Candidatos ao Conselho Nacional da IL mais próximos nas receitas do que no diagnóstico do partido

Os representantes das seis listas candidatas ao Conselho Nacional da Iniciativa Liberal (IL) convergiram em dois pontos num debate gravado no estúdio do DN: o partido tem potencial para reforçar a votação, o que acreditam ser essencial para mudar Portugal, e esse objetivo depende do trabalho em conjunto entre seguidores de várias tendências do liberalismo. Na Convenção Nacional da IL, marcada para o próximo fim-de-semana, a 1 e 2 de fevereiro, no Pavilhão Paz e Amizade, em Loures, o atual presidente da Comissão Executiva, Rui Rocha, tentará reeleger-se para o segundo mandato, enfrentando a oposição de Rui Malheiro, líder do Movimento Unidos pelo Liberalismo. Mas no Conselho Nacional há mais escolhas: além do atual vice-presidente do órgão, Pedro Ferreira (Lista X), o até agora vice-presidente da Comissão Executiva Bernardo Blanco (Lista F), o conselheiro nacional André Serpa Soares (Lista T), o gestor e especialista em Segurança Francisco Cudell (Lista A), o coordenador do núcleo territorial de Famalicão Paulo Ricardo Lopes (Lista D) e Jorge Pires (Lista M), admirador de Javier Milei, presidente da Argentina, que foi o único cabeça de lista a não participar no debate, com a candidatura representada por Rogério Quintas. O debate arrancou com os candidatos a dizerem porque resolveram ir a votos, e Bernardo Blanco, que sai da Comissão Executiva mas admite “um dia” candidatar-se à liderança da IL, expôs os seus motivos. Disse querer “dar oportunidade a muitas pessoas qualificadas que ainda não estiveram em órgãos nacionais”, “ter pessoas de todos os distritos” e evitar que o Conselho Nacional fique a discutir “literalmente vírgulas”. Mas também disse que o órgão deve assumir a “bandeira da redução do Estado”, debater “uma visão moderada” dos temas da Justiça e Segurança, “para as pessoas não ficarem dependentes dos extremos”, e introduzir a discussão da Inteligência Artificial. .Logo de seguida, Pedro Ferreira, eleito pela lista vencedora em 2023, negou que o Conselho Nacional “seja um órgão só para discutir pontos e vírgulas”, realçando o papel que teve a “aprimorar” o programa com que a IL se apresentou às eleições europeias. Um rumo que pretende manter, com membros que “possam trazer os mais válidos contributos para o aprofundamento das políticas que o partido quer para o país”.Com as listas F e X conotadas com a atual liderança - embora nem Rui Rocha nem Rui Malheiro tenham apoiado quem disputa o Conselho Nacional -, ao ponto de outros candidatos dizerem que Blanco e Ferreira “são amigos nada secretos” aquando da parte do debate em que cada participante podia fazer uma pergunta a outro, previamente sorteado, num “amigo secreto liberal” (ver ao lado), as restantes listas elencaram propostas para o Conselho Nacional. “Queremos ajudar a consolidar o partido como principal força da transformação de Portugal, com uma agenda de liberdade e responsabilidade”, disse Francisco Cudell, enquanto André Serpa Soares defendeu que na IL “têm que caber todos os tipos de liberalismo e todas as sensibilidades”, para mudar um país que “ainda não conseguiu superar o comunismo, o socialismo e o estatismo” mas já enfrenta “novos desafios como o populismo”. Para Rogério Quintas, o principal objetivo é “criar mecanismos para a Comissão Executiva fazer políticas mais interventivas”. E Paulo Ricardo Lopes advogou um órgão “mais exigente” e em que os membros “consigam colaborar uns com os outros”..Críticas aos resultados.As divergências foram mais flagrantes na parte do debate dedicada ao balanço dos dois últimos anos da IL, desde que Rui Rocha sucedeu a João Cotrim de Figueiredo, derrotando os entretanto desfiliados Carla Castro e José Cardoso em janeiro de 2023.Apesar de reconhecer que a IL “cresceu de forma assinalável”, com “uma estrutura mais organizada, quadros internos qualificados e um pensamento político mais estruturado em diversas áreas da política nacional e internacional”, Rogério Quintas destacou “pontos a melhorar”, dizendo que o partido ficou aquém nas “medidas difíceis, mas necessárias”, como a “redução vigorosa do Estado”. Sendo a Lista M “inspirada na coragem” de Javier Milei, criticou a falta de entusiasmo com o “primeiro presidente assumidamente liberal e libertário”. “Ficámos perplexos com a falta de reação formal do partido e, um ano depois, e de os resultados começarem a aparecer, vemos apoio a surgir onde antes havia silêncio ensurdecedor”.Francisco Cudell fez “um balanço misto”, com pontos positivos como o “trabalho positivo” do grupo parlamentar, no qual destacou Carlos Guimarães Pinto, Mariana Leitão, Mário Amorim Lopes e Bernardo Blanco (“fez um excelente trabalho na TAP”, disse). Mas também pontos “menos positivos”, nomeadamente na comunicação, dizendo que “não é compreensível que ainda haja muitos eleitores a pensar que João Cotrim de Figueiredo ainda é o presidente do partido”.A incapacidade de aumentar o número de deputados na Assembleia da República e nas assembleias regionais da Madeira e dos Açores foi abordada por Paulo Ricardo Lopes, que usou o termo “estagflação eleitoral”, tirando no caso das eleições europeias. “Somos um partido que tem maior votação quanto mais longe está o Parlamento para que se está a votar. Muito fortes nas europeias, intermédios nas legislativas e mais fracos nas autárquicas”. .André Serpa Soares defendeu que “não conseguimos festejar o crescimento da eleição de oito deputados para oito deputados, quando vemos outros partidos crescerem até 50 deputados”, acrescentando que em todos os casos a IL acabou “por não ter influência na formação de maiorias parlamentares”.Em sentido contrário, Pedro Ferreira fez um balanço “naturalmente positivo”, referindo as circunstâncias difíceis em que a IL “cresceu em termos de votos e em termos percentuais”, lamentando ainda que nas reuniões à porta fechada do Conselho Nacional “passem cá para fora informações”.Assumindo que os liberais são “exigentes” e que “há muito espaço para melhorar”, Bernardo Blanco destacou também que a IL tem crescido em popularidade, notoriedade e número de membros. E que não houve “uma única eleição em que não tivéssemos crescido em percentagem e até em número de votos, o que é uma coisa muito rara”..Perguntas e respostas do "amigo secreto liberal".Durante o debate, cada um dos participantes pôde colocar uma pergunta a outro, que tinha sido sorteado previamente.André Serpa SoaresCom todo o respeito por Javier Milei, e até alguma admiração pelo que tem feito e pela coragem demonstrada, gostava que me explicassem como se traz o seu programa para Portugal e para o partido, nomeadamente ao nível do Conselho Nacional?Rogério QuintasHá que desmistificar a ideia de que a Lista M, quando fala de Javier Milei, quer implementar políticas que ele implementou na Argentina. Era impossível. Defendemos é a coragem, a disrupção, o desassossego com que quebrou um regime de décadas de socialismo.Paulo Ricardo LopesEstás a contribuir para a diferenciação da Iniciativa Liberal em relação ao PSD ao fazeres de Miguel Morgado e Adolfo Mesquita Nunes, duas pessoas da AD, estrelas das tuas ações de campanha interna?Bernardo BlancoO maior sinal da diferenciação ideológica é termos tido a coragem política de dizer que não ao convite para estarmos no Governo. De qualquer forma, acho sempre que devemos discutir os temas com as pessoas de fora. É saúdável para o debate.Francisco CudellO que não foi alcançado pela Lista T durante os últimos dois anos?André Serpa SoaresFomos a segunda lista mais votada na última Convenção, mas havia uma grande maioria da Lista L e dos 25 membros da Comissão Executiva. Gostava muito, e falo por mim, que a proposta de revisão estatutária tivesse incluído o fim das inerências no Conselho Nacional. Rogério QuintasDe que forma é que a Lista D está preparada para impulsionar a Comissão Executiva para exercer o poder externo do partido?Paulo Ricardo LopesO poder não é propriamente a função do Conselho Nacional, mas no nosso manifesto falamos muito do liberalismo de proximidade. Precisamos de deixar de ser um partido tão centralizado na Assembleia da Repúblicae descentralizar mais.Pedro FerreiraO teu nome foi aventado para ser um dos líderes do Movimento Unidos pelo Liberalismo, que tem feito críticas de tiques socialistas”, “nepotismo” e irrelevância política ao partido. Reves-te nesse conjunto de críticas?Francisco CudellFui uma das pessoas que arrancaram com o projeto, mas saí rapidamente, porque me deixei de rever em certas formas de atuação. Não há qualquer relação da Lista com o Unidos pelo Liberalismo,tal como não há com a candidatura de Rui Rocha.Bernardo BlancoO Conselho Nacional pode propor orientações à Comissão Executiva. Que duas propostas farias?Pedro FerreiraDois temas que gostaríamos de ver recomendados à Comissão Executiva ou debatidos aprimoradamente no Conselho Nacional são a reforma da Segurança Social e a imigração, na qual a Iniciativa Liberal deve ter uma visão mais estruturada.

Candidatos ao Conselho Nacional da IL mais próximos nas receitas do que no diagnóstico do partido

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