Devido à paralisação convocada por diferentes sindicatos, não houve comboios a circular em Portugal.
Devido à paralisação convocada por diferentes sindicatos, não houve comboios a circular em Portugal.Foto: Paulo Spranger

Greve “injusta” na CP leva partidos a criticar Montenegro

Com os comboios parados de norte a sul, líder do PSD admitiu mexer na lei da greve. Com os partidos em campanha eleitoral, posição mereceu críticas e Pedro Nuno Santos falou em “autoritarismo”.
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Ao segundo dia de paralisação total, a greve da CP - que parou os comboios em todo o país, segundo a empresa - entrou na campanha eleitoral. E foi logo pelo líder do PSD, Luís Montenegro, que, numa ação na Figueira da Foz criticou a greve, tendo admitido inclusive a hipótese de “influências políticas, partidárias e eleitorais”.

Na manhã desta quinta-feira, o presidente do PSD disse que a greve, convocada pela Fectrans e outros sindicatos, é “injusta” (algo que, na véspera, Miguel Pinto Luz, ministro das Infraestruturas, já fizera) e referiu que o Governo, atualmente em funções de gestão, fez “tudo para evitar” a paralisação, que não tem serviços mínimos decretados. E, com isto, admitiu mesmo a possibilidade vir a mexer na lei que regula o direito à greve. Como e onde, exatamente, o líder do PSD não abriu o jogo, garantindo apenas que este “direito não está em causa” e que não vai “comprimi-lo”.

No entanto, clarificou, as greves não podem ter “uma prevalência tal que o país pare, literalmente”. “Não quero que o direito à greve tenha uma lesão tão significativa de outros direitos e é preciso termos um regime que seja proporcional. Um dia vão ter de pôr cobro a isto”, afirmou Luís Montenegro.

Em reação, Pedro Nuno Santos classificou as declarações como uma “chantagem e ameaça” do Governo aos trabalhadores e criticou a postura de “autoritarismo” do primeiro-ministro. Segundo o secretário-geral do PS, as afirmações de Luís Montenegro são “um insulto à democracia”, uma vez que “o direito à greve é uma das principais conquistas de Abril”.

Respondendo ao líder socialista num comício ao ar livre em Santarém, Luís Montenegro acusou o seu adversário de ser incoerente. "Eu até pensava que isto era relativamente consensual e que aqueles que comentaram a minha observação se lembravam do que diziam. Eu já dizia isto quando estava na oposição, foi talvez ingenuidade minha pensar que outros fariam o mesmo", afirmou, lendo uma passagem, atribuível a Pedro Nuno Santos (sem, no entanto, referir o seu nome): "Vou ler-vos o seguinte: ‘Devemos com cautela, sem pôr em causa direitos constitucionalmente consagrados, refletir sobre a lei da greve, sobre a organização sindical e sobre o abastecimento das nossas infraestruturas críticas’". "Há aqui uma grande dose de incoerência", considerou, recordando que nem ele próprio foi tão longe nas declarações desta quinta-feira.

Já Rui Rocha, líder da IL, não assumiu uma posição definitiva sobre o assunto, mas disse estar “disponível” para avaliar. “Não há leis intocáveis”, mesmo que o “direito à greve” o seja.

À esquerda, Mariana Mortágua, coordenadora do BE, frisou que esta foi a “primeira vez” que o líder do PSD falou de “trabalhadores” na campanha eleitoral e que, quando o fez, foi para “atacar o direito à greve”. “Luís Montenegro não quer saber do trabalho”, atirou.

Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, referiu que as declarações são “uma casca de banana” e pediu soluções ao Executivo: “O Governo alegou que está em gestão para não permitir que a CP assinasse acordo com os sindicatos. O que é preciso é que Luís Montenegro e o seu ministro acabem de uma vez com a greve.”

Por seu lado, a porta-voz do PAN pediu bom senso aos trabalhadores da CP e opôs-se a alterações à lei da greve, que disse ser proporcional. Ainda assim, Inês Sousa Real frisou que o Governo “devia negociar” para impedir esta paralisação.

Sem se referir explicitamente a esta greve, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, disse que é “natural” que estes temas surjam na campanha e evitou comentar as declarações do líder do PSD.

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