O candidato à Presidência da República Gouveia e Melo defendeu este domingo, 28 de dezembro, que os assuntos de Estado não podem estar dependentes das campanhas eleitorais e disse que se fosse conselheiro e candidato teria pedido para ser substituído.“Os assuntos de Estado não podem estar à espera das campanhas eleitorais. A pergunta que se tem de fazer é porque é que um dos nossos candidatos, que é conselheiro de Estado, quando se candidatou não pediu ao senhor Presidente da República para ser substituído”, afirmou Henrique Gouveia e Melo.Gouveia e Melo referia-se a Marques Mendes, sendo ainda conselheiro de Estado o líder do Chega, André Ventura, que também é candidato às eleições presidenciais de 18 de Janeiro.O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, convocou o Conselho de Estado para 09 de janeiro, dez dias antes das eleições presidenciais.Questionado sobre a data, Gouveia e Melo, que falava em Angra do Heroísmo, à margem de uma visita à Feira Agrícola da Vinha Brava, na ilha Terceira, nos Açores, não levantou objeções, mas considerou que não faz sentido que um dos candidatos continue a ser conselheiro de Estado.“Não só porque tem acesso a informação privilegiada, como está numa função de Estado que não é compatível com o facto de ser candidato”, declarou.“Se fosse eu, tinha pedido ao senhor Presidente da República para sair do Conselho de Estado logo que me tivesse candidatado. Isso não aconteceu, acho mal, é a minha opinião, mas é o doutor Luís Marques Mendes que vai ter de pensar se ser conselheiro de Estado e ser candidato em simultâneo é uma coisa boa ou má”, apontou.Com os Açores sob aviso amarelo devido à chuva, Gouveia e Melo chegou à Feira Agrícola da Vinha Brava com uma hora de atraso, justificada com a chegada tardia do avião de São Miguel.Cumprimentou comerciantes e clientes e recebeu o apoio de um ex-combatente em Angola.“O senhor tem três votos na minha casa”, afiançou.Entre histórias de combates e perdas, ouviu também lamentos pela forma como os ex-combatentes são tratados.“A gente devia receber um subsídio em condições do Governo e eles dão uma miséria. Nem chega a 100 euros. Não está a certo”, afirmou.O candidato concordou e reforçou que “há muito tempo que os antigos combatentes são maltratados”.A uma semana do arranque oficial da campanha para as presidenciais, Gouveia e Melo disse que quer “privilegiar os contactos de rua” para se dar a conhecer para além da forma como é “pintado na televisão”.“Não tinha a experiência que outros tinham, mas fiz os debates tentando passar a mensagem. Mas gosto mais disto, de estar junto às pessoas”, referiu.Nos Açores pela segunda vez na pré-campanha, Gouveia e Melo foi questionado sobre o impasse na transferência de verbas do Governo da República para atualizar os acordos de cooperação com IPSS e Misericórdias, que provocou atrasos no pagamento de subsídios de Natal em algumas instituições.“É lamentável que esse tipo de situações aconteça. Andamos com respostas para a terceira idade muito abaixo das nossas necessidades. Há muitas camas hospitalares que são ocupadas como camas sociais, porque não temos respostas para a terceira idade. Julgo que o poder executivo deve ter muita atenção a esta área”, vincou.Questionado sobre a possível extinção do cargo de representante da República nas regiões autónomas, o candidato remeteu a decisão para a Assembleia da República.“É uma discussão que já se prolonga há muito tempo. A pergunta que temos de fazer é: trouxe algum mal ou criou alguma perturbação às relações entre o continente e os arquipélagos? Acho que não”, acrescentou.O candidato visita ainda neste dia um lar de idosos na Praia da Vitória e tem agendada uma ação de rua em Angra do Heroísmo, permanecendo na ilha Terceira até segunda-feira.Na atual legislatura, a Assembleia da República, ao fim de mais de seis meses, ainda não elegeu os cinco membros que lhe compete indicar para o Conselho de Estado.Nos termos da Constituição, os conselheiros eleitos pelo parlamento, em cada legislatura, mantêm-se em funções até à posse dos que os substituírem. Assim, continuam a representar o parlamento Carlos Moedas (PSD), Pedro Nuno Santos e Carlos César (PS) e André Ventura – todos eleitos em 2024.Também fazia parte deste órgão o fundador do PSD e antigo primeiro-ministro, Francisco Pinto Balsemão, que morreu em 21 de outubro.Entre os membros do Conselho de Estado nomeados por Marcelo Rebelo de Sousa, está Luís Marques Mendes, a antiga ministra e atual vice-presidente do PSD Leonor Beleza, a escritora Lídia Jorge, a maestrina Joana Carneiro e o antigo dirigente do CDS António Lobo Xavier.São membros do Conselho de Estado, por inerência, os titulares dos cargos de presidente da Assembleia da República, primeiro-ministro, presidente do Tribunal Constitucional, provedor de Justiça, presidentes dos governos regionais e antigos presidentes da República.