Inês de Sousa Real é a líder do PAN.
Inês de Sousa Real é a líder do PAN. Foto: Leonardo Negrão

Dezenas de militantes abandonam PAN: "Partido desvirtuou o seu ideário"

"Quando deixa de haver coerência ideológica, não faz sentido continuar. O PAN desvirtuou o seu ideário", criticou a antiga deputada Bebiana Cunha, uma das militantes que se desfiliaram neste sábado.
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Dezenas de militantes do PAN, Pessoas-Animais-Natureza, apresentaram este sábado, 1 de novembro, a sua desfiliação do partido. Entre os que saem estão ativistas, autarcas e dirigentes nacionais e regionais, incluindo a antiga deputada Bebiana Cunha, que confirmou à agência Lusa ter deixado o partido que ajudou a construir.

“Quando deixa de haver coerência ideológica, não faz sentido continuar. O PAN desvirtuou o seu ideário. Em 2011 falávamos em ‘Dar valor aos valores’, trazer a ética para a política. Esse projeto falhou. Hoje, a quantidade parece mais importante do que a qualidade”, afirmou Bebiana Cunha.

A ex-deputada, que se filiou no PAN em 2011 e chegou a liderar o grupo parlamentar em 2021, sublinhou que a decisão “não foi tomada de ânimo leve”. A palavra que melhor resume o sentimento entre os que saem, disse, é “desilusão”.

“Vemos o partido a afastar-se do seu ideário, a fazer coligações sem coerência e a perder o foco ético que o distinguia. Falta autocrítica. Há uma negação da realidade e uma ausência de análise sobre a perda de representatividade”, lamentou, à Lusa.

As saídas acontecem poucos meses depois de uma carta aberta, divulgada em julho, onde antigos dirigentes pediam uma reflexão interna e alertavam para o afastamento dos “valores fundadores”. Entre os 35 signatários estavam nomes como Anabela Castro, Nuno Pires, Miguel Queirós e Carolina Pia.

Num novo comunicado hoje divulgado - assinado por cinco ex-militantes, incluindo Bebiana Cunha e Miguel Queirós -, os signatários afirmam que “o PAN deixou de ser quem era: a única plataforma onde as causas e o ativismo comprometido alguma vez convergiram numa estrutura política organizada”.

Segundo a Lusa, os subscritores recordam ainda que o congresso eletivo do partido, previsto para maio de 2025, ainda não se realizou, o que consideram colocar o PAN “numa situação de ilegalidade estatutária”.

A escolha do Dia Mundial do Veganismo para anunciar a saída foi, segundo os ex-militantes, simbólica. “Trata-se de uma desfiliação coletiva, ética e simbólica, que pretende apelar à reconstrução de espaços políticos verdadeiramente horizontais, empáticos e democráticos”, pode ler-se na nota.

Em resposta, a direção do PAN reagiu também em comunicado, garantindo que “o partido tem registado um aumento constante de novas filiações” e minimizando o impacto das saídas.

As desfiliações agora formalizadas dizem respeito a militantes afastados da vida ativa do partido há meses ou anos. Algumas destas pessoas chegaram mesmo a apoiar candidaturas concorrentes nas últimas eleições, o que viola os estatutos. Este é apenas o encerramento natural de um ciclo pessoal e político”, lê-se na resposta da direção.

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Opositor de Inês Sousa Real desfilia-se do partido e PAN justifica saída ao DN

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