Foi eleito há pouco mais de um ano como eurodeputado, já depois de ter sido deputado e líder parlamentar na Assembleia da República. Aos 46 anos aventura-se no poder local, o que o faz voltar a Évora?Não é difícil descobrir a motivação de um eborense ao aceitar este desafio de ser candidato a presidente da Câmara Municipal de Évora. Foi a cidade onde nasci e cresci, que fui sempre acompanhando e com que tive sempre uma ligação umbilical. Podia dizer que não há nenhuma grande questão que o concelho de Évora tenha vivido nos últimos 20 anos em que eu não tenha - nem sequer é só que eu tenha acompanhado - em que não tenha participado. Não há hoje discussão ou questão relevante para a vida do concelho em que não tenha tido alguma intervenção ou participação. Não é difícil encontrar os elementos de motivação para este desafio que me foi lançado, com esta ideia de que os meus camaradas e muitas outras pessoas que não são militantes do PCP acabaram por ir acarinhando ao longo dos anos. Essa questão esteve arredada sempre do horizonte em função de compromissos e de responsabilidades que tinha mais de natureza nacional. Mais recentemente, foi-me colocado este desafio de protagonizar, digamos, um novo ciclo depois destes 12 anos de gestão da CDU que recuperaram a situação financeira, fazendo investimentos que são importantes e retomando, digamos assim, alguma perspetiva de melhoria da qualidade de vida que se tinha perdido com a gestão do PS. Esse desafio acaba por motivar um eborense.Em 2021, a CDU venceu a câmara por 273 votos, o que significa que tem os mesmos dois vereadores de PS e PSD. Como se dá a volta a esta questão e se governa uma autarquia que é capital distrito do Alentejo, onde a CDU é forte, historicamente?Esse é um dos desafios que temos lançado aos eborenses: o de darem à CDU uma maioria reforçada para que, com melhores condições do ponto de vista eleitoral, também tenhamos melhores condições para o trabalho poder ser concretizado. Não queremos uma maioria absoluta para enfeitar a lapela. Queremos uma maioria reforçada para ter melhores condições e mais capacidade de trabalho a partir da autarquia e para dar resposta às necessidades do concelho, que não é pequeno. Diria que quando tratamos as questões relacionadas com a Capital Europeia da Cultura ou com a construção do novo Hospital Central do Alentejo, bem como com o investimento que está a ser concluído na ligação ferroviária Sines-Évora-Caia ou na conclusão do IP2, há de facto muitas exigências pela frente. E há sobretudo muitas oportunidades que são estratégicas para o desenvolvimento de Évora. Só estaremos em condições de as aproveitar se houver condições para desenvolver o trabalho com consequência e sentido de desenvolvimento e de resposta às populações. Desde 2021, a CDU gere o concelho com dois vereadores em sete. Não é uma maioria e isso expõe o executivo autárquico a todo o tipo de boicote, que foi o que acabou por acontecer. O facto de termos cinco vereadores da oposição significava que, em muitas circunstâncias, as decisões que queríamos que fossem tomadas, pura e simplesmente eram rejeitadas. Évora é também uma das duas capitais de distrito que a CDU ainda governa [Setúbal é a outra]. É também um teste à vossa força no poder local, um terreno onde muitas vezes capitaliza mais do que em legislativas?O teste à gestão autárquica faz-se na resposta que damos às necessidades das populações. Em muitos casos, isso não é integralmente compreendido e em outros não temos condições, de facto, para levar por diante esse programa político. Mas diria que as populações em geral, e em particular no concelho de Évora, reconhecem a importância de ter uma gestão autárquica da CDU pela seriedade, trabalho, competência e proximidade. A nossa capacidade de trabalho revela-se em muitas circunstâncias, mas vou destacar apenas um exemplo: recuperámos a câmara de Évora em 2013 com uma dívida de 95 milhões de euros. Nestes 12 anos, foram abatidos 45 milhões a essa dívida, não deixando de investir nem de projetar Évora a patamares que até os nossos adversários duvidavam que fosse possível, nomeadamente com a Capital Europeia da Cultura 2027. Os eborenses têm razões para confiar na CDU e não são razões etéreas nem teóricas, mas sim práticas da sua vida e da resposta aos seus problemas.Tendo em conta todo esse historial de que fala desde 2013, como explica a quebra eleitoral? A CDU tinha quatro vereadores, 49% dos votos, e passou para 27% com metade dos vereadores...Há muitos elementos que podem contribuir para isso. Em particular alguma incompreensão ou frustração que possa ter existido por eventualmente não se ter feito tudo aquilo que as pessoas esperavam. Isto é perfeitamente natural. As razões por trás dessa circunstância talvez não tenham sido explicadas. Julgo que os eborenses reconhecem muito do que vai sendo feito e também reconhecem muita margem de progressão e de solução. Um dos compromissos que assumimos é o de normalizar, por exemplo, o prazo de pagamento de apoios que são concedidos ao movimento associativo. Tem havido alguns atrasos no pagamento desses apoios e é preciso regularizar essa situação. As pessoas percebem que há de facto aí um problema para resolver, mas também reconhecem a diferença entre a situação que o PS deixou, em que não havia apoios e a situação em que estamos hoje, em que há apoios com atraso, mas pagos. É uma diferença grande.Pode também haver alguma entropia causada pelas forças mais à direita?Isso é manifestamente óbvio quando olhamos para algumas das coisas que foram sendo aprovadas contra a intenção inicial da CDU. As propostas do PSD de redução da receita municipal atingiram um milhão e meio por ano, foram propostas aprovadas muito para lá daquilo que programávamos. Os governos, não só este agora como também os do PS, empurraram para cima das autarquias as competências da educação e da saúde. Só na educação a câmara de Évora tem neste momento um déficit de dois milhões de euros por ano impostos por essa transferência de competências. Isto são elementos que dificultam a gestão. Por isso, dizia: precisamos de facto de superar essas circunstâncias. Com o reforço da CDU, estaremos em melhores condições de garantir que respondemos por nós e pela capacidade de resolução dos problemas que temos e julgo que os eborenses reconhecem isso. Há áreas onde há dificuldades, como a higiene urbana ou as estradas, onde é preciso superar problemas, mas não é com as soluções que os outros nos procuram vender.Ao DN, o candidato do PS, afirmou que Évora “pode ser muito mais” e que a gestão da CDU teve algum impacto na forma como a cidade está neste momento em várias áreas. Que comentário lhe merece?Espero que PS e PSD tenham honestidade intelectual e política e que não procurem atribuir à CDU problemas que foram criados por decisões e por entendimentos que eles próprios fizeram e que dificultaram a resposta aos problemas. Por exemplo, tentámos por várias vezes tomar medidas para garantir uma reorganização dos serviços municipais. Foi o PS que impediu que isso acontecesse. Era preciso reorganizá-los para que se adequassem melhor às necessidades do concelho de Évora, que não é o que era há 20 anos. Houve um desenvolvimento muito significativo, há mais população, mais área urbana, outras necessidades e os serviços da câmara precisam de ser reorganizados. Espero que por uma questão de honestidade intelectual e política, os nossos adversários não venham agora pôr-nos às costas os problemas que verdadeiramente resultam das decisões deles. Naturalmente, temos insuficiências no trabalho e vamos ter muitas dificuldades que precisamos ultrapassar, mas respondemos pelas nossas decisões. Não nos ponham às costas o que é obra dos outros. Já dei alguns exemplos do que é preciso melhorar e avançar. É nisso que estamos concentrados, sem dificuldade nenhuma em discutir com quem tenha soluções. Sendo verdadeiramente válidas, não há dificuldade nenhuma em integrar e aproveitá-las para o trabalho.Ou seja, admite fazer acordos pontuais com a oposição dentro do executivo camarário?Isso nem sequer é uma questão da minha lavra. Essa é a prática da CDU. Repare, apesar das dificuldades todas, tivemos os orçamentos todos aprovados, em alguns casos com medidas que não correspondiam ao que entendíamos que devia ser. Mesmo quando houve um contexto de maioria absoluta, nunca deixámos de dialogar com quem quer que fosse, nem deixámos de aceitar e de integrar propostas apresentadas por outros. Lembro-me de, por exemplo, na minha juventude, muitas propostas e decisões tomadas na Câmara Municipal de Évora serem tomadas por unanimidade. A CDU continuará a fazer aquilo que sempre fez, tendo uma postura de abertura, diálogo, de grande espaço de participação popular e de construção democrática, sem barreiras relativamente à consideração de propostas, que sendo úteis podem e devem ser integradas no nosso trabalho. E faremos isso sem sectarismo nenhum..Carlos Zorrinho: "Évora está muito fragmentada e isso faz com que acredite pouco em si" .Évora. Com o PS a apanhar a CDU, o resultado é incógnita no concelho alentejano