Mariana Mortágua, Miguel Duarte, Sofia Aparício e Diogo Chaves aterraram ao final da noite de domingo em Portugal e foram recebidos por mais de mil pessoas no Aeroporto Humberto Delgado, já depois de terem estado quase duas horas em sala reservada à conversa com familiares. Munido de cânticos pró-Palestina, o apoio à causa humanitária da Flotilha foi ponto dominante e as grandes figuras do Bloco de Esquerda marcaram presença para a receção à coordenadora do partido. “A nossa crítica não é ao apoio consular que foi dado aos cidadãos portugueses que estavam na prisão israelita. A nossa crítica é ao Governo português que não aplica sanções a Israel”, disse Mariana Mortágua à chegada.A líder do partido ainda não está em ação de campanha, aproveita a pausa dos trabalhos parlamentares para recuperar de mais de um mês de viagem na Flotilha e o Bloco reunirá brevemente para definir caminhos, o que também passará pela leitura autárquica depois de dia 12, nomeadamente em termos de mandatos. Certo é que a presença em Gaza é compreendida e apoiada pelas moções de oposição à lista A que irão à próxima Convenção. É unânime a causa e o mediatismo, dizem, não será prejudicial. “Entendemos perfeitamente que a causa era perfeitamente aceitável. Era lógico abraçar esta causa humanitária. Estamos com a Mariana, apesar de termos diferenças internas”, diz David Norte, da moção H, que compreende a demora na substituição no Parlamento. “Foi dada a justificação de a Flotilha demorar mais tempo do que era suposto devido aos ataques de Israel.” Diz não prever impactos eleitorais.Na moção B, Ana Sofia Ligeiro valoriza que a coordenadora tenha dado “o corpo ao manifesto”, que “muitos não pensam que o Parlamento seja o Alfa e o Ómega”, mas reconhece que a “única questão que não é consensual é a substituição no Parlamento”, admitindo que, dentro da moção, havia quem exigisse solução mais rápida antes da chamada da número 3 para Lisboa, Andreia Galvão. “Terá de ser feito o balanço pós-autárquicas, é precisa uma reorganização, avaliar-se o impacto das coligações, não só desta situação. Mas esta erupção social é boa, reativou-se um conjunto de alianças e solidariedade dentro da esquerda, que estava esquecida”, elucida a geógrafa, que lamenta discursos de ódio e petições públicas para que Israel não autorizasse o regresso de Mortágua a Portugal.Da moção S, Nuno Pinheiro considera uma “incógnita” a possível leitura eleitoral, mas até vê impactos positivos. “Mariana aumentou o seu prestígio, até internacionalmente, e um dos trunfos do Bloco é o discurso de oposição que lhe fazem. Podem pensar que desaparecemos tendo em conta os resultados eleitorais, mas há um discurso crítico que prova que o Bloco não desapareceu. Pode dar-nos andamento”, refere ao DN. O historiador e investigador aponta, porém, que “o Bloco andou um pouco perdido” e refere o “funcionamento muito centralizado, que esta questão veio acentuar”, concordando que “a substituição devia ter sido feita mais cedo.”O DN conversou com a professora universitária e politóloga Paula Espírito Santo, que “não vê leituras eleitorais claras”, identificando que “pode ser difícil para o eleitor perceber a opção, que é mais do que legítima, de a deputada única sair do Parlamento e não representar o partido”. Para a docente do ISCSP “não há força recuperada”. “Sendo deputada única, qualquer ação desencadeada pode ter dividendos políticos, Mariana esteve a descentralizar a mensagem e encontrou uma causa para mobilizar os eleitores, mas o tempo que foi escolhido, que é crucial por Autárquicas e Orçamento do Estado, pode não ser o melhor”, atira Espírito Santo.“Nuno Melo desautoriza Governo”, diz Marisa Matias Assumindo o posto de representante do Bloco para a campanha autárquica, Marisa Matias criticou Nuno Melo, ministro da Defesa. A ex-candidata presidencial insurgiu-se com as palavras do centrista que considerou de “número” a campanha humanitária, repetindo a expressão “panfletária.” “Não podemos ter numa pasta tão sensível [Defesa] alguém que não tem sequer a sensibilidade de perceber as suas funções. São palavras que não desautorizam apenas um país, mas desautorizam também o próprio Governo”, disse Marisa Matias à margem de uma campanha em Vila Nova de Gaia. .“Mariana encontrou uma causa para mobilizar os eleitores, mas o tempo escolhido pode não ser o melhor.” Paula Espírito Santo, docente universitária e politóloga.“Um dos trunfos do Bloco é o discurso de oposição que lhe fazem. Houve um discurso crítico que prova que o Bloco não desapareceu. Pode dar-nos andamento.”Nuno Pinheiro, moção S do BE.“Terá de ser feito o balanço pós-autárquicas, mas esta erupção social é boa, reativou-se um conjunto de alianças e solidariedade na esquerda.”Ana Sofia Ligeiro, moção B do BE.“Era lógico abraçar esta causa. Foi bem justificada a maior demora da Flotilha devido aos ataques de Israel."David Norte, moção H do BE.Mariana Mortágua sai do Parlamento por 30 dias e tem confiança das moções.Quem é a deputada do Bloco de Esquerda que vai substituir Mortágua?