Comissão parlamentar considera inconstitucional proposta do Chega para proibir verbas para mesquitas
FOTO: Bruno Castanheira/Global Imagens

Comissão parlamentar considera inconstitucional proposta do Chega para proibir verbas para mesquitas

O parecer foi aprovado por PS, PSD, PCP, Livre e JPP, tendo merecido o voto contra do Chega e a abstenção do CDS-PP.
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A Comissão de Assuntos Constitucionais considerou esta quinta-feira, 20 de novembro, inconstitucional uma proposta do Chega de alteração ao Orçamento do Estado para 2026 que pretende proibir a atribuição de verbas públicas para a construção de mesquitas, com o voto contra apenas do proponente.

A 1.ª Comissão reuniu-se durante a manhã, antes do arranque da discussão e votação do Orçamento do Estado para 2026, e aprovou um parecer, elaborado pelo deputado social-democrata Francisco José Martins, que conclui pela não conformidade da proposta do Chega com a Constituição da República.

O parecer foi aprovado por PS, PSD, PCP, Livre e JPP, tendo merecido o voto contra do Chega e a abstenção do CDS-PP.

O documento refere que a proposta do Chega faz "uma discriminação explícita com base na confissão religiosa" e "consagra uma desigualdade de tratamento arbitrária e irrazoável", violando os "princípios constitucionais da igualdade e da liberdade religiosa, de forma insanável".

Por isso, a comissão concluiu que a proposta "não reúne os requisitos" para ser admitida à discussão e votação no âmbito do Orçamento do Estado para 2026.

Na apresentação do parecer, o deputado Francisco José Martins afirmou que a proposta de alteração do Chega é “materialmente inconstitucional por violação dos artigos 13º, 41º e 18º da Constituição da República Portuguesa”.

Na defesa da proposta, a deputada Madalena Cordeiro, do Chega, alegou que a proposta "não restringe de forma alguma a liberdade religiosa, [pois] nenhuma pessoa é impedida de professar a sua religião, nenhuma prática religiosa é proibida, nenhuma mesquita será encerrada, nenhuma confissão é proibida de se organizar e nenhum ato de culto é condicionado".

Madalena Cordeiro defendeu também que "o legislador, no âmbito do Orçamento do Estado, tem a liberdade para definir prioridades de despesas, excluir setores, impor critérios rígidos para o fundo de usos públicos e estabelecer proibições de financiamento em entidades específicas", concluindo que "o impedimento de financiamento é uma medida orçamental e nunca uma medida religiosa". 

A deputada Isabel Moreira, do PS, referiu que o parecer “está impecável” e considerou que o documento foi pedido por uma comissão que é presidida por um deputado do Chega para levar o assunto a ser discutido.

“Do ponto de vista político é evidente porque é que esta proposta foi feita”, afirmou, referindo que foi apresentada por “um partido que tem uma agenda altamente islamofóbica”.

João Almeida, do CDS-PP, assinalou que o parecer “está muito bem fundamentado e traduz uma posição absolutamente legítima e compreensível do ponto de vista da interpretação daquilo que são os preceitos constitucionais”.

No entanto, o democrata-cristão justificou a abstenção considerando “um mau princípio” que a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias “possa emitir um parecer que leve a que iniciativas parlamentares não sejam admitidas”.

Pelo Livre, o deputado Paulo Muacho acusou o Chega de discriminação.

“Se o objetivo fosse ter prudência orçamental e contenção nas despesas, então aquilo que estaríamos a discutir era que o Estado não pudesse financiar qualquer tipo de igreja, ou estaríamos a discutir o fim de alguns privilégios e de isenções que as igrejas têm”, sublinhou.

Também a líder parlamentar do PCP, Paula Santos, acusou o Chega de ter um objetivo com esta proposta e Filipe Sousa, do JPP, defendeu que “as questões constitucionais são sagradas”.

Comissão parlamentar considera inconstitucional proposta do Chega para proibir verbas para mesquitas
Proposta do Chega para proibir verbas públicas para mesquitas em vias de ser considerada inconstitucional

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