Eleições internas. Cafôfo desafia Carlos Pereira a disputar "a liderança do partido". Ex-líder recusa ir a "jogo"
Paulo Cafôfo, que diz ser este "um momento decisivo para a Madeira", "respeitando os prazos do Senhor Presidente da República, e aquela que é a data mais próxima para a realização de eleições regionais", vai na reunião deste domingo da Comissão Regional "propor eleições internas" para 31 de janeiro "para a liderança do partido, a tempo de o novo Presidente do PS Madeira ter a oportunidade de elaborar a lista de candidatas e de candidatos à Assembleia Regional, bem como apresentar o respetivo programa eleitoral".
O líder socialista madeirense responde assim aos constantes desafios de Carlos Pereira, antigo líder do PS-M, que queria eleições primárias.
O antigo presidente do PS-Madeira, entre junho de 2015 e fevereiro de 2018, garantia, em declarações ao DN, estar disponível para disputar a liderança, “se a atual direção do partido considerar que este caminho de aprofundar a ligação à sociedade civil e construir pontes para desenhar uma alternativa é positivo, utilizando a realização de umas eleições primárias com transparência, credibilidade e sem manobras de fações ou grupos em torno do status quo”.
Recentemente, voltou a desafiar Paulo Cafôfo para eleições primárias.
"O ruído a que temos sistematicamente assistido e que nos últimos dias teve mais desenvolvimentos, e que pretende lançar dúvidas sobre a legitimidade da liderança do PS Madeira, exige uma resposta clara da minha parte e um compromisso inequívoco com os valores que sempre defendi: a transparência, a democracia e o respeito pelas instituições, nomeadamente pelo meu Partido", responde Paulo Cafôfo.
"Numa atitude de profundo respeito pelas regras democráticas que nos norteiam", diz o lider do PS-M, "considero que a liderança do nosso partido deve ser reforçada em eleições internas antes das próximas eleições regionais. Obviamente, serei novamente candidato".
"Este é um momento de clarificação, mas também de responsabilidade e de ação"
Paulo Cafôfo
Carlos Pereira, perante a resposta de Paulo Cafôfo, garante agora que não vai candidatar-se alegando que o prazo anunciado é um "jogo viciado".
"As directas que o Presidente do PS-M quer fazer em 20 dias é uma brincadeira de mau gosto . Nem as eleições numa associação de estudantes é tão claramente manipulada", diz ao DN Carlos Pereira.
O antigo líder dos socialistas madeirenses considera que "a posição tomada" por Cafôfo "descredibiliza a instituição e ofende os madeirenses . Não ajuda a resolver problema nenhum aos madeirenses apenas pode, eventualmente, aumentar o prazo de validade do actual presidente o que parece ser a única preocupação . Esta manigância é mais uma fuga para a frente ainda por cima violando tudo o que é aconselhável numa eleição em democracia".
Carlos Pereira diz que o partido "precisa de se ligar à sociedade e envolver os madeirenses" e "não de um jogo viciado para sacudir a pressão das solicitações para uma mudança".
"Não estamos perante uma questiúncula entre Paulo Cafofo e Carlos Pereira , o problema é sério e tem a ver com a consistência e credibilidade do PS M para ser alternativa e dar esperança no futuro da Região, resgatando-a da situação em que se encontra", considera ainda.
O líder do PS-M desafiando os que internamente, para além de Carlos Pereira, têm questionado a sua liderança, nesta declaração ataca também Miguel Albuquerque que tem recusado eleições internas do PSD-M.
"Ao contrário de outros líderes partidários, não tenho medo de eleições internas, e é com humildade que a elas me submeto, respeitando aquela que será a decisão dos militantes". afirma.
Manuel António Correia pede demissão de Albuquerque
A antecedência mínima de 60 dias ou, em caso de dissolução, com a antecedência mínima de 55 dias”, como refere a Constituição, e a assinatura do decreto que oficializará a dissolução da Assembleia Legislativa Regional da Madeira, que não tem um prazo definido, colocam o dia 16 de março como a primeira data possível para as Eleições Regionais.
Perante esta decisão do líder socialista de abrir "eleições internas" no partido, o Presidente da República pode usar, assim, a margem de não haver um prazo até à publicação oficial da dissolução, como já utilizou com António Costa em 2023.
A decisão de Paulo Cafôfo permite também que Manuel António Correia, que quer eleições internas do PSD-M e retirar a liderança do partido a Miguel Albuquerque, tenha agora o tempo de mais “mês e meio ao período normal para estas situações” que tem publicamente pedido a Marcelo Rebelo de Sousa.
Ao DN, Manuel António Correia considera que "esta circunstância, acrescenta ainda mais razões, às muitas já existentes, para o PSD-M fazer internas. Perante os Madeirenses não pode ser mais opaco e menos democrático e transparente que o PS!".
O antigo secretário regional, que já apresentou as assinaturas necessárias para disputar a liderança, afirma que "Albuquerque não tem outra alternativa que não seja demitir-se e acelerar processo de eleições internas. Se não tiver medo da democracia e dos militantes, demita-se e apresente-se a eleições".
Para Manuel António Correia é evidente que "a palavra deve ser devolvida aos militantes. Só assim poderemos ir a eleições regionais de cara levantada, recuperar confiança dos Madeirenses e formar governo estável!".
"PSD-M não pode ser mais opaco e menos democrático e transparente que o PS!"
Manuel António Correia
Este cenário, como o DN já tinha noticiado, era um "receio" dos apoiantes de Miguel Albuquerque. Logo após ser conhecida a data do Conselho de Estado, dia 17, ficou criada essa "incerteza" porque “isto pode mesmo mudar” no partido se “for permitida” a candidatura de Manuel António Correia.
No caso de António Costa, que anunciou a demissão a 7 de novembro de 2023, Marcelo Rebelo de Sousa, no dia 9 novembro, após ter ouvido os partidos e o Conselho de Estado, manifestou a intenção de marcar eleições para 10 de março de 2024. A oficialização só aconteceu, porém, a 15 de janeiro de 2024 com a publicação do decreto que dissolveu a Assembleia da República.
Ou seja, entre o anúncio de António Costa e a realização das Eleições Legislativas passaram 125 dias e 70 foram os dias que passaram entre as palavras do então primeiro-ministro e a publicação de decreto de dissolução - é esta margem que causa “preocupação” na ala social-democrata que apoia Miguel Albuquerque.
Miguel Albuquerque já, por várias vezes, considerou que eleições internas no PSD seria uma “medida suicidária” e “um favor aos adversários”.
De todos os partidos recebidos em Belém por Marcelo Rebelo de Sousa, só o CDS Madeira não manifestou o argumento de eleições o “mais rápido possível” - apenas “nunca antes do Carnaval” -, porque tudo “vai depender da necessidade ou não de clarificações internas de alguns partidos”, referências a Miguel Albuquerque (PSD-M) e Paulo Cafôfo (PS-M) - essas "clarificações" podem agora suceder, antes das Eleições Regionais.
“Estando neste momento ingovernável, [a Madeira] não pode continuar ingovernável, sobretudo depois das próximas eleições”, diz José Manuel Rodrigues, que abriu, na audiência com Marcelo, portas a “todos os partidos políticos”, mas em particular os do “centro [o PS, por exemplo] e de direita”.
O líder do CDS-M já tinha pedido, em declarações ao DN, uma “nova maioria” e “um novo presidente”. O Chega voltou, mais uma vez, a garantir que não voltará a apoiar um “governo com Albuquerque” . O JPP não recusa acordos com PS depois das eleições.
E Carlos Pereira? "Da minha parte aguardarei os resultados das engenhocas políticas quando as eleições regionais tiverem lugar".