José Manuel Pureza concedeu ao Diário de Notícias a primeira grande entrevista em profundidade desde que assumiu, no final de novembro, o cargo de coordenador do Bloco de Esquerda. No Convento São Francisco, em Coimbra, cidade onde habita e à qual concorreu nas Autárquicas sem conseguir a eleição como vereador, detalhou os traços futuros do partido, identificando que a linha de combate à extrema-direita deve ser a toada dominante. Promete valorizar a militância, encaminhar diálogos com forças de esquerda, apesar das críticas ao PS que se absteve no Orçamento do Estado. Não se vê como líder de transição, respeita as tendências internas e tem mais palavras de apreço para Mariana Mortágua do que críticas.De onde partiu esta vontade para ser coordenador do Bloco? Na verdade, não se trata de uma vontade, trata-se de um serviço, que é esperado de um militante com as responsabilidades de direção que fui tendo ao longo dos anos. Não foi uma iniciativa própria, nem isso fazia sentido num partido como o Bloco de Esquerda, mas houve uma disponibilidade absoluta de assumir responsabilidades que fossem ao encontro do que o Bloco pedia e necessitava.Diz que não foi iniciativa sua. Quem mais o motivou?Foi o partido. Houve, naturalmente, um conjunto de reflexões de gente vária, entre a Moção da qual eu fazia parte [A] e que até então tinha como primeira signatária a Mariana Mortágua. Dada a circunstância de a Mariana ter entendido que não iria continuar, que não se iria apresentar à Convenção, concluiu-se que deveria ser eu a assumir esta responsabilidade.Existiram outras possibilidades dentro deste lote na moção A?É sabido que sim, é sabido que o Bloco tem um conjunto de pessoas com traquejo, com muita inserção na luta social, com muita reflexão política madura. Não faltariam certamente nomes para assumir esta responsabilidade.Tendo de falar de si, de se apresentar. Qual é o seu perfil?Os caminhos que fiz são conhecidos de toda a gente. Sou militante do Bloco, não desde a sua fundação, mas desde os primeiros anos, e fui assumindo as responsabilidades de representação parlamentar, de trabalho de coordenação local, de militância de base, sempre. Estive nos processos de criação de condições para uma esquerda grande, capaz de se juntar para resistir, por exemplo, à agressão da Troika e do governo PSD e CDS dessa altura. Tenho estado em muitos processos de articulação de forças à esquerda, que passam quer por iniciativas pontuais em termos legislativos, como, por exemplo, a lei da morte medicamente assistida, como também por iniciativas de caráter mais cidadão. Creio que isso pesou, porque, agora, neste momento, vemos uma direita que cresce de maneira muito preocupante. É preciso uma dinâmica de agregação, de diálogo, para que a esquerda tenha um programa e responda à hegemonia das direitas.. Acha que a sua imagem, os cabelos brancos, a experiência que tem, o tempo de universidade, o facto de ser casado, católico, tem algum peso no eleitor?Acho que não é uma questão de imagem [risos], de retrato-robô, é uma questão de desempenho político, de fiabilidade no trabalho político desenvolvido. Não corresponde a nenhum tipo de imagem publicitária, de estratégia de marketing. Não vou vender os meus cabelos brancos nem a minha condição de católico em cartazes. Vou tentar articular o partido e dar-lhe força e responder por ele publicamente.Havendo uma maior preponderância à direita dada pelo eleitor português, entende que o Bloco deve ser menos de protesto e mais moderado?Estamos perante uma das mais graves crises em vários domínios da vida quotidiana das pessoas, com este governo. A crise na habitação, na Saúde, é radical. E, no entanto, oiço dizer-se que Luís Montenegro é moderado. A política que o primeiro-ministro tem é radical na Saúde, na habitação, no tratamento aos estrangeiros, como se prova pela Lei dos Estrangeiros e Lei da Nacionalidade. Na verdade, a direita tem-se radicalizado. Sou radicalmente contra os efeitos de privação de direitos a quem tem menos no trabalho. Sou contra a cruzada, hoje galopante, quanto aos direitos das mulheres. Sou radicalmente contra as discriminações. Não acho que o binómio moderação-radicalidade seja útil para o debate político. .Foi identificado que o Bloco devia comunicar melhor. Como concretiza isso?Primeiro, com um trabalho de aprimoramento da comunicação em termos internos, porque o partido precisa de comunicar mais com as suas estruturas, com as suas regiões. Depois, no discurso público. O que faz a direita ter poder não é tanto o poder eleitoral, mas, sim, de conduzir o discurso. Basta ver as redes sociais, a formatação de verdades que não correspondem à verdade factual. Temos de batalhar pela verdade, pela recusa de discursos de ódio.Há uma crise de identidade no Bloco de Esquerda, um partido com mais de 25 anos?Não vejo em que é que se pode basear uma observação dessa natureza. O Bloco, quando nasceu, era uma força política que vinha com uma agenda muito clara, de trazer para a política não apenas os velhos combates da esquerda - que são os combates ancestrais de sempre e que se mantém, os combates pelos direitos do trabalho, das pessoas que têm menos - mas trazer também à superfície realidades sociais que estavam até então subalternizadas: os direitos das mulheres, das pessoas racializadas. Temos essa identidade que agrega essa centralidade da luta pelo trabalho e pelos seus direitos com todas as lutas pela dignidade. Não é por acaso que o Bloco, nos seus momentos públicos, arvora bandeiras de várias cores, um arco-íris de cores, e é assim que deve ser porque representam a multiplicidade de lutas.Ter sido eleito com uma participação de pouco mais de 500 pessoas, num universo de 10 mil bloquistas, é uma preocupação?Claro que é, só pode ser. A direção de que sou coordenador está a ter como uma das suas principais preocupações cuidar da militância, para que haja mais gente a ser militante no Bloco, e para que aqueles e aquelas que são militantes no Bloco o façam em melhores condições. Isso passa, sobretudo, por duas coisas, do meu ponto de vista. Em primeiro lugar, muito maior inserção social do Bloco. Na escola, no bairro, no serviço de saúde, no parlamento. Depois, é fundamental que o partido estime a militância, dê incentivos ao debate.E em termos estatutários, é possível mudar alguma coisa de modo que outras listas apareçam na oposição?As alterações estatutárias que foram aprovadas nesta Convenção foram alterações estatutárias que tiveram a preocupação essencial de ir ao encontro daquilo que tinham sido o conjunto de observações do Tribunal Constitucional, quando, cumprindo a sua missão, fiscalizou os estatutos. Nem pensar, em qualquer tipo de momento, aprovar o que ponha em causa a pluralidade interna do Bloco. Não estaria no Bloco de Esquerda se isso acontecesse, porque uma riqueza deste partido é a sua pluralidade interna, o direito de os militantes se organizarem em tendências. Isso é um direito estatutário. .Um bom resultado de Catarina Martins nas Presidenciais coloca em causa o seu futuro como coordenador?Não, pelo contrário. Bato-me todos os dias para que a Catarina Martins tenha um enorme resultado. Não se inventem fantasmas onde eles, pura e simplesmente, não fazem nenhum sentido. A Catarina Martins é uma mulher com uma coragem extraordinária, que representa nestas eleições um projeto de atenção aos cuidados para com a democracia e para com o nosso povo. Por isso mesmo, o Bloco só tem a ganhar com isso.Falta muito para as próximas Legislativas. Ainda assim, sente-se capaz de chegar até lá? Não se vê como um líder de transição?Fui eleito nesta Convenção. Na próxima, haverá uma avaliação do trabalho feito e um juízo sobre a melhor equipa para prosseguir o trabalho ou para o alterar. Não quero fazer qualquer tipo de juízo a esse respeito. Estou plenamente empenhado em cumprir o mandato com todas as minhas forças e não faço nenhum vaticínio sobre o que vem a seguir. Daqui a uns anos, se voltarmos a falar, assinaria por baixo uma manchete assim: “Pureza renasceu o Bloco de Esquerda”?Não, não assinaria [risos]. Porque isso seria mentiroso. Darei tudo aquilo que eu puder, mas isto não é obra de uma só pessoa. Portanto, é um partido inteiro que se mobiliza, que se motiva, que se enraiza. Daqui a dois anos, ou daqui a quatro, gostava que se pudesse dizer, que existisse a manchete de que ‘o Bloco se renasceu a si mesmo’, digamos assim.Entre os ex-coordenadores, Francisco Louçã, Catarina Martins e Mariana Mortágua, com qual se identifica mais?Revejo-me nessas três pessoas, nesses três camaradas. Há diferenças geracionais, mas não vejo diferenças assinaláveis na visão do mundo e na visão do que deve ser uma esquerda de combate. São três vozes próprias, mas muito próximas, consonantes.. Consegue identificar onde Mariana Mortágua errou?Esse balanço foi feito pela Mariana, teve a frontalidade de o fazer. O primeiro foi a pouca capacidade o Bloco ler adequadamente essa dinâmica tão forte de hegemonização da direita e da extrema-direita em Portugal. Em segundo lugar o deficiente enraizamento social. E a Mariana, finalmente, não deixou de afirmar com coragem, que entendia que o Bloco tinha caminhado para expressões de centralismo em demasia. Associo-me a esse balanço e cabe agora a esta direção ser capaz de responder a esses desafios.Vincou o seu perfil, de construir pontes. Faltou isso a Mortágua?Cada direção tem a circunstância que tem. A Mariana Mortágua foi líder do Bloco de Esquerda num tempo de multiplicação de eleições. E, portanto, todo o trabalho que talvez devesse ter sido feito em matéria de organização e de estruturação partidária ficou, naturalmente, refém dessa sucessão de eleições. Têm existido ciclos curtíssimos. É perfeitamente compreensível que não tenha havido tempo para atuar nesta matéria. Esta direção não tem essa circunstância, portanto, tem uma exigência grande de ser capaz de mudar algum do funcionamento do partido. .Perspetivando uma legislatura de mais três anos e meio, acha que é um problema o coordenador do Bloco não ser o representante parlamentar?Não, não acho que é um problema, é um desafio enorme, com certeza. No Bloco, isso é realmente a primeira vez que acontece. Tem de haver uma complementaridade muito forte entre a coordenação nacional e a representação parlamentar. Estou absolutamente seguro de que essa complementaridade será encontrada. Não haverá nenhuma disputa, afaste-se essa ideia que anda por aí de uma qualquer rivalidade. O Parlamento está muito marcado por uma presença forte da extrema direita, que destrói a qualidade da vida do Parlamento. O trabalho fora do Parlamento adquire uma relevância maior do que noutras ocasiões. O Fabian Figueiredo deu provas, como deputado, de uma combatividade e de uma firmeza só digna de elogio. Se estiver temporariamente impedido de o fazer, temos a Andreia Galvão, que também já teve uma experiência parlamentar com muito sucesso. Estamos muito tranquilos relativamente à qualidade da representação parlamentar.Tem propósito em esbater alguma divisão ideológica dentro do Bloco, entre esquerda alternativa e rede anticapitalista?Defendemos essas tendências. Não sou daqueles que acham que há uma disputa entre correntes fundadoras. Não pertenço a nenhuma dessas correntes, nunca pertenci. Estou muito mais à-vontade para dizer que o Bloco é muito mais do que a soma das suas partes.Considera que a extrema-direita tem vindo também a beneficiar do eleitorado ter sentido um certo abandono da própria esquerda?Há um fenómeno preocupante em todos os países europeus: o da capitalização do protesto social pela extrema-direita. Há muitas pessoas que se sentem abandonadas pela democracia. Isso é extraordinariamente preocupante, porque retira chão à democracia. A extrema-direita capitaliza a zanga sem dar, depois, resposta para as causas de onde vem a zanga. Até pelo contrário, afunilando muito a agenda das causas, reduzindo tudo à corrupção, aos imigrantes e sendo incapaz, deliberadamente, de ir aos fatores que bloqueiam o mercado da habitação e o Serviço Nacional de Saúde. É um discurso muito ficcionado de atirar para a esquerda as guerras culturais quando, na verdade, quem as faz é a extrema-direita, veja-se o caso das burcas. Culpa a geringonça de esquerda pela privação de direitos quando foi, pelo contrário, um tempo em que acrescentámos direitos às pessoas. Temos mulheres que são obrigadas a ter os seus filhos na estrada, nas ambulâncias, mas a extrema-direita iliba-se de responsabilidades e ficciona a história. A esquerda tem de criar alternativas de esperança para as pessoas.Disse que a extrema-direita galga no protesto. Quais são as soluções da esquerda para a economia, quando tantos a acusam de ser fantasiosa?O Bloco de Esquerda é muito criticado por alguns setores pelo facto de ter aberto uma crise orçamental por causa do Serviço Nacional de Saúde. Dizia-se: ‘isso é uma fantasia, estão a querer abrir uma crise artificial’. Estamos a ver como é que está o Serviço Nacional de Saúde. Uma esquerda que é atenta à realidade concreta do país tem de saber ter um discurso de crítica, de denúncia daquilo que funciona mal, mas tem de ser capaz de ver horizontes. E isso tem falhado. Foi isso que se viu em Nova Iorque. Uma galvanização, uma grande campanha discursiva, sim, mas os bairros de Nova Iorque sentiram agora esperança e horizontes concretos de futuro.É possível recuperar eleitores numa sociedade cada vez menos sindicalizada e mais focada no crescimento individual?Estamos num tempo em que a onda de individualismo exacerbado, de individualismo egoísta, se tornou claramente dominante. Sobretudo na malta mais nova. Por isso, a atração por discursos que vêm desde a direita ultraliberal até à extrema-direita autoritária. A autodeterminação, a autonomia, os direitos individuais são fundamentais, mas não é disso que estamos a falar. Estamos a falar de um egoísmo agressivo, de se fecharem muros, de funcionarmos em bolha.Como se pode o partido reinventar, até face ao impacto financeiro de terem perdido deputados e subvenções?Houve um impacto muito importante, isso traduziu-se, evidentemente, numa redução muitíssimo significativa do corpo de funcionários do Bloco de Esquerda, que, quer localmente, quer nacionalmente, permitiam ao Bloco ter expressões de trabalho e de organização mais consolidadas. O desafio é termos um partido mais militante, que cada iniciativa seja da responsabilidade de cada bloquista. Agora, significa isto que vamos abdicar de regras e de princípios que fixámos a nós mesmos, por exemplo, do ponto de vista do financiamento partidário? Não, não vai significar. Continuaremos a ser uma força muitíssimo exigente, a começar por nós próprios, com a transparência do financiamento dos partidos políticos.São contra donativos?Isto está fixado na lei [uma pessoa singular pode doar cerca de 13 mil euros por ano]. Há um limite que tem de ser muito vigiado para evitar realidades que bem conhecemos, que são as de domínio de agendas partidárias por grupos de interesse, por grupos económicos. O Bloco, como força importante da esquerda, não pode, de modo algum, abdicar de ser completamente intransigente nessa matéria.E acha que existe, noutros grupos parlamentares, essa influência de grupos económicos?Nem vale a pena falar. .Vê, atualmente, pontes possíveis com um PS que se abstém neste Orçamento do Estado e que evita uma maior subida de salário mínimo?A abstenção face a uma política intensamente agressiva por parte do Governo não é correta. Temos uma posição clara sobre aquilo que há a fazer no confronto com o Governo em matéria de habitação, Saúde e tratamento dos imigrantes. Isso distancia-nos claramente das decisões que têm vindo a ser tomadas pela direção do Partido Socialista, designadamente em matéria orçamental, que apontam no sentido de uma disponibilização a tempo inteiro para formar maiorias com o Governo. Creio que isso é mau para a democracia porque lhe retira capacidade de forjar alternativas. O Bloco de Esquerda nasceu e existe para formar maiorias sociais e políticas que permitam ao país ter alternativas à esquerda. Por isso mesmo, não desistimos de fazer nenhum diálogo. Acho que é a responsabilidade toda a esquerda. É a de, independentemente das diferenças que nos marcam e que são claras, sermos capazes de criarmos dinâmicas de diálogo. Quem não quiser entrar, não creio que esteja a honrar o seu compromisso de uma força de esquerda para Portugal.. José Luís Carneiro vai no sentido que considera desejável?Uma posição de complacência, de abstenção que já não é violenta, não vai num sentido de articular forças à esquema. Pensamos de uma outra maneira e achamos que temos a responsabilidade, à nossa medida, de reganhar para a esquerda força e iniciativa.Exclui futuros acordos com o PS?Não excluo entendimentos com qualquer força de esquerda. Estive muito envolvido na luta que começou com o meu camarada João Semedo pela despenalização da morte medicamente assistida. E não poupámos esforços para criar uma maioria que, no Parlamento, fosse capaz de dotar o país de uma lei moderada, mas, ao mesmo tempo, arrojada. Temos de ser capazes de replicar isso em todos os domínios onde os direitos das pessoas estão a ser suprimidos. É disso que estou a falar, não estou a pensar em nenhuma aritmética de coligação. É, sim, juntar forças para enfrentar esta onda avassaladora das direitas.O Bloco coligou-se com o Livre em vários territórios. É para continuar?Em Coimbra, desafiámos o Livre a fazer uma coligação connosco. O Livre entendeu que devia estar com o PS. São escolhas, naturalmente, que respeitamos. Isto significa que o Bloco se abriu nas últimas eleições autárquicas, apresentando listas bastante plurais, para dar força a programas ecologicamente, democraticamente e economicamente sustentáveis. Os resultados são aqueles que são [apenas uma vereadora eleita], mas não desistimos desta perspetiva de juntar forças para criar programas mobilizadores.Não pode ser prejudicial associar-se a um partido com convergências?Somos forças diferentes, respondemos a segmentos populacionais também diferentes e com diferenças em relação a muitas das áreas da nossa vida coletiva. Assumo as responsabilidades em nome do Bloco, não assumo, naturalmente, as responsabilidades em nome do Livre, do PS ou do PCP. Não será pelo Bloco que se deixarão de fazer as conversas, as reflexões conjuntas que permitam ao país ter um programa com força.Face ao enquadramento parlamentar, PS e Chega podem validar políticas de uma maioria à esquerda. Acha que o Chega vai sempre privilegiar o Governo e boicotar a esquerda?O Chega tem tido um comportamento parlamentar muito claro. O Chega nunca esteve do lado de quem afrontou os vistos gold. O Chega nunca esteve do lado de quem quis um Serviço Nacional de Saúde mais forte, nem de quem quis aplicar um teto às rendas. O Chega não se confunde com a esquerda. Vivemos muito tranquilos com isso. .Quem dará a mão ao Governo? Acha que a legislatura chega a 2029?Sei de uma coisa. O Bloco de Esquerda não é a força que vai contar para manter esta política. Até agora, claramente, inequivocamente, há um encosto, há uma opção clarinha por parte do governo para ter no Chega o seu parceiro preferencial. Está a fazê-lo sistematicamente. E nem por isso a direção do PS se tem colocado fora da possibilidade de aconchegar o governo. A estabilidade que privilegiamos é a estabilidade da vida das pessoas, são os centros de saúde, as urgências e ter casas para viver. O resto são jogos de aritmética que não têm nenhum interesse.Luís Montenegro tem legitimidade para governar agora que foram arquivadas as investigações quanto à Spinumviva?O que terminou foi a dimensão judicial deste processo. O Procurador-Geral da República tinha pré-anunciado que haveria uma prenda de Natal, ela aí está. Ninguém sai bem desta fotografia, devemos convir. Não sai bem o primeiro-ministro que tem uma empresa na sala de jantar e não explica porquê, não sai bem o Procurador-Geral que anuncia uma prenda de Natal. Mas o que terminou foi a dimensão judicial. A dimensão política essa mantém-se, porque Luís Montenegro não consegue explicar a simultaneidade de um exercício empresarial com clientes privados e as suas funções de primeiro-ministro. Essa crítica política à falta de exclusividade mantém-se. E o primeiro-ministro sai, desde o primeiro momento, fragilizado. Tem a legitimidade eleitoral, essa não se contesta, mas é frágil noutras. Como, por exemplo, ao tentar justificar uma alteração à Lei Laboral, que não se percebe. Ou melhor, percebe-se pelo preconceito ideológico de agredir o mundo do trabalho.Para as presidenciais, entre a direita nacionalista e a direita radical, entre Ventura e Cotrim de Figueiredo, coloca-os no mesmo patamar de perigo para o país?Ambos defendem projetos de alteração constitucional profunda. Ambos têm uma perspetiva de regulação do quadro democrático, mas não têm o mesmo projeto. João Cotrim de Figueiredo personifica a motosserra de Javier Milei [presidente argentino]. O que André Ventura personifica nestas eleições é ser ele mesmo, André Ventura. Os seus projetos são diferentes, mas ambos são muito perniciosos para a democracia..Menos de 4% dos filiados do Bloco de Esquerda elegeram José Manuel Pureza.Bloco de Esquerda diz que o caso Spinumviva é uma história da qual sai mal o primeiro-ministro e o PGR