O coordenador do Conselho de Jurisdição Nacional (CJN) do PAN, Jorge Silva, demitiu-se do cargo, no final de novembro, por considerar existirem ilegalidades no regulamento e no processo eleitoral do Congresso Nacional do partido, marcado para este sábado.Numa carta datada de 6 de dezembro, e esta sexta-feira, 19 de dezembro, consultada pela Lusa, dirigida à Comissão Política Nacional (CPN), ao CJN e à Comissão Política Permanente (CPP) do PAN, Jorge Silva explica que comunicou a sua demissão oralmente no final de uma reunião do CJN, a 28 de novembro, por discordar e não querer validar a decisão maioritária dos membros da Jurisdição de considerar legal o regulamento do X Congresso Nacional.O agora ex-dirigente afirma que esta reunião foi agendada para avaliar emails recebidos por parte de vários filiados que questionavam a legalidade do regulamento e se queixavam de obstáculos à participação e à representatividade dos filiados na eleição de delegados, um dos principais protestos da lista opositora à atual direção, liderada por Carolina Pia.Para Jorge Silva, o regulamento do Congresso, aprovado pela CPN, contém “irregularidades graves, diretamente violadoras dos Estatutos do PAN, bem como dos princípios democráticos internos que devem reger o partido” por “promover a exclusão e a eleição ilegal de filiados”..Inês de Sousa Real vai ser reeleita porta-voz do PAN sob ameaça de impugnação. O membro do PAN argumenta que o regulamento do Congresso, ao autorizar a eleição de delegados pelas estruturas concelhias, incumpre os estatutos do partido. Segundo o filiado, os estatutos não conferem competência eleitoral a estes núcleos locais, sendo essa possibilidade reservada às comissões políticas regionais e distritais.“Não colhe o argumento de existirem comissões políticas distritais e regionais inativas, tal como preconizado pela CPP. O que elas estão sim é demissionárias, continuando legal e estatutariamente constituídas, logo ativas, pois do mesmo modo que existe um processo de formalização para a constituição de Comissões Políticas Distritais e Regionais o mesmo deverá ocorrer para a sua extinção, facto que nunca aconteceu com nenhuma das comissões até hoje constituídas”, acrescenta ainda Jorge Silva na mesma carta.O antigo presidente da mesa da CPN do PAN considera que, com a solução prevista no regulamento, “existem filiados a quem foi negada a possibilidade de apresentação de listas" - por verem as suas distritais consideradas inativas - "sem que a CPP ou até mesmo a CPN tenham procurado encontrar uma solução que assegura a democracia interna".“Ao invés, criaram e inscreveram uma solução adhoc para o regulamento do Congresso de modo a eleger delegados de uma concelhia cuja líder é membro integrante da atual CPP e próxima à liderança atual do partido. Uma menor promiscuidade partidária teria sido benéfica. O PAN fica muito beliscado com estes atropelos estatutários e democráticos”, critica.Na opinião de Jorge Silva, embora a democracia interna no CJN se tenha cumprido, com o regulamento a ser aprovado por maioria, a “legalidade não se cumpriu” e o “processo eleitoral até ao Congresso teve um viés democrático contrário aos estatutos”.O membro do PAN diz que quem se mantém no CJN, as secretárias Catarina Rocha e Teresa Passos, “deve ficar com o ónus de a sua votação ter contribuído decisivamente para a ilegalidade e para tornar o PAN um partido mais pobre democraticamente, desbaratando o capital estatutário e para o qual existe”.Jorge Silva garante ainda que a decisão da sua saída foi “tomada com profundo sentido de responsabilidade jurídica, ética, política, e sobretudo com grande pesar” depois de 11 anos de atividade partidária que “envolveu a presidência da Mesa da CPN, a coordenação de inúmeros grupos de trabalho, assessoria parlamentar na primeira legislatura do PAN no parlamento”, entre outros.O X Congresso Nacional do PAN vai realizar-se no próximo sábado, em Coimbra, no qual serão definidas “linhas estratégicas do próximo ciclo político” do partido e eleita a direção.