A Câmara de Sintra recusou um “programa de emergência para a construção de novos lugares de creche”, apresentado pelos vereadores socialistas, que foram os únicos a votar favoravelmente na reunião do Executivo Municipal, realizada na terça-feira. O documento, que prevê 1500 novos lugares para crianças do concelho em 2026, foi chumbado pela maioria PSD-Iniciativa Liberal-PAN que permitiu a Marco Almeida suceder a Basílio Horta, e pelos dois vereadores do Chega que assumiram pelouros, com a maioria de direita a acusar os socialistas de “exigirem o que não fizeram em 12 anos”.A recomendação à Câmara de Sintra, na senda do que foi defendido por Ana Mendes Godinho, cabeça de lista da coligação PS-Livre, durante a campanha eleitoral para as autárquicas de 12 de outubro, visava a aprovação de um programa de emergência para criar seis mil novos lugares em creches, “garantindo igualdade de oportunidades no acesso a esta resposta social a todas as crianças residentes no concelho elegíveis e respetivas famílias”, na medida em que vivem no concelho dez mil crianças nessa idade e que só existem quatro mil lugares. E com a garantia de que 1500 seriam construídos já no próximo ano, sendo geridos por instituições particulares de solidariedade social ou entidades equiparadas.Para o Executivo de direita, eleito após três mandatos de Basílio Horta, em listas do PS, não está em causa que seja necessário reforçar a capacidade das creches do município, que só fica atrás de Lisboa em população. Mas argumenta-se que as metas avançadas pela oposição não são realistas, visto que “as construções demoram e estão a começar todos os processos”. Ao que o DN apurou, o Orçamento Municipal para 2026 prevê o arranque de projetos de construção de creches anexas às estações ferroviárias da Portela de Sintra, de Meleças e de Monte Abraão..Três candidatos acreditam que vão vencer, mas Sintra só dará razão a um.Em declarações ao DN, Ana Mendes Godinho negou que os socialistas estejam a exigir o que não foi feito no passado recente. E deu o exemplo do programa PRR e Pares, que lançou enquanto ministra do Trabalho e da Solidariedade, permitindo abrir 20 mil novos lugares nas creches, entre 2021 e 2024, com dez mil lugares só no ano de 2023. “Graças à alteração da legislação que aprovámos em dezembro de 2023, as creches financiadas com investimento público deixaram de ter processo burocrático de licenciamento e podem ser com construção modular, que se consegue em seis meses”, reforça.A agora vereadora socialista diz que quem não entende que o tema das creches é prioritário “está no mundo errado” e garante que se disponibilizou a explicar como poderiam ser cumpridas as metas que constam do programa de emergência, no qual se recorda que a autarquia apoiou a construção e aumento de lugares em dez creches do município nos últimos três anos, após a criação do programa nacional Creche Feliz. “Neste momento, é preciso acelerar mais lugares, o que, com a nova legislação, é possível e concretizável em pouco tempo. Só é preciso vontade, prioridade, determinação e foco”, defende a antiga ministra, acrescentando que, “se a maioria fica no passado, nós não desistimos do futuro”, ao mesmo tempo que acusa PSD e Chega de se juntarem “para chumbar o que é evidente que tem de ser feito”.A favor da proposta votaram os vereadores socialistas Ana Mendes Godinho, Bruno Parreira, Filomena Pereira e Eduardo Quinta Nova, com votos contra do presidente da autarquia, Marco Almeida, e dos vereadores Andreia Bernardo, Eunice Baeta, Francisco Duarte, Anabela Macedo e Ricardo Pinto, sendo os dois últimos eleitos do Chega. A deputada Rita Matias, que foi a cabeça de lista desse partido nas eleições autárquicas, não participou na reunião, por motivos de saúde.