André Ventura assumiu esta terça-feira a “responsabilidade política” pela escolha de Miguel Arruda para um lugar elegível nas listas do Chega e classificou a condição do agora deputado não-inscrito, suspeito do furto de malas em aeroportos, como “um problema de natureza psíquica ou psiquiátrica”, motivo pelo qual apelou “encarecidamente”, numa conferência de imprensa na Assembleia da República, à renúncia ou suspensão do seu mandato. O líder do Chega disse também que, caso Miguel Arruda insista em manter-se como deputado não-inscrito, “será uma ofensa”. Ao DN, três investigadores em Ciência Política analisaram o que pode estar em causa para o partido.Para o politólogo Riccardo Marchi, “este tipo de escândalos são comuns em todos os partidos radicais, sejam de esquerda ou de direita, porque têm um discurso muito moralista”. Aliás, continua o professor, esta é a primeira vez que algo a nível de um “boato” em torno do Chega se transforma num “escândalo”, viral na comunicação social..Malas, suspeitas, imunidade e pressões do Chega. Tudo sobre o caso de Miguel Arruda.Também a politóloga Paula do Espírito Santo acredita que “o Chega não sai ileso” desta história, podendo até gerar-se “alguma desacreditação junto do seu eleitorado, porque estes eram também os próprios valores do partido”. Além disso, a investigadora vê a justificação apresentada por Ventura face à suspeita que recai sobre Miguel Arruda, como “interessante”, porque “pode ser mais compreendida pelos eleitores e pela opinião pública. Ou seja, ele está doente e é por isso que tem os comportamentos que tem.”“Quando temos um partido que afirma primar pela defesa da lei e da ordem, que acusa os restantes partidos de serem corruptos e depois ter de reconhecer que tem um deputado apanhado a roubar malas no aeroporto em flagrante delito (...), vemos que há incoerência entre aquilo que o Chega proclama e aquilo que é”, aponta ao DN a politóloga Marina Costa Lobo, acrescentando que o pedido de “renúncia ou a suspensão de mandato é uma tentativa de limpar a imagem” do partido.Já André Ventura, sobre o episódio de Miguel Arruda, apelou esta terça-feira: “Perante a evidente fragilidade psíquica em que se encontra, perante a evidência dos factos, não tenho outro caminho enquanto presidente do partido senão pedir-lhe, encarecidamente, em nome da dignidade, em nome de Portugal, em nome do grupo parlamentar pelo qual foi eleito, que renuncie ao seu mandato.”Momento antes, o líder do Chega sublinhara que a apreensão de malas no gabinete do antigo deputado, levada a cabo segunda-feira pelo Ministério Público, tinha partido de uma denúncia que o partido fizera na quinta-feira da semana passada ao presidente da Assembleia da República (PAR), José Pedro Aguiar-Branco, pela “possibilidade” de esses “objetos” estarem “relacionados com o produto do crime”.Por seu turno, Aguiar-Branco foi questionado pelos jornalistas sobre a denúncia, acabando por considerar a conversa que teve com o deputado do Chega Rui Paulo Sousa, depois do plenário, nos corredores da AR, como “absolutamente irrelevante para a investigação”.“Alertar para quê? Estava uma investigação a correr”, declarou o PAR, quando confrontado com a versão de André Ventura.Enquanto líder do Chega, André Ventura assumiu ainda a responsabilidade política pelas “escolhas” do partido para os lugares elegíveis nos círculos eleitorais, “mesmo que indicadas por terceiros”..Primeira tentativa de André Ventura ser Presidente “dos portugueses de bem” falhou