O Chega anunciou nesta terça-feira o adiamento da manifestação “Portugal Seguro, um País com Futuro”, convocada no seguimento do veto de Marcelo Rebelo de Sousa à Lei dos Estrangeiros, e que se deveria realizar no próximo domingo, 24 de agosto, reagendando-a para 6 de setembro. Deste modo, o evento irá ocorrer, em Lisboa, num trajeto ainda não revelado pelo partido, sendo apenas certo que irá terminar no Palácio de Belém, no mesmo fim-de-semana em que o PCP realiza a edição de 2025 da Festa do Avante, na Quinta da Atalaia, no Seixal.A decisão de adiar a “grande manifestação nacional”, convocada para “defender Portugal, a nossa identidade e conter a invasão de imigrantes a que o país está a ser sujeito”, foi justificada, num comunicado do partido , como um sinal de “respeito ao momento dramático que o país atravessa”, devido aos incêndios que já provocaram duas mortes e queimaram 101.045 hectares de floresta. “Este é o momento para homenagear as vítimas dos incêndios e continuar a dar força a quem continua a combater por nós”, defende o Chega.Fontes ouvidas pelo DN admitem que a nova data pode contribuir para reforçar a participação num protesto contra a decisão do Presidente da República que André Ventura pretende ser uma demonstração de força do partido, que nas últimas legislativas assegurou o estatuto de líder da oposição, com mais deputados do que o PS, ainda que tivesse menos 4313 votos.O grau de adesão à manifestação é visto como um indicador do que poderá suceder ao diploma que visava regulamentar o regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território de Portugal. Aprovada com os votos favoráveis dos partidos da AD e do Chega - a Iniciativa Liberal absteve-se e os restantes deputados votaram contra - a Lei dos Estrangeiros foi vetada por Marcelo Rebelo de Sousa após a maioria dos juízes do Tribunal Constitucional ter declarado inconstitucionais cinco normas do texto. Nomeadamente no que toca ao reagrupamento familiar e restrições a recursos para os tribunais.Ao anunciar a manifestação, então marcada para 24 de agosto,André Ventura recorreu às redes sociais para apelar à mobilização. “Agora não há desculpas, nem pode haver hesitação. Vamos à porta do Presidente da República fazer ouvir e sentir a nossa voz. O nosso país está-nos a ser roubado. Apareçam no dia 24. Vai ser forte!”, escreveu o líder do Chega, revelando que o percurso terminaria na residência ofiical do Chefe de Estado.A alteração de 24 de agosto, que é um domingo, para 6 de setembro, que é um sábado, impediu a sobreposição entre a manifestação e o encerramento da Festa do Avante, tradicionalmente marcado pelo discurso do secretário-geral do PCP que marca a rentrée política dos comunistas.No comunicado divulgado nesta terça-feira, o Chega reconhece o sacrifício dos operacionais no combate aos incêndios, mas reforça críticas à atuação do Governo, “em particular do Ministério da Administração Interna, pela forma como tem gerido esta crise e pela falta de respostas em que tem deixado o país”. Por isso, Ventura já pediu a demissão da ministra Maria Lúcia Amaral. ."Milhares e milhares" passaram pelo Rossio em 2024 .O termo de comparação que a manifestação “Portugal Seguro, um País Futuro” irá enfrentar são os “milhares e milhares” de pessoas, como André Ventura se referiu aos muitos apoiantes que o acompanharam, da Alameda até ao Rossio, a 29 de setembro de 2024.“É a primeira vez em toda a enorme História de Portugal em que milhares e milhares saem às ruas para dizer que Portugal ainda nos pertence, que quem não vem por bem tem de sair, e que Portugal ainda é nosso”, disse então o presidente do Chega, no final do percurso, enunciando as bases daquilo que descreveu como “a luta das nossas vidas”.Em causa, então como agora, estava a recusa da “imigração descontrolada e da insegurança nas ruas”, levando Ventura a dizer que as palavras de ordem da manifestação convocada pelo seu partido teriam de “ser escutadas pelo Governo e pela Assembleia da República”. Algo que, na sequência das eleições legislativas de 18 de maio do ano seguinte, acabou por se concretizar.