Fim da campanha: Promessas de estabilidade, "governo radical" e regresso de Ventura para "convencer todos"

Fim da campanha: Promessas de estabilidade, "governo radical" e regresso de Ventura para "convencer todos"

Após 13 dias, Pedro Nuno Santos relembra a Spinumviva e insiste no voto útil. Rui Tavares está disponível para dar a mão ao PS e Mortágua apela, tal como o líder do socialista, ao voto dos indecisos.
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A palavra de ordem no último dia da campanha foi "estabilidade", dita tanto por Pedro Nuno Santos como por Luís Montenegro, em momentos diferentes, mas no mesmo local, nas arruadas tradicionais em Lisboa, no Chiado. Também o secretário-geral do Chega, Pedro Pinto, em substituição de André Ventura, que não era esperado no último dia de campanha, afirmou que "o garante da estabilidade do país é o Chega". Depois, na Praça do Município, o líder do Chega surgiu, ainda com pensos nos braços, depois de ter estado hospitalizado, a pedir uma oportunidade para governar, tendo em conta que, disse, "o país chegou a uma imundice tal...".

Foi no Campo Pequeno, tal como aconteceu no ano passado, que Luís Montenegro encerrou a campanha, com um discurso também voltado para "todos", descrevendo o projeto da AD como "interclassista", para todas as classes, "todas as idades", para "toda a gente", e "inter-regional".

O ainda primeiro-ministro disse que o projeto da AD também é transversal, mas centrado em "resolver os problemas de hoje".

Montenegro disse que o programa que propõe "olha para esta geração e quer dar-lhe as bases" para "aprender os valores da nossa sociedade".

"Queremos que aqueles que vierem a seguir a nós sejam melhores do que nós", garantiu, antes de criticar "aqueles que olham para esta visão e pensam que" a AD está "a acenar uma mensagem eleitoralista", acusando-os, sem referir nomes ou partidos, de terem "uma visão da política muito pequenina".

No que diz respeito à economia, o líder da AD disse querer que "em Portugal o mérito seja premiado".

"Se tiverem melhor resultados, a economia vai ser mais competitiva", defendeu, antes de entrar no tema das pensões, prometendo, tal como está no programa da coligação do PSD com o CDS, que o Complemento Solidário para Idosos "vai ser de 870 euros" no final da legislatura.

Para além disto, prometeu que iria tentar atribuir um "suplemento extraordinário quando as finanças públicas o permitirem".

Em relação à subida das pensões e da atribuição deste suplemento, Montenegro assumiu o "compromisso solene" de o fazer, cumprindo o aumento anual de pensões, mas "sem pôr em causa a sustentabilidade da Segurança Social".

Já a encerrar o discurso e a própria campanha, Montenegro teve ainda uma palavra para a imigração, assumindo que Portugal precisa de "reforços, de recursos humanos" e que "acolhemos de braços abertos", com "dignidade e humanismo", mas que "quem não cumprir as regras, quem não estiver legal, vai ter de sair de Portugal".

Logo depois, sem referir nenhum outro partido, lembrou que a AD decidiu "penalizar quem ofende a autoridade dum polícia", ou de quem "está a tratar da segurança, da saúde".

Momentos antes, durante a arruada no Chiado, Montenegro pediu um "último esforço" para as eleições de domingo, para que seja dada "uma oportunidade para garantir a estabilidade".

"Todos os indicadores apontam para que estamos no rumo certo, mas nada está garantido. Temos de levar todos a votar e temos de levar a nossa vitória para darmos estabilidade a Portugal", apelou.

No último dia da campanha, o líder da IL, Rui Rocha, esteve na sua terra natal, em Braga, onde garantiu que saberá lidar com a decisão dos portugueses, seja qual for o resultado das eleições de domingo.

Assim como estivemos à altura das circunstâncias em todos os momentos, a partir da noite do dia 18, saberemos interpretar os resultados, assumiremos as responsabilidades que os portugueses nos quiserem confiar e diremos ‘presente’ portugueses. Sempre com um propósito: transformar o país, mudar o país. Para nós, igual ao que está não é suficiente. Para nós, é preciso muito mais para Portugal”, insistiu.

Com a indicação de que a IL quer “um país de sucesso”, Rui Rocha defendeu que o país poderia ser muito melhor, criando “muito mais oportunidades, muito mais crescimento e muito mais soluções”.

"É por isso que quando vemos os outros envolvidos na pequena política, no dia-a-dia, a olhar apenas para o curto prazo, nós dizemos, quer à AD, quer ao PS: o nosso caminho não é por aí. O nosso caminho é para a frente. Não estamos aqui para perder tempo, estamos mesmo para acelerar Portugal”, afirmou.

Regresso à campanha, contra a "bandalheira"

Com três pensos visíveis nos braços, na sequência da hospitalização recente a que foi sujeito, o líder do Chega disse que a sua "saúde era apenas" um "percalço", e que o que motivava era a missão contra a corrupção. "Vivemos num país inundado de imigração ilegal", atirou, insistindo que a sua saúde era apenas um "pequeno ponto".

O discurso de André Ventura, na Praça do Município, em Lisboa, como se tornou tradição no Chega, encerrou o último dia da campanha com a consciência, alegou, de "que não devia estar" ali, mas afirmou que "não conseguia não estar".

"Não conseguia não estar aqui hoje para conseguirmos cumprir a missão de transformar Portugal", acrescentou.

Com várias alusões ao seu próprio estado de saúde, André Ventura agradeceu a todos os que o apoiaram ao longo desta semana, lembrando que, mesmo quando "já estava a dar sinais de maior debilidade, saíram e lutaram ainda mais". 

"Mostrámos a força deste partido", afirmou Ventura, enquanto assegurava que o Chega "não é um partido de circunstância, nem é um partido do momento. É um partido que não desiste até transformar Portugal e isso é trabalho destes homens e mulheres".

André Ventura, com uma voz aparentemente emocionada, lembrou os seus "internamentos hospitalares" e as pessoas que, nesses momentos, lhe quiseram "muito mal".

"Houve muitos que nos quiseram mal, houve muitos que me queriam morto e acabado e enterrado. Houve muitos que nos quiseram, mas houve muitos mais que nos quiseram bem pelo país todo e houve muitos mais que nos deram força", disse.

André Ventura considerou que é "nestes momentos" que a "luta" que travou "valeu a pena".

"Por isso muita gente me pergunta se quero responder a políticos, comentadores, que disseram que estávamos a fabricar. Se um dia passassem por isto, sentiriam o que é passar por uma dor terrível e tremenda", argumentou, revertendo as críticas que diz terem sido dirigidas a si e ao partido. "Nós devemos responder aos milhares, se não aos milhões, que nos disseram que continuem."

O líder do Chega, lembrando as palavras de incentivo que disse ter recebido ao longo destes dias de ausência da campanha, destacou a missão do partido: "Mudar Portugal."

"Falharam durante 50 anos", acusou André Ventura, garantindo que o Chega vai "conquistar todos, todos, todos, porque o país chegou a uma imundice tal, chegou a uma destruição tal, chegou a uma bandalheira tal que nós precisamos de uma oportunidade para poder governar", apelou, insistindo que o seu objetivo é "convencer todos, todos, todos".

"Viva Portugal", concluiu o líder do Chega, assegurando que no domingo o partido vai vencer as eleições.

Estabilidade, mesmo "sem maioria"

Também foi em nome da estabilidade que Pedro Nuno Santos se dirigiu esta sexta-feira aos indecisos que oscilam todos os anos em PS e PSD, apelando a uma “mudança segura, com estabilidade, que respeita a transparência e a ética da política".

Todos aqueles eleitores, muitos indecisos, muitos que costumam votar no centro, entre o PS e o PSD, alguns que votaram na AD há um ano e que estão envergonhados com o comportamento de quem apoiaram, podem olhar para o Partido Socialista como um partido em quem se possa confiar”, sustentou o lidero do PS, antes de acenar com a possibilidade de Portugal poder vir a ter um "governo radical" protagonizado pela AD em coligação com a IL.

Dirigindo-se novamente aos “muitos desses portugueses que vão votando entre o PS e o PSD", Pedro Nuno Santos disse saber que essas pessoas também "não querem um governo radical da AD com a Iniciativa Liberal”.

Por este motivo, o líder socialista apelou a que, no domingo, "ninguém fique em casa" para que os portugueses não acordem segunda-feira "com um governo da AD com a Iniciativa Liberal, que seria um Governo radical que atacaria o Estado Social". "Vamos travá-los e vamos vencer", prometeu.

E, nesta fase, Pedro Nuno Santos garantiu que pretende fazê-lo sozinho, porque, justificou, não falou com nenhum outro partido, tendo optado por falar apenas "com o povo".

"O único contrato que nós fazemos é com o povo português, com os portugueses, não há mais nenhum para além desses”, garantiu, ainda que, depois das eleições, se centre na solução de estabilidade.

"Depois com o parlamento que sair das eleições, nós com certeza garantiremos uma solução de estabilidade para quatro anos. Já mostrámos que somos capazes de fazer isso, eu próprio já mostrei que sou capaz de fazer isso e vamos fazer isso”, sublinhou.

Questionado sobre qual seria a sua prioridade caso fosse convidado a formar governo, Pedro Nuno Santos disse pretender “retomar a reforma do SNS" que o PS estava a fazer, porque, justificou, "é preciso salvar o SNS, mas é também preciso garantir que construamos casas, que restabelecermos o apoio extraordinário às rendas que este governo cortou e, sobretudo, dar confiança a segurança ao povo português”.

Toda esta análise será independentemente de uma maioria, até porque, argumentou, o “PS mostrou ao longo da sua história que tem a capacidade de construir soluções de estabilidade governativa, mesmo quando não tem maioria absoluta”.

Antes da descida do Chiado, no tradicional almoço na Trindade, Pedro Nuno Santos contou com o apoio do antigo candidato presidencial socialista Manuel Alegre, que defendeu que "as eleições não se ganham com sondagens, as eleições ganham-se nas urnas". "Vamos levantar as nossas bandeiras, vamos erguer o punho do PS, vamos lutar pelo socialismo democrático e vamos ganhar as eleições”, frisou.

Na sua intervenção final durante a campanha, e a uma hora do dia da reflexão, insitiu numa vitória e voltou a acusar Montenegro de ter sido o responsável pelas eleições antecipadas.

"Foi uma grande campanha. Foram umas eleições provocadas por quem não quis dar explicações. Também por isso, mas não só por isso, eles vão perder as eleições e nós vamos ganhar. Vamos ser nós a garantir estabilidade", garantiu o líder socialista numa festa na sede nacional do PS, no Largo do Rato, acrescentando que "além de derrotar a AD", o PS vai "derrotar as sondagens pela terceira vez".

"Além de não serem sérios, mostraram que eram incompetentes. Vão perder também porque deixaram a saúde pior do que há um ano. Têm de ser penalizados por isso. Enganaram sistematicamente as pessoas", acusou.

No entanto, o PS, a julgar pelas palavras do porta-voz do Livre, Rui Tavares, não precisa de ficar isolado, caso cumpra sete desígnios impostos pelo partido.

“O PS, no último dia da campanha, ainda pode dizer que sim às condições que o Livre estabelece”, disse Rui Tavares, durante uma ação no Palácio de Cristal, no Porto, lembrando que, caso o PS esteja disponível para esta aproximação, teria de ter em conta que um primeiro-ministro não pode ter empresas como a Spinumviva, os ministros devem ser auditados antes de assumir funções, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não pode ser privatizado, o investimento deve ser reforçado na educação e habitação, para além de ainda ser fundamental dar apoio à Ucrânia e reconhecer a independência da Palestina.

Assumindo uma distância face ao "governo das confusões de Luís Montenegro", Rui Tavares explicou que “estas sete condições são muito claras", pelo que o PS ainda iria "muito bem a tempo de dizer neste último dia que" as aceita, "para dar esperança às pessoas”.

Sem estabelecer metas eleitorais, Mariana Mortágua, tal como o líder do PS, apelou ao voto dos indecisos, com o objetivo de tentar obter o "máximo de deputados possível".

"Eu sei que em cada pessoa que ainda não decidiu há uma preocupação com o direito à habitação, há uma preocupação com os baixos salários em Portugal, há uma preocupação com as longas horas de trabalho. E eu quero dar uma resposta a essas pessoas e dizer-lhes que o Bloco vai estar lá e defender o direito à habitação”, assegurou, esta sexta-feira, também numa ação também no Porto.

A coordenadora do Bloco de Esquerda teve ainda oportunidade de se voltar para os partidos à direita, lembrando que o Parlamento “já teve tantos deputados que, para além de serem mal criados e de insultarem, não fizeram mais nada para defender as pessoas. Defendem só os interesses especulativos, o modelo dos baixos salários”, acusou.

“Nós queremos virar esse jogo e queremos dar esperança ao país e queremos mudar a vida das pessoas e, para isso, o voto conta e o voto determina e é por isso que nós apelamos a este voto”, garantiu.

Apelamos a todos os indecisos, apelamos a quem já votou BE, a quem vota BE, a quem ainda não pensa votar BE mas também não decidiu e vai decidir no domingo, confie. O BE tem as soluções, nós podemos baixar o preço das casas, nós podemos respeitar quem trabalha tantas horas, nós vemos este país, nós vemos quem nunca é visto, os invisíveis deste país”, completou.

Mais tarde, no encerramento do último dia da campanha, Mariana Mortágua evocou "a força de quem une", lançando farpas à ideia de voto útil, que já foi várias vezes defendida por Pedro Nuno Santos e por Luís Montenegro.

"Por isso, nós sabemos que no domingo vamos contar voto a voto. Nós sabemos que no domingo todos os votos contam, voto a voto. E por isso, a toda a gente, a toda a gente queremos dizer, em muitos distritos como este, em Setúbal, no Porto, em Lisboa, em Aveiro, em Leiria, em Coimbra, decide-se tudo. Em Braga, decide-se se há um deputado do Bloco de Esquerda ou um da extrema-direitaSe há um deputado do Chega da Iniciativa Liberal ou um do Bloco de Esquerda", insistiu.

Com a segurança de que a CDU só pode subir, independentemente do que indicam as sondagens, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, mostrou-se "muito confiante" em relação a domingo.

“As previsões estão todas mal, porque a CDU só pode subir. Não há nenhuma dúvida que a CDU vai subir. Aqui, a grande questão é subir até onde. Essa é, talvez, a grande incógnita deste dia”, garantiu, acrescentando que tudo aquilo que a coligação entre o PCP e o Partido Ecologista Os Verdes (PEV) defende "está em profunda ligação com a vida das pessoas. Isso dá-nos uma grande tranquilidade, não só porque acertamos naquilo que é fundamental, como achamos que é isso que vai fazer diferença na vida das pessoas.”

O apelo ao voto feito por Paulo Raimundo tinha como objetivo chegar aos “indecisos e os não indecisos", para que votassem "com a sua vida" e "com os problemas que enfrentam todos os dias, no Serviço Nacional de Saúde, nos salários, nas pensões, na habitação, na precariedade".

"Se votarem com isso, então vão ter de dar mais força à CDU e isso abre um caminho de esperança para o futuro”, assegurou.

“Não votem na Galp, não votem na EDP. Votem nas vossas vidas”, apelou.

Também foi contra o voto útil que a porta-voz do PAN centrou parte do seu discurso final nesta campanha. Inês de Sousa Real, emocionada, lembrou que "os portugueses que" ouviu "nas ruas querem uma sociedade mais empática, querem uma sociedade mais sustentável, mais justa social e ambientalmente, não querem um regresso ao passado".

"Temos mesmo de afastar o fantasma do voto útil nos grandes partidos e mostrar que útil é votar nas causas em que acreditamos", apelou.

Com lágrimas nos olhos, Inês de Sousa Real disse que não podia imaginar que, "de facto, vivêssemos tempos tão difíceis, com as guerras, na Ucrânia, na faixa de Gaza, com tantas crianças a morrer, com tantas mulheres a serem violadas como arma de guerra".

"Não imaginei que teria a responsabilidade, não uma, não duas, mas, pelos vistos, pela terceira vez, de tentar que o PAN tenha um grupo parlamentar. Ter um grupo parlamentar significa dar mais força às causas que o PAN representa. Sabemos que os deputados não são todos iguais, e sabemos, acima de tudo, que as pessoas que estão no PAN são muito diferentes daquelas que estão na Assembleia da República", concluiu.

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