João Rodrigues foi vereador do Urbanismo e valoriza os últimos anos com Ricardo Rio, puxando da meta de aumentar em 30% a capacidade construtiva para a habitação como grande bandeira. Quer acabar com o tema Spinumviva e confia na vitória.Que balanço faz destes anos de vereação?Muitas coisas boas foram feitas nos últimos mandatos. Em 2013, perdíamos pessoas quase todos os dias, perdíamos famílias, fechavam-se creches. Fomos a cidade que mais viu famílias a chegar ao longo destes dez anos. Podemos orgulhar-nos de ter criado quase 30 mil postos de trabalho nesse tempo. Guimarães, há dez anos, tinha à volta de 170 mil pessoas, tínhamos 180, agora estamos quase nas 220 mil. Isso explica os problemas da mobilidade: agora, há poucas pessoas que vão almoçar a casa porque passámos a demorar mais no trânsito e é nisso e na habitação que queremos trabalhar nos próximos anos. Como vereador do Urbanismo onde acertou e onde errou?Fomos a Câmara Municipal que mais licenças de habitação emitiu nos últimos anos. Temos um processo de urbanismo completamente digital. Disparámos mais licenças de construção do que aquelas que têm entrado na Câmara Municipal. Ao fim de mês e meio, em média, a licença está cá fora. Temos isto parametrizado com empresas externas. Duplicámos as áreas de reabilitação urbana da cidade e a grande conquista é o Plano Diretor Municipal. Seremos o único concelho que vai aumentar a capacidade construtiva para habitação em 30%. Mas o PDM está em consulta pública neste momento.O plano foi aprovado em janeiro pelas entidades todas. Abrimos a segunda discussão pública pela elevada participação que tivemos. O PDM está pronto, não está em vigor, mas é como o Orçamento de Estado, há um hiato de tempo para cumprir. Há planos de habitação pública para Braga?O problema da habitação resolve-se com mais oferta, seja ela pública, seja ela privada. Há 1000 hectares, que corresponderá a um quarto da cidade do Porto, que será de Unidades Operativas de Planeamento e Gestão. Obrigamos a que 25% do que vai ser construído tenha de ser a custos controlados. Depois, nas outras áreas, onde não há essa obrigatoriedade, estabelecemos o índice de cedência de 50%. Ao contrário do que os bracarenses pensam, devemos ser dos concelhos do país com menos património, menos solo. Para termos mais de 900 vagas em creches, licenciámos urbanisticamente, cedemos terrenos. E isso é uma dificuldade que com esta capacidade construtiva vamos atenuar, daí a importância de ficarem nas mãos da Câmara para quando chover dinheiro, do Governo ou da Europa, podermos construir mais. Vamos passar a poder negociar, para dizer que queremos um parque verde ali, uma creche, um parque de estacionamento. Vai impor habitação acessível nesses mesmos terrenos?Estamos a dar tanta capacidade construtiva que poderíamos impor habitação acessível, como 10% ou 20% em todas as unidades. Adoraria fazer isso, mas estes terrenos, que muitas vezes são de vários herdeiros, sei que se impusesse algo assim a maior parte das operações não iria avançar. Será pela positiva: se alguém tem um determinado terreno dentro de uma destas áreas, e construir habitação acessível, baixamos taxas urbanísticas. Dentro destas 122 áreas, fixámos um prazo para avançarem no espaço de quatro anos. O nó de Infias, com um investimento de 11 milhões de euros, resolve os problemas de mobilidade. As pessoas entenderão esse gasto, não o considerarão eleitoralista?44% do trânsito que entra em Braga vem por esta via e 60% passa nesta estrada. É a principal via de distribuição. Até há dois meses ninguém falava disto. Temos de retirar este trânsito e permitir que possa ir para outro concelho sem atravessar Braga. Este projeto foi do Governo, combinámos que nos iríamos encontrar com Pedro Nuno Santos, mas faltou a uma reunião a menos de 24 horas de distância. Nunca mais falou com Braga nem veio assinar. É um concurso com três anos de atraso, acabou agora o prazo. Percebo que seja próximo das eleições, mas poderia estar feito há muito tempo. Não é responsabilidade nossa.Acha que a estação de alta velocidade está suficientemente perto do centro de Braga?Uma estação de alta velocidade tem quase 3km de extensão, é impossível. O local onde está é o melhor onde podia estar. Está a 1km em linha reta do centro da cidade, às vezes dá a sensação de que vai estar no meio do monte. Os fundos europeus para a rodovia vão terminar a partir de agora e isso implica financiamento do orçamento municipal, via Orçamento de Estado ou por empréstimo. Se o nosso grande problema de trânsito está a norte do concelho e se a estação vai estar no norte do concelho, ainda bem que está onde está. Toda a rede de rodovia e de mobilidade, mesmo o transporte público, vai ter como ponto central a estação de alta velocidade. Considera que o investimento no BRT, com 75 milhões de euros, é polémico, tendo em conta as críticas da oposição?É como a questão da circular, do transporte público gratuito, da alta velocidade, que muitos quiseram desvalorizar. Não é solução para todos os problemas da cidade, não chegará a todo o lado. É aos poucos. O projeto terá quatro linhas, agora terá uma.Sente-se escolha consensual? Ricardo Rio disse que não era a primeira escolha.Já me manifestou o apoio publicamente. Agora, se eu era a primeira ou a segunda opção dele, não sei, mas também o que sei é que não é um presidente de Câmara que escolhe o próximo presidente. Fui escolhido exatamente pelas mesmas regras que o Ricardo Rio foi escolhido. Passei em reunião na Concelhia, fui escolhido depois por mais de 70% das pessoas, depois o plenário do partido com mais de 200 pessoas, onde houve duas abstenções. Na Comissão Política Distrital, no Conselho Nacional, o meu nome foi aprovado por unanimidade. Todos os presidentes de junta, em abaixo-assinado, pediram que o PSD escolhesse o meu nome. Não é pela proximidade a Hugo Soares que foi nomeado candidato? Quando decidi ser candidato à Câmara, decidi deixar a sociedade de advogados que fundei e na qual tive o Hugo como sócio. Isto não pode ser cadastro. Sabendo dos 200 mil euros que o seu pai terá investido, como cliente, na Spinumviva, como pode isso influenciar a sua campanha?Felizmente, ainda há muita gente que conhece o meu percurso e que sabe que uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra. A minha mulher trabalhou logo depois de ser mãe, era suposto pedir um lugar para ela numa secretaria de Estado qualquer? Prestou serviços à Spinumviva como a tantos outros clientes. Não há nenhuma busca, nenhuma investigação. Conheci o Hugo Soares na política, mas não combinámos abrir uma sociedade de advogados porque éramos políticos. Há quem esteja nestas eleições depois de ter perdido eleições há quatro meses ou por ter sido secretário de Estado do tempo de José Sócrates.Tem uma ligação política de proximidade, naturalmente, com Luís Montenegro e Hugo Soares. Consegue garantir que vai conseguir pôr isso de parte e lutar pelos interesses de Braga, mesmo quando for contra o Governo?Nunca vou deixar de lutar pelos nossos interesses. Assino centenas de coisas todos os dias, alguém que me acuse de ter favorecido alguém. 90% das pessoas que compõem as minhas são independentes.Se tivesse a Iniciativa Liberal, sentia que teria mais conforto? Obviamente. Quantos mais formos, melhor. A Iniciativa Liberal esteve até a última a negociar connosco, concordavam com tudo e depois não concordavam com os lugares que tínhamos para eles. Queriam cinco juntas de freguesia. Rui Rocha referiu a Spinumviva como motivação para não haver coligação, mas queria ser ministro do antigo dono da Spinumviva, aí já não havia problema. Muito depois dessas questões existiram reuniões com a Iniciativa Liberal. Há textos públicos escritos que me apoiam. Não sei se, entretanto, saíram ou não da IL.Vai dar alguns pelouros aos elementos do CDS, caso vença? Sim, sim, foram eleitos, estão nas listas. Terão a vice-presidente e o sexto lugar. Para dar um exemplo, o CDS em Braga tem uma força que claramente não tem no país. Das 37 freguesias, há quatro ou cinco que são presididas pelo CDS-PP. Portanto, a IL não poderia ter um lugar equiparável ao CDS.Se vencer a câmara, teme, porventura, uma força de bloqueio que venha da Iniciativa Liberal?Estamos a lutar por ter uma maioria absoluta. Há muitos e bons presidentes de Câmara que foram presidentes sem uma maioria. Podemos ter acordos pontuais. Agora, tenho uma grande dificuldade em perceber com quem é que podemos sentar-nos. Porque não sei se o Rui Rocha vai ou se fica. Não abdicou do lugar a deputado. Do candidato socialista, não sei se sai ou fica. Não conheço medidas dos outros partidos.E perdendo, fica na oposição? Vamos vencer as eleições. Vamos mesmo.Não imagina uma situação em que o Rui Rocha ganha as eleições e propõe, por exemplo, ficar na Câmara com o Pelouro? Não, não imagino. O Rui Rocha está muito longe de ganhar as eleições.