O primeiro-ministro, há uma semana e meia, tinha garantido que estaria disponível para ser escrutinado, a propósito do momento em que o Governo tinha ativado o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, no âmbito dos incêndios que já estavam a lavrar em Portugal. E foi isso que procurou fazer esta quarta-feira, 27 de agosto, no Parlamento, face às críticas dos partidos. Foi assim que Luís Montenegro deixou a garantia de que, junto com a ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, esteve “sempre ao leme, a acompanhar a situação no terreno e a coordenar as ações políticas”, que eram a sua “responsabilidade”.“Estivemos antes, estivemos durante e estamos depois de cada ocorrência”, reforçou Luís Montenegro, ainda que a perceção dos partidos tenha sido noutro sentido.Para justificar estas afirmações, o chefe do Governo evocou o “maior [dispositivo de combate aos incêndios] de sempre”, que envolve “76 meios aéreos, mais 869 operacionais do que no ano passado e mais 238 veículos de combate”.“Apesar das taxas de sucesso da intervenção inicial serem superiores a 93% e da resposta chegar em média 15 minutos após a notícia da ignição, a verdade é que não conseguimos evitar grandes incêndios, quer do ponto de vista da dimensão, quer do ponto de vista da duração”, reconheceu Montenegro. Apesar de tentar dar a mão à palmatória neste capítulo, mais tarde, na sua intervenção final, o primeiro-ministro considerou “que é injusto e é falso o argumento que é utilizado de que foram retiradas verbas” à floresta, tal como indicara o líder do PS, José Luís Carneiro, e a líder do BE, Mariana Mortágua, que referiram 120 milhões de euros que tinham sido retirados a este setor.A primeira palavra de Montenegro no debate foi de “pesar”, para as vítimas dos incêndios, referindo depois todos os agentes do dispositivo, incluindo bombeiros, forças de segurança e outros agentes.“Felizmente não se esqueceu dos bombeiros”, ironizou o líder do Chega sobre a intervenção do primeiro-ministro, antes de atacar o Governo por Portugal não ter no terreno nenhum avião Canadair enquanto, sublinhou, a Grécia, com menor população, tem 17. “Incompetência”, disse André Ventura para classificar a ação do Governo.“Não vale a pena ir ao Pontal [rentrée do PSD, no Algarve] falar de Fórmula 1, quando perdemos o mais útil, que é a vida das pessoas”, criticou, acabando por, mais tarde, prometer também que haveria uma comissão parlamentar de inquérito aos incêndios, “doa a quem doer”.Mudar o tom do debateMais tarde, uma troca de argumentos entre o líder do Chega e a líder do BE acabou por afastar o debate do seu propósito inicial. Enquanto Mariana Mortágua − tal como o tinha feito Hugo Soares − referiu “o raminho” que André Ventura utilizou num vídeo nas redes sociais para “fingir” que tinha andado a apagar incêndios, o líder do Chega retorquiu com: “A senhora deputada vai duas semanas para Gaza fingir que vai fazer alguma coisa.”Com uma referência, entre outras corporações, aos “bombeiros do Fundão” e “da Covilhã”, André Ventura afirmou que, “se tiver que escolher entre os que vivem em Gaza” e os seus, escolherá sempre os últimos.“Vá como uma mulher livre que é e vai ver que não vão gostar de si”, numa referência ao Hamas, que, afirmou, é um governo que “não defende ninguém, nem minorias, nem LGBT, nem mulheres”.Por seu turno, antes destas palavras, a líder bloquista afirmara que “há uma diferença entre ajudar os bombeiros e ridicularizar os bombeiros”, acusando André Ventura de ter “gozado” com eles quando fez o vídeo.“Insensibilidade” e “falta de humildade”O líder do PS, depois de um momento inicial em que hesitou dar o sinal para a sua intervenção a José Pedro Aguiar-Branco, lembrou a Luís Montenegro que o primeiro-ministro tem direito a “férias, mas para a população portuguesa foi incompreensível” não ter adiado a Festa do Pontal numa altura em que já tinham começado os incêndios florestais.José Luís Carneiro lembrou que já esteve no Parlamento a prestar contas, na qualidade de ministro da Administração Interna, e que por isso compreendia, mas não deixou de assinalar a ausência do ministro da Agricultura no debate.Vincando que, pelo PS, “este debate não teria ocorrido”, porque ainda não era o momento de fazer esta avaliação, José Luís Carneiro lembrou que Montenegro quis que “o debate se realizasse hoje [ontem]”.Foi com esta ideia em mente que o líder socialista falou em “insensibilidade” do primeiro-ministro, não só pelo Pontal mas na forma como geriu a prevenção e por ter decapitado “várias estruturas intermédias [na Proteção Civil] por razões partidárias”.José Luís Carneiro referiu “menos de 4 mil ações de fiscalização” preventivas de limpeza para continuar a acusar o primeiro-ministro de falta de sensibilidade.O líder do PS assinalou também a “falta de humildade” de Montenegro por não ter ouvido a “proposta que” José Luís Carneiro lhe fizera “no dia 1 de agosto, para ativar o Mecanismo Europeu de Proteção Civil”.Depois, veio a acusação de “incompetência”, por “o responsável desta pasta”, da Administração Interna, não ter estado “sempre com a Proteção Civil e a Guarda Nacional Republicana”.."Inimigo enorme" do Governo e acusações de incompetência. Debate acaba com "bombeiros ridicularizados" e Gaza.Montenegro dá explicações aos deputados com a CPI à espreita