Deputado regional da IL diz que expulsão de Mayan "não passa de uma espécie de fogueira inquisitorial"
O deputado único da Iniciativa Liberal na Assembleia Legislativa Regional da Madeira, Nuno Morna, que não se candidatará nas eleições antecipadas para 23 de março, descreveu a decisão do Conselho de Jurisdição, anunciada pelo partido pouco antes, na manhã desta quarta-feira, de expulsar Tiago Mayan Gonçalves, por falsificar assinaturas quando era presidente da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, como "uma espécie de fogueira inquisitorial".
"A expulsão de Tiago Mayan Gonçalves da Iniciativa Liberal, que querem fazer passar por um ato de justiça purificadora, não passa afinal de uma espécie de fogueira inquisitorial com menos fumo e mais burocracia. É a pressa de um partido que, na ânsia de se mostrar impoluto, se esquece de que o liberalismo, se for coisa séria, se for coisa verdadeira, se for coisa com memória e com ossos, não se pode reduzir a um jogo de tabuleiro onde se deitam peças fora à primeira irregularidade", escreveu Nuno Morna, no texto "A frieza dos puros", que começa pela garantia de que considera a falsificação de assinaturas "indesculpável".
Tiago Mayan demitiu-se da presidência da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, para a qual tinha sido eleito nas listas do movimento independente de Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, em novembro de 2024, depois de assumir ter falsificado assinaturas dos membros do júri do Fundo de Apoio ao Associativismo e do orçamento colaborativo, que implicavam a transferência de verbas da Câmara do Porto para a União de Freguesias, alegando tê-lo feito para que não se falhassem os prazos.
No texto que partilhou no Facebook, Nuno Morna defende que "o liberalismo, se ainda for liberalismo, deve ser antes de tudo humanista, e um humanismo que não sabe perdoar é só outra forma de fanatismo". E, embora reconheça ser "justo exigir responsabilidades" ao antigo candidato presidencial e fundador da IL, acusa os órgãos do partido de, com "a inflexibilidade dos seus próprios princípios", deixar de compreender que errar é humano, e que "o perdão, às vezes, é mais revolucionário do que o castigo".
"Quando a punição se torna em falta de sentimento, quando a firmeza se transforma em dureza, quando a justiça se confunde com vingança, o que sobra senão um tribunal sem alma?", pergunta o ainda deputado regional madeirense, defendendo que, "apesar dos seus desvios e do que fez", Tiago Mayan Gonçalves "é um de nós".
A decisão da Comissão Acusatória do Conselho de Jurisdição da IL foi divulgada pelo partido na manhã desta quarta-feira, levando Tiago Mayan Gonçalves a denunciar "a postura assumida pelo partido na publicitação" daquilo que defende ser uma decisão provisória. E acrescentou que o processo disciplinar e a decisão "já estariam definidos à partida", pelo que a apresentação da sua defesa "terá assumido um carácter meramente formal".
"Vejo-me compelido a concluir que os argumentos aduzidos em sede de defesa não terão sido objeto de uma ponderação substancial, estando o desfecho já predeterminado, em conformidade com as intenções publicamente anunciadas por representantes da estrutura partidária", disse o ex-presidente da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, aludindo ao facto de o presidente da IL, Rui Rocha, ter dito, em novembro de 2024, que a consequência do procedimento disciplinar, na sequência de notícias que "imputam condutas inaceitáveis ao senhor Tiago Mayan", poderia ser "obviamente" a expulsão.
Quanto à possibilidade de vir a recorrer da decisão do Conselho de Jurisdição da IL, Mayan Gonçalves confirma a intenção de "prosseguir com as diligências adequadas perante instâncias, internas ou externas, com legitimidade para decidir", indiciando que pode recorrer aos tribunais. E reforça críticas à "narrativa única que, até ao momento, tem sido mediaticamente perpetrada", alegadamente com o objetivo "previamente definido de me afastar do partido, custe o que custar".