O Parlamento discute esta quarta-feira o projeto de lei do PS que pretende criar “a comissão técnica independente [CTI] para a análise célere e apuramento dos factos relativos aos incêndios”, com o argumento de que 2025 foi “o pior ano em termos de incêndios rurais desde 2018”. A iniciativa socialista, que deverá ser acompanhada pela bancada do PSD, passará no crivo do hemiciclo, mas arrisca-se a decorrer em simultâneo com a comissão parlamentar de inquérito (CPI) que o Chega já avançou sobre a mesma matéria a título potestativo, o que impõe a sua concretização. O DN conversou com o deputado socialista Rui Santos, que traça uma divisão entre as duas iniciativas: a primeira, explica, é “uma comissão de especialistas”; a segunda é “um espetáculo político de jogar culpas de portugueses contra portugueses”.“Ano após ano, e apesar do investimento milionário na prevenção e combate aos incêndios rurais [...] o cenário de tragédia repete-se”, explica o Chega no documento que entregou no Parlamento a 25 de agosto, acrescentando que “estes incêndios também ficaram marcados por ilegalidades com relevo criminal em vários procedimentos de contratação pública lançados ao abrigo do programa Aldeia Segura - Pessoas Seguras”.Durante a Universidade de Verão do PSD, o secretário-geral do partido, Hugo Soares, tinha criticado a iniciativa do Chega, por considerar que a “quem compete fazer, e bem, o trabalho de investigação da mão criminosa nos incêndios em Portugal são as forças de segurança e a Polícia Judiciária. Não é aos deputados no Parlamento.”Durante o debate parlamentar na sequência dos incêndios, a 27 de agosto, o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, confirmara que o PS propõs a criação de uma CTI “para avaliar o que falhou nos incêndios”. Com a garantia de que o debate iria acontecer no Parlamento, prometeu que a sua bancada não fugiria à discussão, mas com a estratégia de analisar, só no fim dos incêndios, como é que em 2025 o país “tem uma área ardida muito superior a 2022, quando em 2022 as condições climatéricas foram aproximadamente semelhantes”.Dados do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR) indicam que, entre janeiro e 16 de setembro deste ano, os incêndios rurais queimaram, em Portugal continental, uma área total de 260.645 hectares. Em 2024, contabilizados os 12 meses do ano, a área ardida correspondeu a 137.651 hectares.O deputado do PS Rui Santos, ex-presidente da Câmara de Vila Real, para começar a justificar a importância de uma CTI por oposição a um inquérito parlamentar, lembra ao DN que também é, “de formação, engenheiro florestal”. Rui Santos recorda que, durante o curso, aprendeu “que é importante ter aceiros [faixa de terreno desprovida de vegetação], que é importante ter mosaicos florestais, que é importante usar o contra-fogo, que era muito útil ter as faixas de gestão de combustível”.No entanto, enquanto ex-autarca, recorda que houve, há dois anos, um incêndio na povoação de Samardã, em Vila Real, “em que tudo isso foi aplicado e foi feito um investimento de dois a cinco milhões de euros. O incêndio teve sete quilómetros de frente e passou os aceiros, passou a autoestrada, passou a estrada nacional, passou um rio, passou o caminho de ferro e todos esses instrumentos que serviriam para ser utilizados pelos bombeiros, teoricamente, para estancar o fogo em qualquer um destes pontos, não funcionaram.”Rui Santos, com esta descrição, argumenta que, “em função das condições meteorológicas, em função dos meios disponíveis, em função daquilo que era uma prática, tudo isso tem mudado porque agora a prioridade, e bem, é proteger as pessoas e proteger casas”.Portanto, conclui o deputado, “uma comissão técnica de jeito preparada, independente, que não liga à politiquice, é que pode fazer essa avaliação. O resto é espetáculo.”.“Incêndios foram catastróficos”. Turismo com reservas canceladas até final do ano pede apoios ao Governo.A “revolução” na propriedade rústica. “Está tudo estudado há anos. O que falta é coragem política” .Esperados 38º em Beja. Mais de 50 concelhos de oito distritos em perigo máximo de incêndio