resultados da CDU a 12 de outubro, com quatro mandatos, viabilizou também, mas sem entrada na equipa de José António Videira, do PS. A rivalidade comunista com o PS viu-se em Carnide, mas apenas na campanha. A CDU manteve a sua única freguesia em Lisboa (seis eleitos), mas a viabilização não teve um único voto contra. Ver-se-á se o PSD, que teve quatro eleitos, PS (dois) e Chega (dois) poderão dificultar orçamentação futura. .Almada. CDU integra gestão socialista de modo a perfazer maioria.Junta dos Olivais provoca guerra entre socialistas