OLivre consolidou-se nas Legislativas de maio, conseguindo seis deputados, e continua a tentar solidificar as bases no panorama político nacional. Até em termos estatutários. Para o efeito, o Livre reúne comissões que afinem regras, até de adesão ao partido, face ao enorme número de pessoas que manifestaram interesse em juntar-se à causa ecológica, europeísta e de esquerda. De 2700 membros e apoiantes em janeiro, ascendem agora a 3200 os militantes do Livre, com uma fase de espera maior do que a norma as solicitações. “Serão cerca de 1500 inscrições feitas desde as eleições de maio”, revela Pedro Mendonça, parte do Grupo de Contacto de 2015 a 2022 e antigo co-porta-voz, ao Diário de Notícias, precisando que existe uma “validação dos candidatos nas redes sociais”, procedendo-se a um questionário, um pedido de “biografia e aceitação dos valores do partido” e ainda a verificação de outros antecedentes políticos, retratando que a maioria dos interessados vem do “Litoral”, com impacto decisivo de “Lisboa, Porto, Setúbal e Aveiro”. Se todas candidaturas vierem a ser aprovadas, o partido pode chegar ao fim do ano com cerca de 4200 membros e apoiantes.O crescimento é inequívoco, pois o Livre ganhou mais de 900 pessoas, entre membros e apoiantes, em 2024. “1000 destas inscrições são de pessoas abaixo dos 30 anos, logo não é assinalável o número de pessoas que esteve noutros partidos. É mesmo uma tendência serem pessoas da sociedade civil, da Ciência, por exemplo. Além disso, com tantas pessoas abaixo dos 25 anos não tinham tempo para terem pertencido a outros partidos”, detalha Mendonça, recusando a migração de alguns militantes de partidos como o Bloco de Esquerda ou PAN. O crescimento, porém, levanta preocupações e obriga a correções, até a pensar nas Autárquicas: “Há uma espera maior nesta fase. É preciso uma validação atenta. Queremos que pessoas fora do partido possam ser candidatos e possam votar para os candidatos do partido e isso não está em causa. Mas tentámos evitar que em Lisboa se possa determinar quem é o candidato no Porto. Portanto, quem vota no Porto terá o dobro do peso na votação local em comparação aos votos dos membros de outros locais”, explicita o também cabeça de lista do Livre ao município de Santarém, que vinca a importância dos próprios 14 Núcleos Territoriais para escolha de candidatos nos respetivos locais, um pouco como fazem, por exemplo, as concelhias e distritais de PS e PSD. Dá o seu próprio exemplo: “Candidatei-me e este grupo de coordenação local de Santarém decidiu, sem votos contra, que era o meu nome a ir a plenário, onde todos os membros e apoiantes que participam. Depois, a situação vai à Assembleia do Livre e pode haver o que dizemos ser a ‘bomba atómica’, que é o grupo de contacto, a Direção, por unanimidade contrariar todos estes grupos.”A grande diferença no Livre, e que pode ser tida como um incentivo aos independentes, é a possibilidade de candidatura sem assinaturas ou encaminhamento de outro militante. Após a votação nas primárias, faz-se a ordenação, que tem de respeitar a paridade de género. No caso de haver mais de seis candidaturas, procede-se a uma segunda volta, com três homens e três mulheres. Só são contabilizados votos de pessoas externas ao partido até perfazerem 50% dos votos de apoiantes e membros. É, no fundo, um aperto à candidatura individual, mas garante maior critério em pessoas que representem os ideais do partido. Devido a este crescimento e à utilização de primárias como apelo à cidadania participativa, o Livre procurará passar dos dois vereadores e irá concorrer em cerca de 50 municípios: metade em listas próprias e a outra metade em coligação. No congresso de dia 6 e 7 serão discutidas algumas apostas e políticas desses mesmos candidatos.A questão PaupérioFrancisco Paupério, para as Europeias, foi o candidato mais votado nas primárias, consolidando a vitória com vários votos únicos, que lhe entregavam dez pontos. As restantes cinco opções, em muitos casos, não foram escolhidas, aumentando a vantagem do biólogo para outros. Agora, os membros têm de elencar seis nomes, por ordenação, nas primárias e na segunda volta para que a sua primeira escolha recolha pontuação máxima. “Paupério é eleito numa altura em que os votos externos do colégio eleitoral valiam tanto como os votos internos. Agora está pacificado no partido, é um bom candidato e ganhou de forma legal. Mas foram feitas correções. Ficou destacadamente à frente nos votos externos e com votos únicos. Agora tens de preencher o boletim com mais nomes, senão é invalidado o voto. Teve esses votos isolados e no colégio interno, se não estou em erro, foi terceiro. A comissão eleitoral considerou que teria de perceber o que se tinha passado, se havia concertação de votos. O Francisco recorreu para o Conselho de Jurisdição e o Conselho de Jurisdição analisou e disse que não havia como provar essa decisão da comissão eleitoral”.Apontamentos sobre a organização do LivreMembros e apoiantesMembros e apoiantes têm direitos semelhantes em muitos casos, tanto em votações de candidatos como apresentação de candidaturas. Os apoiantes não podem ser eleitos para os órgãos máximos do partido nem participar em revisões de estatutos.Alteração de votoSó votando em seis nomes se consegue a pontuação máxima para o primeiro lugar. Dando menos força ao voto em apenas um candidato. Agora, nas Autárquicas, os votos do distrito valem o dobro dos votos que venham de fora.IndependentesSem exigir listas de apoio e assinaturas, os independentes são mais incentivados a candidatar-se. Estas candidaturas serão validadas pelos membros. Os independentes não podem ser eleitos nem votar para os órgãos do partido.Núcleos territoriaisO Livre tem Núcleos que, tal como concelhias e distritais, podem aceitar determinada candidatura a um concelho, no caso de não existirem candidaturas a primárias. Mas essa é votada no Plenário do Núcleo e na Assembleia do partido.