"Há uma série de decisões que agora são tomadas, no início das eleições [autárquicas, marcadas para dia 12 de outubro], que não passam de uma tentativa de eleitoralmente conseguir alguns votos”, argumenta o vereador da CDU na Câmara de Loures Gonçalo Caroço, a propósito da verba de quase 150 mil de euros aprovada pelo executivo municipal, liderado por Ricardo Leão, para apoiar a igreja evangélica Hillsong Portugal, conhecida por integrar, na versão internacional, algumas figuras famosas, como Justin Bieber. Neste ponto, o vereador Bruno Nunes, do Chega - o partido com menor representação na autarquia - também se opõe à opção de Ricardo Leão, defendendo que “o Estado não deve fazer qualquer financiamento a nenhuma igreja”, classificando a decisão como “uma medida completamente eleitoralista e populista”.Nas eleições autárquicas de 2021, o PS foi o partido mais votado em Loures, tendo ficado 2021 votos à frente da CDU, que, apesar de ter o segundo lugar nesta corrida eleitoral, conseguiu o mesmo número de representantes - quatro. Porém, depois de uma coligação pós-eleitoral, os dois eleitos pelo PSD conseguiram integrar o executivo. O Chega, por seu turno, com apenas um representante, ficou com a CDU na oposição, que, com um total de cinco vereadores, contrabalança o peso dos seis elementos do executivo (quatro socialistas e dois sociais-democratas) que detêm pelouros.Em declarações ao Observador, Ricardo Leão explicou que o apoio à Hillsong Portugal reforça uma “política de parcerias estratégicas com organizações da sociedade civil que partilham o compromisso com a melhoria das condições de vida da população”, para além de justificar este apoio às obras desta igreja como estando “alinhado com os objetivos do concelho em promover iniciativas que tenham impacto positivo no bem-estar da população e na promoção da coesão social”.Para além deste apoio, a autarquia vai avançar também com 250 mil euros para a construção do Templo de Shiva, em Santo António dos Cavaleiros, que a CDU não coloca no mesmo saco da Hillsong Portugal.“São pessoas hindus, mas não só hindus”, lembra Gonçalo Caroço, que defende que têm “um papel muito importante para a comunidade, para a freguesia, para o concelho”, pelo que não deixa “nenhuma dúvida” à CDU, que votou favoravelmente esta verba.Por outro lado, contrariando Ricardo Leão, Gonçalo Caroço diz que a Hillsong Portugal “é uma situação muito diferente”, porque “não se conhece qualquer trabalho social [desta igreja] nessas freguesias. Aliás, nem sequer faz parte da Comissão Social de Freguesia de Sacavém, que é do Prior Velho”, o local onde será construída a igreja, e cujo custo rondará os 750 mil euros (o que significa que a verba da Câmara de Loures só cobrirá 20% do custo total).Gonçalo Caroço lembra, porém, que, de acordo com informações que diz ter, havia um centro de atendimento da Hillsong Portugal à população em situação de sem-abrigo na freguesia de Loures, que contava “com barbeiros e pessoal médico”. Inicialmente, continua o vereador, os sem-abrigo poderiam recorrer duas vezes por semana ao apoio. Depois, passou a ser só uma vez. “Neste momento, esse único dia já nem sempre está aberto”, diz o vereador.No entanto, diz Gonçalo Caroço, juntando esta opção às decisões tomadas pela Câmara no que diz respeito à habitação, “neste momento o discurso [de Ricardo Leão] já não é do Chega, não se pode dizer que é do discurso do Chega. Já foi chão que deu uvas. É o discurso do Chega, do PSD e do PS. Com a intenção de não perder pontos. Ou seja, a preocupação é eleitoral. A preocupação com os princípios não existe”, conclui.“O Estado não tem que fazer isto”Com a garantia de que o Chega não tem “nada contra as igrejas evangélicas” nem contra “o culto de Shiva”, até porque “a lei portuguesa é muito clara na liberdade religiosa”, Bruno Nunes defende que “não faz sentido” haver “uma medida completamente eleitoralista, e populista”, que passa por “dar dinheiro para a construção de um templo de Shiva e de obras para a igreja Hillsong”.O vereador do Chega em Loures lembra que “as igrejas em Portugal já têm o beneplácito de não serem abrangidas por impostos”, pelo que, sustenta, “as prioridades da Câmara estão trocadas”.“A situação torna-se ainda mais grave quando, ao consultar as páginas da Igreja Hillsong, percebemos que o pastor principal em Portugal tem, ao longo dos últimos meses, dado apoio claro e político a Ricardo Leão”, acusa Bruno Nunes.“Não podemos olhar e dizer que o Chega é populista por defender determinadas medidas e depois assistirmos a esta situação que é completamente surreal”, continua o também deputado do Chega, acrescentando que “o Estado não tem que fazer este tipo de participação”.Questionado sobre se, em Loures, o PS está a fazer o jogo do Chega, Bruno Nunes afasta a ideia, optando por defender que “Ricardo Leão olhou para as sondagens e percebeu que o Chega cresceu dentro do município de Loures e ficou a mil e poucos votos nas legislativas”..Câmara de Loures apresentou queixa ao Ministério Público contra "comercialização de barracas" no Talude."Há um Chega no PS", critica deputada Isabel Moreira sobre atitude de autarca de Loures no caso Talude.Talude Militar: Sem alternativa, moradores do bairro insistem numa vida entre os “escombros”