O antigo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva disse esta segunda-feira, 17 de novembro, num debate sobre o fim da guerra civil em Angola, que as "tensões internacionais, que se vivem de forma intensa também em África," mostram a importância da paz."Numa época de incerteza e tensões internacionais que se vivem de forma intensa também em África, é importante retomar a mensagem dos intensos 10 segundos que antecederam o momento da foto que ilustra este livro - a reconciliação nacional é possível, a paz é sempre possível", disse o antigo Presidente português, referindo-se aos segundos que antecederam o aperto de mão entre Jonas Savimbi e José Eduardo dos Santos, na assinatura dos Acordos de Bicesse, em maio de 1991.Numa intervenção na sessão de apresentação do livro “Bicesse, o Caminho da Paz”, hoje, no Ministério dos Negócio Estrangeiros, em Lisboa, Aníbal Cavaco Silva afirmou: "Há quase 35 anos vivi um dos momentos mais emocionantes da minha vida política, e seguramente um dos mais mediáticos e com maior projeção internacional, inclusivamente estando na primeira página do New York Times do dia seguinte, que guardo em casa como memória desse dia de esperança".Os Acordos de Bicesse, assinados em Lisboa em maio de 1991, “constituem um marco na diplomacia portuguesa” e na “refundação de Angola”, assinalou Sónia Neto, coordenadora do livro “Bicesse, o Caminho da Paz”, lançado esta segunda-feira em Lisboa.Em declarações de antecipação à Lusa, Sónia Neto, que foi Conselheira para África no Grupo de Reflexão do Presidente da Comissão Europeia (primeiro com Durão Barroso e depois com Jean-Claude Junker) e embaixadora da União Europeia na Guiné-Bissau, salientou, do mais de um ano de reuniões que culminaram na assinatura do acordo, a “arte de negociação por parte da diplomacia portuguesa”, que “constitui ainda hoje uma referência intemporal”.“Conseguiram, de facto, sentar à mesma mesa [as partes desavindas – Governo do MPLA e UNITA] e conseguiram que, no fundo, eles acreditassem na paz pela via do diálogo, mostrando-lhes que era possível resolver os conflitos à mesa das negociações (…) independentemente das suas opiniões divergentes, dos seus sentimentos, das suas tendências políticas”, disse.No livro, Sónia Neto reuniu os depoimentos de 22 intervenientes na longa ronda de negociações que, pela primeira vez, sentou frente-a-frente elementos do Governo angolano (liderado pelo Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA, então partido único) e da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), sob mediação de Portugal e com Estados Unidos e União Soviética como observadores.O lançamento do livro, que decorre na mesma sala (no Ministério dos Negócios Estrangeiros) onde o então Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, e o líder da UNITA, Jonas Savimbi (ambos já falecidos), assinaram, em 31 de maio de 1991, sob o olhar do então primeiro-ministro português, Aníbal Cavaco Silva, os acordos que calaram as armas e abriram caminho à revisão constitucional que acabou com o regime de partido único e permitiu a realização das primeiras eleições livres no país (em setembro de 1992), a que se seguiu o retomar da guerra, que só viria a terminar em 2002.