A desistência do fadista Nuno da Câmara Pereira, antigo presidente do Partido Popular Monárquico, dias após ser anunciado como a escolha do Chega para a presidência da Câmara de Belmonte, representa a sétima troca de candidatos do partido liderado por André Ventura às autárquicas de 12 de outubro.Ao longo dos últimos meses, a forte aposta no aumento da presença do partido no poder local - depois de o Chega não ter ido em 2021 além de 19 vereadores, dos quais mais de metade se desfiliaram e mantiveram o mandato, como independentes - levou ao anúncio de muitas candidaturas logo no início do ano. Mas, nas últimas semanas, houve seis candidatos anunciados em concelhos onde fora previamente avançado outro nome. Tal como no caso de Belmonte, ainda sem substituto oficial, onde Nuno da Câmara Pereira justificou a renúncia à candidatura com as “reservas quanto à manutenção da confiança política” por parte do Chega, na sequência de notícias “plantadas de forma cirúrgica”, acerca de uma herança familiar que o fadista admitiu ter provocado “atritos e celeumas judiciais”, a primeira “baixa” entre candidatos autárquicos do partido deveu-se a lutas internas e provocou o abandono de uma dirigente concelhia.Tratou-se de Ana Antunes, que foi anunciada como candidata à Câmara de Santa Maria da Feira logo a 3 de fevereiro. Mas deixou o lugar vago apenas dois meses depois, ao mesmo tempo que anunciava, numa conferência de imprensa, que se demitia da liderança da concelhia e se desvinculava do partido. Em causa, disse estar a falta de confiança na distrital de Aveiro, presidida por Pedro Alves. “Após meditar, entendi que para a minha saúde mental esta era a decisão que poderia tomar”, disse então, acerca de uma conduta que garantiu ter sido “muito ponderada”. Não menos ponderada terá sido a sua substituição, anunciada apenas a 6 de julho, por Luís André Santos, ex-presidente de uma da juntas de freguesia do concelho pelo PSD, seu antigo partido.Em Almeida, concelho do distrito da Guarda, no qual o Chega nem sequer apresentou candidatura nas autárquicas de 2021, a primeira escolha foi a consultora de comunicação Andreia Neves, que uma nota de imprensa do partido apresentava, no início de fevereiro, como alguém que tinha “fortes ligações familiares” à freguesia de Malhada Sorda. Mas acabou por ver-se substituída por Liliana Moreira, que semanas antes de ser anunciada como candidata à presidência da Câmara, como sucedeu no início de julho, garantia, num texto publicado nas suas redes sociais, ter “a vontade e a garra de fazer a tão necessária limpeza no nosso país, de trazer de volta os valores de amor à pátria, à família, à nossa cultura e identidade religiosa”.Questões pessoais justificaram outras substituição de candidatas, neste caso em Reguengos de Monsaraz, onde Maria Capucho fora anunciada em março, mas deu lugar em julho pela empresária Raquel Silva, a quem cabe tentar derrotar a social-democrata Marta Prates. A vitória do PSD, nas autárquicas de 2021, quebrou quatro décadas e meia de governação socialista no município alentejano.Problemas de saúde estiveram na base da desistência de Fátima Vieira, quadro superior da empresa municipal lisboeta Gebalis, que fora anunciada em março como a candidata à Câmara de Alenquer, ainda que não resida nesse concelho do distrito de Lisboa. Perante essa decisão, comunicada em maio, acabou por ser o líder concelhio Carlos Sequeira a recandidatar-se, depois de não ter conseguido um lugar de vereador em 2021, “com orgulho, sentido de dever e frontalidade”.Efeito das legislativasDuas outras trocas de candidatos do Chega foram condicionadas pelo resultado das legislativas de 18 de maio, nas quais o partido passou a segunda força em número de deputados, e aumentou a votação para 22,76%. Sobretudo no que diz respeito à Câmara de Óbidos, para a qual fora anunciada, no final de janeiro, a candidatura da médica Cristina Vieira, líder da concelhia local. Mas o crescimento eleitoral do partido garantiu 60 deputados, incluindo a terceira da lista de Leiria, e o partido tomou a decisão de a substituir pela sua vice-presidente na concelhia, Adélia Claudino Araújo.Além dessa decisão, em aparente contraciclo com a estratégia de André Ventura, que apelou às principais figuras da sua bancada como candidatos às principais autarquias do país - o líder parlamentar Pedro Pinto acaba de ser confirmado em Faro, juntando-se a Rita Matias (Sintra), Rui Pedro Sousa (Amadora), Bruno Nunes (Loures) e, entre outros, Pedro Frazão (Oeiras) -, também o assessor Mário Paracana deixou de ser candidato à Câmara de Alcácer do Sal. No seu lugar avança Virgílio Silva, que já foi presidente de junta de freguesia, eleito nas listas da CDU.Atualizado a 21 de julho, com referência a uma sétima troca de candidatos, em Reguengos de Monsaraz..Chega mobiliza eleitos em Loures de olhos postos nas autárquicas.Pedro Pinto é o candidato do Chega à Câmara de Faro