A ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, os deputados socialistas Eurico Brilhante Dias e Nuno Fazenda, e os seus congéneres do Chega, Gabriel Mithá Ribeiro e João Dias Ribeiro, estão em minoria entre os cabeças de lista das três forças partidárias que têm atualmente representação parlamentar nos círculos de Coimbra, Leiria, Santarém e Castelo Branco. Esses quatro distritos do Centro, dos quais três deram vitórias ao PS em 2024, caracterizam-se pela mudança de figuras de cartaz nas eleições de 18 de maio, mais por estratégias (ou circunstâncias) partidárias do que propriamente por quebra de ligação com o eleitorado.Na AD - Coligação PSD/CDS, a estratégia de fazer das eleições antecipadas um referendo à governação do último ano levou a que quase todos os ministros e grande parte dos secretários de Estado tenham sido colocados nas listas. Se isso já se tinha aplicado no ano passado a Rita Alarcão Júdice, escolhida para encabeçar a lista da então Aliança Democrática em Coimbra, agora também avançam Margarida Balseiro Lopes (Leiria), Fernando Alexandre (Santarém) e Pedro Reis (Castelo Branco). No primeiro caso não se tratou de uma novidade e sim de um regresso, pois a ministra da Juventude, natural da Marinha Grande, representou o círculo até ser afastada por Rui Rio, mas os titulares das pastas da Educação e da Economia foram surpresas. Sem ligações conhecidas aos distritos que irão representar - o que levou alguns sociais-democratas a fazerem-lhe sugestões gastronómicas após o anúncio oficial -, substituíram as apostas de 2024 no presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, Eduardo Oliveira e Sousa, que renunciou ao mandato de deputado pouco após tomar posse, e na professora universitária e comentadora de Política Internacional Liliana Reis.Mantêm-se candidatos da AD em lugares elegíveis os sociais-democratas Hugo Oliveira, Sara Carreira e Ricardo Carvalho (Leiria); Maurício Marques, Ana Oliveira e Martim Syder (Coimbra); e João Moura, Isaura Morais e Ricardo Oliveira (Santarém). As novidades são a inclusão do secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, terceiro candidato por Coimbra, e de Ricardo Aires, até agora presidente da Câmara de Vila de Rei, como segundo por Castelo Branco. Entre os socialistas, foram as eleições autárquicas a provocar o paraquedismo eleitoral. Enquanto Eurico Brilhante Dias e Nuno Fazenda se mantêm cabeças de lista em Leiria e em Castelo Branco, foi preciso arranjar substitutos para Ana Abrunhosa (Coimbra) e Alexandra Leitão (Santarém), que sairiam do Parlamento mesmo sem o chumbo da moção de confiança, apresentada pelo Governo, que levou ao termo da legislatura. Com Ana Abrunhosa apostada em impedir o segundo mandato de José Manuel Silva na Câmara de Coimbra, e Alexandra Leitão a coprotagonizar o principal duelo das próximas eleições autárquicas, procurando derrotar Carlos Moedas em Lisboa, houve que ser criativo nas listas que a liderança de Pedro Nuno Santos delineou no Largo do Rato.Para encabeçar a lista de Santarém voltou a ser escolhida uma figura nacional do PS, cabendo a missão ao até agora vice-presidente da Assembleia da República, Marcos Perestrello, com os deputados ribatejanos Hugo Costa e Mara Lagriminha nos lugares seguintes. Mas em Coimbra a situação foi bastante mais complexa, agravada pela recusa de José Luís Carneiro, que disputou a sucessão de António Costa com Pedro Nuno Santos, em ser “transferido” do Minho para o Mondego. Perante a falta de soluções para o problema, num dos círculos onde o PS obteve mais deputados do que a AD nas últimas legislativas, Pedro Delgado Alves, que tem raízes familiares no distrito de Coimbra, acabou por assumir o desafio, dias depois de ser confirmado pela Federação da Área Urbana de Lisboa como segunda escolha para o principal círculo eleitoral, logo atrás de Mariana Vieira da Silva.Nos restantes lugares elegíveis das listas socialistas prevaleceu a renovação: apesar de o líder distrital Pedro Coimbra continuar no círculo que coincide com o seu apelido, Rosa Isabel Cruz e Daniel Azenha deverão juntar-se-lhe na Assembleia da República, com os até agora autarcas Catarina Louro e Salvador Formiga em destaque no círculo de Leiria, e a deputada municipal Carla Massano a ocupar o segundo lugar da lista de Castelo Branco. .Legislativas 2025. Cinco círculos juntam mais de metade dos deputados e duelos entre líderes.PS refaz listas no Norte e aposta em autarcas. AD e Chega mantêm quase tudo. Até o Chega, que nas últimas legislativas elegeu deputados em todos esses quatro círculos, fez alterações. O vice-presidente do partido, Pedro Frazão, foi mobilizado para a disputa direta com Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos em Aveiro, com o cabeça de lista de Santarém a passar a ser o já deputado Pedro Correia, seguido pelo estreante José Dotti. O atual líder distrital do Chega está a ser apresentado como “rosto do partido no mundo rural”, num distrito que tem grande peso de agricultores, e que foi cenário de um dos empates em número de eleitos entre as três principais forças - os outros foram Faro, mas com o Chega a ter mais votos, Guarda, Évora, Beja e Europa -, alimentando a narrativa do tripartidarismo que André Ventura tem feito desde que conseguiu eleger 50 deputados.Mais traumática foi a saída do jurista António Pinto Pereira, cabeça de lista em Coimbra nas legislativas de 2024, que tem repetido a intenção de se candidatar à Câmara de Cascais, com ou sem apoio do partido, o que foi encarado como uma tentativa de colocar pressão sobre Ventura. No seu lugar avança o líder da Distrital de Coimbra do Chega, Paulo Seco, estando por apurar o impacto eleitoral da troca. Numa linha de continuidade fica a lista de Castelo Branco, onde João Dias Ribeiro procura reeleger-se, o que implica não descer abaixo de metade dos votos das duas forças mais votadas ou do triplo da mais votada (que no círculo tende a ser o PS) caso o Chega mantenha o terceiro lugar..Vida para lá do tripartidarismo.Também se verificou um caso de paraquedismo num partido que procura eleger pela primeira vez num destes quatro círculos. Depois de apenas os eleitores da AD, PS e Chega terem conseguido traduzir os seus votos em representação parlamentar, a Iniciativa Liberal está a apostar forte na eleição do cabeça de lista por Leiria, tendo escolhido André Abrantes Amaral, que na última legislatura foi candidato por Lisboa e chegou a ser deputado em regime de substituição. Antes de ser confirmado pelo Conselho Nacional, como escolha da Comissão Executiva de Rui Rocha para um dos principais objetivos de crescimento da bancada parlamentar, Abrantes Amaral contactou os núcleos locais do distrito, procurando evitar que se pudesse repetir o mal-estar gerado pela (bem-sucedida) candidatura de Mário Amorim Lopes em Aveiro no ano passado.Pelo contrário, são muitíssimo reduzidas as hipóteses de os liberais elegerem os cabeças de lista de Coimbra (Catarina Graveto), Santarém (Afonso Neves) e Castelo Branco (Manuel Lemos). Até porque o partido teve menos de 4% de votos em qualquer um desses círculos.Também o Bloco de Esquerda e a CDU têm alguma esperança de recuperar os deputados perdidos nas duas últimas eleições. As legislativas de 2019 foram as derradeiras em que os bloquistas elegeram os seus cabeças de lista em Leiria, Coimbra e Santarém, com os comunistas a conseguirem fazer o mesmo no distrito ribatejano.Para travar a tripartidarização dessa região, o Bloco de Esquerda recorre a um dos fundadores, Fernando Rosas, enquanto cabeça de lista em Leiria - Miguel Cardina candidata-se em Coimbra, Bruno Góis em Santarém e Inês Antunes em Castelo Branco. Já a CDU escolheu Inês Santos por Santarém, enquanto por Coimbra vai Fernando Teixeira, por Leiria João Paulo Delgado e por Castelo Branco Vítor Reis Silva. Têm escassas hipóteses, tal como os candidatos do Livre e do PAN..COMO FOI EM 2024.Os 32 deputados eleitos por estes quatro círculos dividiram-se entre Aliança Democrática (12), PS (12) e Chega (8). No entanto, a coligação só foi mais votada em Leiria.LeiriaAD35,21%5 deputadosPS22,50%3 deputadosChega19,66%2 deputadosCoimbra PS32,67%4 deputadosAD30,58%3 deputadosChega 15,46%2 deputadosSantarémPS27,85%3 deputadosAD27,28%3 deputadosChega23,32%3 deputadosCastelo BrancoPS34,22%2 deputadosAD28,45%1 deputadaChega19,52%1 deputado