Gouveia e Melo: “Situo-me politicamente entre o socialismo e a social-democracia”
Num aSem ainda confirmar que é candidato à Presidência da República, o almirante Henrique Gouveia e Melo escreveu um artigo para o Expresso onde revela o seu posicionamento político: “Situo-me politicamente entre o Socialismo e a Social-Democracia, defendendo a Democracia Liberal como regime político.”
Numa espécie de manifesto eleitoral, falou ainda dos “tempos perigosos” que vivemos, “com atores poderosos a tentar subverter a ordem mundial em função dos seus interesses”. “A ameaça já não vem apenas do Leste; surge agora de todas as direções, num cenário de 360 graus. Os valores fundamentais da ética republicana e das democracias liberais estão a ser postos em causa, inclusive por aliados historicamente próximos”, escreveu, numa aparente referência ao novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O ex-Chefe de Estado Maior da Armada, agora na reforma, traçou também uma espécie de perfil que entende que o Presidente da República deve ter. “Agora, mais do que nunca, a liderança, a capacidade de decisão e a coesão nacional poderão revelar-se fatores críticos para o sucesso ou, pelo contrário, para o fracasso das nossas sociedades”, acrescentando que “não basta sonhar ou recorrer a discursos elaborados, repletos de fórmulas gastas e banalidades cínicas”. “É essencial saber fazer, apontar caminhos, ultrapassar obstáculos, decidir com base em evidências e ter a coragem de explicar, envolver e agir”, afirmou.
Gouveia e Melo considera que, aos atores políticos, “exige-se, acima de tudo, responsabilidade, transparência e coragem”. “O sistema político deve impedir a degradação das instituições e evitar o perigoso descrédito do regime democrático”, vincou.
O antigo militar considera que o Presidente da República "não está ao serviço dos partidos, está ao serviço dos portugueses e de Portugal" e "garante a Constituição, a união e a integridade do país e é, por isso, um poder-contrapoder de um sistema democrático equilibrado ao serviço da liberdade, segurança, equidade e prosperidade dos portugueses e, consequentemente, de Portugal".
Num aparente distanciamento de Marcelo Rebelo de Sousa, refere que o poder de convocar eleições antecipadas "só deve ser exercido quando existir a forte convicção que o contrato entre governados e governantes foi significativamente comprometido: por uma perda de confiança insanável do povo no Parlamento e/ou no Governo em funções; por um desfasamento grave entre os objetivos-prática do Governo e a vontade previamente sufragada pelo povo; ou por uma tentativa de usurpação de poder e subversão da Constituição, à margem da lei".
Gouveia e Melo manifestou ainda que não se revê nos extremos: "Sendo a democracia tolerante por natureza, não deverá, em defesa própria, permitir ideias e práticas intolerantes, sob o risco de estas comprometerem a própria democracia."
"Importa também considerar que nenhum Presidente pode ser verdadeiramente 'de todos' se estiver claramente associado a uma fação política, pois não terá a independência necessária para representar o interesse coletivo. Um sistema político sem pesos-contrapesos é um sistema mais frágil, sem escrutínio e, consequentemente, mais vulnerável aos ventos que sopram hoje, da radicalização e da proliferação de ideias autocráticas e iliberais", acrescentou.
O almirante explica ainda que defende uma "Justiça célere, que se distancie do espetáculo mediático e do julgamento na praça pública, uma Justiça que inspire confiança e segurança e não receio e instabilidade nos cidadãos", uma "administração pública independente e competente, centrada nos cidadãos e liberta de alinhamentos partidários, para lá da orientação política legítima dos governos" e uma "economia de mercado livre", sem a condução mas apenas a intervenção "na medida do necessário" por parte Estado.