“Incerteza” eleitoral ameaça abrir crise nas lideranças de PS e PSD
Ninguém cede. E nem o Presidente da República, que quer reduzir ao “mínimo” a “incerteza” - a não mais “do que dois meses” porque “a economia, a sociedade e a vida das pessoas” não pode parar e que “tudo tem feito e tudo fará” -, conseguiu travar Pedro Nuno Santos que não recuará, apurou o DN, na garantia que já vem da noite eleitoral de 10 de março do ano passado de “nunca viabilizar uma moção de confiança” do Governo de Montenegro e Nuno Melo.
O mesmo sucede com Luís Montenegro que recusa ser alvo de “desgaste e de suspeição” e da vontade “férrea” do PS em “aprofundar um clima artificial” numa “espiral sem fim” e que não se considera “legitimado” para continuar a governar se “a moção de censura - que será votada na próxima terça-feira - não for aprovada”.
A garantia, várias vezes repetida, do secretário-geral do PS de que “não aprovaremos moções de rejeição e agradecemos, também, que não sejam apresentadas moções de confiança porque também não as aprovaríamos” e a argumentação eleitoral, replicada até nas redes sociais, de que Luís Montenegro está a “atirar o país para eleições” para “fugir à comissão parlamentar de inquérito”, “impedem”, dizem ao DN fontes parlamentares socialistas, a “possibilidade” de “qualquer acordo” ou “entendimento” que evite “umas eleições indesejáveis nesta altura” e sem “certezas” de que o “resultado seja diferente” do das eleições de março de 2024.
A sustentar a ideia de que “assim é arriscar no vazio” e na “incerteza” são recordados os dois argumentos usados por Pedro Nuno Santos para viabilizar o Orçamento do Estado 2025.
“Em primeiro lugar, que passaram apenas sete meses sobre as últimas eleições legislativas; Em segundo lugar, um eventual chumbo do orçamento poderia conduzir o país e os portugueses para as terceiras eleições legislativas, em menos de 3 anos, sem que se perspetive que delas resultasse uma maioria estável”, justificou, a 17 de outubro, o secretário-geral do PS.
Ora, questiona fonte parlamentar ao DN, “qual é a diferença entre sete e 11 meses?” e há agora a “perspetiva de uma maioria estável? Mudou? Não, não mudou”.
Outra fonte dirigente recorda que, nessa altura, foi argumentado que “não obstante” a posição de princípio - a “convicção” de Pedro Nuno Santos de que “a dialética e a bipolarização política se fazem com o PS de um lado e o PSD do outro, e não com uma aliança tática entre o PS e o PSD de um lado e um qualquer partido populista e radical do outro” - foi também dito que “a política exige escolhas, muitas delas difíceis” e que, por isso, foi decidida uma abstenção que permitiu a aprovação do OE2025.
Este novo calendário, refere fonte parlamentar, que trava “a oportunidade de abertura do partido, reflexão e renovação programática, mas também de renovação de pessoas” - como prometido -, também deixa por realizar os Estados Gerais para “ouvir os portugueses”, “construir um programa de progresso económico e social” e manter o partido “focado” nas Eleições Autárquicas que devem acontecer a 28 de setembro.
Apesar da “análise” critica, o garantido é que “ninguém vai, até ao final deste processo” abrir “mais brechas no partido”. O que também é garantido é que “se o resultado” das eleições “for o mesmo” ou “pior” o partido deve antecipar “eleições internas” já que “tudo o que havia para resolver” nas escolhas para as autarquias “já estará fechado”.
No PSD, apesar do “toque a reunir que junta as diversas estruturas” social-democratas e da “esperança” de um “efeito Cavaco”, há a “incerteza” e o “receio” de um resultado eleitoral, dizem ao DN fontes parlamentares, que pode “voltar a afastar” o partido da governação “logo agora que tinha sido quebrado” o ciclo socialista - e isso significa, sustentam, que “também a liderança” do partido “estará colocada em causa”.
Apesar de continuarem as palavras de que só “há eleições se o PS quiser”, a campanha eleitoral já começou.
Paulo Rangel já pediu uma “maioria absoluta” porque o Governo a “merece” e Luís Montenegro, que confirma ser recandidato, disse já acreditar “numa larga maioria” dos portugueses.
“Os portugueses têm por larga maioria uma satisfação com o caminho de transformação que o Governo encetou nos últimos 11 meses”, acredita Montenegro.
O texto da moção de confiança reflete já, por isso, as 10 “transformações” no país que o Governo diz serem a promoção da “estabilidade social, económica e financeira” que “permitiram um rumo virtuoso focado na resolução dos problemas das pessoas e na transformação do País”.
O outro argumento, repetido, está no facto, dizem, de “não ter sido apontada qualquer ilegalidade” pela oposição e pelo PS, em particular.
A moção de confiança é, assim, defende Montenegro “uma última oportunidade aos partidos de concederem, ou não, ao Governo a possibilidade de executar o programa. Se [os partidos] entenderem que não têm condições, terá de ser o povo português a resolver esse impasse”.
Alexandra Leitão, líder parlamentar do PS, reafirma que o partido “não quer uma crise política”, que quer “esclarecimentos” e que não vai aceitar “que nos coloquem em cima esse peso de uma crise que objetivamente não criámos”.
Resta, assim, a “incerteza”, justificam ao DN fontes parlamentares social-democratas, que explica as palavras de Marques Mendes, candidato presidencial apoiado pelo PSD, que pede uma “última tentativa” de Marcelo Rebelo de Sousa “para evitar eleições, para garantir a estabilidade”
O ex-ministro de Cavaco Silva e de Durão Barroso defende “diligências” que passem pela garantia de que Montenegro se compromete a “responder por escrito e à comunicação social a dúvidas que alguns ainda têm relativamente às questões que têm vindo a ser discutidas” sobre a empresa da sua família, que Pedro Nuno Santos “na sequência disso, retiraria a sua proposta de criação de uma comissão de inquérito, e que, por fim, o Governo “retiraria também a sua moção de confiança”.
“Não há garantias nenhumas de que, das novas eleições, se elas existirem, possa sair um parlamento mais governável do que está hoje. Ou seja, é tudo muito a perder. O povo não quer eleições”, justifica o antigo líder social-democrata.
A “boa vontade”, dizem as mesmas fontes parlamentares, reside na “certeza” de que “a incerteza” eleitoral “pode impactar na candidatura” de Marques Mendes - o que “não acontece nem com Seguro, nem com Gouveia e Melo”.
Ao DN, Marcelo Rebelo de Sousa responde a Marques Mendes esclarecendo que “tudo tem feito e tudo fará” para evitar uma crise política. Montenegro acrescenta que o Governo está a “fazer o que [lhe] compete, a dar as respostas e estamos a dar a última oportunidade para que nos deixem executar o programa”.