Das vacinas à entrada na corrida a Belém: a cronologia da candidatura presidencial de Gouveia e Melo
Paulo Spranger / Global Imagens

Das vacinas à entrada na corrida a Belém: a cronologia da candidatura presidencial de Gouveia e Melo

Depois de ter ficado conhecido a coordenar a vacinação contra a covid, almirante é candidato a Presidente. Em 2021, disse que seria "um péssimo político" e que a democracia não precisava de militares.
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Era o segredo mais mal guardado da política nacional e, esta quinta-feira, ficará oficializado: Henrique Gouveia e Melo formaliza, pelas 19h30, a sua candidatura à Presidência da República.

A candidatura a Belém, agora comunicada de forma pública, há muito que se perspetivava. E até acabou por entrar na campanha eleitoral para as legislativas, quando, em declarações à Rádio Renascença, Gouveia e Melo acabou por confirmar a candidatura a Presidente da República.

Mas o percurso do almirante (agora na reserva) começou em 1984, ao serviço da Marinha, onde se manteve até 2024, quando cessou funções enquanto Chefe do Estado-Maior da Armada.

Com uma carreira dedicada aos submarinos, Gouveia e Melo passou para a ribalta na pandemia de covid-19, quando o Governo de António Costa o nomeou coordenador da task force que planificou e delineou a estratégia de vacinação no país. A 3 de fevereiro de 2021 assumiu essa função, que lhe valeu um reconhecimento público generalizado.

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Gouveia e Melo: “Não me sinto obrigado a ficar calado”

Como forma de reconhecer a sua carreira militar, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou-o em agosto de 2021 com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis.

No final desse ano, foi promovido a almirante e assumiu a chefia da Marinha. Mas não sem polémica à mistura, uma vez que o seu antecessor, Mendes Calado, foi reconduzido no cargo, sendo depois demitido pelo ministro João Gomes Cravinho, que o fez sem informar o Presidente da República.

Curiosamente, nessa altura, afastava uma entrada na política. Considerando que "a democracia não precisa de militares", Gouveia e Melo (que também defendeu que daria um "péssimo político") foi ainda mais longe e confrontado com as suas declarações (onde disse esperar não "cair na tentação" da política) e afirmou: "Se isso acontecer, deem-me uma corda para me enforcar."

Pelo meio, o mandato enquanto máximo responsável pela Marinha ficou marcado pelo caso dos militares do navio NRP Mondego, que a 11 de março de 2023, se recusaram a embarcar numa missão de vigilância e acompanhamento de uma embarcação russa, alegando que o navio português não tinha condições de segurança para sair para o mar.

Gouveia e Melo repreendeu publicamente os militares, a quem foi aplicada uma suspensão de serviço de 10 a 90 dias (consoante o posto e antiguidade de cada um), que viria a ser anulado em dezembro de 2024 pelo Tribunal Central Administrativo.

A 27 de dezembro, Gouveia e Melo passaria à reserva - tendo assim o caminho livre para Belém, como o próprio assumia indiretamente. Numa visita a uma cerimónia nas instalações da Marinha, o almirante dizia ser "altura de fechar um capítulo" da sua vida e iniciar "outro" (qual, em concreto, não especificou).

"O primeiro sentimento é de perda, de perda de uma vida. O segundo sentimento, o futuro o marcará, não sei ainda", dizia então.

"Entre o socialismo e a social-democracia" e sem "obrigação" de estar "calado"

Desde que passou à reserva, Gouveia e Melo teve várias intervenções públicas, desde entrevistas a artigos publicados em jornais.

Neste último caso, o almirante escreveu um artigo para o Expresso, em fevereiro, onde se apresentava politicamente - ainda que sem falar em eleições presidenciais. Aí, Gouveia e Melo dizia situar-se "entre o socialismo e a social-democracia", defendendo a "democracia liberal como regime político".

Mais recentemente, numa entrevista ao DN, Gouveia e Melo dizia não ter a "obrigação de ficar calado" e que "o facto" de não ter assumido, na altura, a sua candidatura não lhe retirava o "direito de intervir publicamente ou responder a convites pontuais e expressar o que penso sobre determinados assuntos".

A dúvida ficou então desfeita a 14 de maio, a quatro dias das eleições legislativas, quando disse que a decisão era a de "avançar". Apesar do timing, que justificou ao DN com o facto de "o conjunto alargado de pessoas que sabiam tornava impossível manter em segredo". Assumindo que "não queria interferir", Gouveia e Melo prometeu depois: "Não farei mais declarações até ao fim das eleições."

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