O Bloco de Esquerda mudou de estratégia autárquica para 2025 e lutou, em várias frentes, por uma junção de vontades à esquerda. O partido fez a devida leitura eleitoral das últimas legislativas, em que caiu de cinco deputados na Assembleia da República para apenas um, no caso com a coordenadora Mariana Mortágua a ser a única bloquista a restar no Parlamento. A ascensão da direita que, entre PSD, Chega e Iniciativa Liberal chegou aos 157 deputados, foi tida em conta nas reuniões da Mesa Nacional e da Comissão Política.Neste sentido, o Bloco procurou acordos e aumentou grandemente os parcerias pelo território. São 22 coligações, mais 20 do que em 2021, quando só em Oeiras e Funchal optou por não concorrer sozinho a votos. Agora, verificam-se três associações com o PS, todas estas incluindo PAN e Livre (Lisboa, Ponta Delgada e Albufeira). A proximidade ideológica em certas matérias, como a legislação laboral, os transportes e mobilidade urbana e a ecologia, levou também a que se estabelecessem dezenas de contactos com representantes do Livre pelo país fora. Contabilizando todos os acordos, das 22 coligações efetuadas, 20 incluem o Livre. Em nove casos: Odemira, Castelo Branco, Loulé, Portimão, Gaia, Santarém, Almada, Barreiro e Seixal há união exclusiva entre Bloco e Livre. O PAN, por sua vez, é parceiro em 12 ocasiões, três destas com o PS e Livre, sete com o Livre e em dois casos, Vila do Conde e Lagoa, apenas com o Bloco de Esquerda. Em Oeiras, um caso muito particular para o Bloco, Livre e Volt são os parceiros.Os 60 tribunos eleitos pelo partido de André Ventura são a maior fonte de preocupação do Bloco. Isabel Pires, ex-deputada e agora uma das coordenadoras para o projeto autárquico, reconhece o alarmismo ao DN. “Há um trabalho concertado, uma união de esforços. Depois dos resultados nacionais, o cenário político mudou muito rapidamente, verificou-se o crescimento rápido da extrema-direita. É necessário travar estes projetos, além disso vão existir muitas mudanças, acabam mandatos longos. Fazia sentido este contacto”, justifica ao nosso jornal uma das responsáveis por centralizar os acordos e reuniões do partido para as autárquicas 2025.Os acordos com o PSDissecando os acordos, a parceria com o PS apenas se verificou em três municípios. Reconhecendo que existiram “contactos, conversações”, mas que “nem sempre se conciliaram as vontades de todos”, Isabel Pires detalha estratégia para os acordos.“Em Albufeira falamos de um concelho importante num distrito onde a direita tem tido um dos maiores crescimentos. Foi percetível a vontade do PS, Livre e PAN. Quanto a Lisboa, falamos de um contexto diferente. A governação de Moedas conseguiu piorar os problemas da cidade, como a habitação, por exemplo. Tem havido, nos últimos tempos, uma tentativa de criar uma frente de esquerda contra a governação. As políticas, as medidas, estão acima de tudo o resto. No caso de Ponta Delgada, nos Açores, há a possibilidade de acabar com um tempo alargado de governação à direita [o concelho é do PSD desde 2009]. Seria vantajosa esta mudança”, explicita.Se foi possível um acordo a pensar em destronar Moedas em Lisboa, na restante área metropolitana não se encontraram as pontes necessárias. “Em Sintra, houve contactos, mas o PS disse não estar interessado. Na Amadora houve conversas com o Livre. Houve diálogos em muitos sítios, mas podemos falar do Algarve, por exemplo, no distrito de Faro, concretamente, que iguala Lisboa em termos de coligações: são cinco. Isso é significativo porque falamos de um distrito interessante, complicado politicamente, pelo crescimento do Chega”, reitera, elogiando o Livre no caminho feito desde o final de 2024: “Tem sido um trabalho significativo do Livre e do Bloco de Esquerda para encontrarmos pontes.” O crescimento eleitoral do partido de Rui Tavares ditou uma aproximação do Bloco, mas também do PS em vários municípios, recordando-se, por exemplo, que em Lisboa o PS cede três cabeças de lista em freguesias.Capitais de distrito e batalha no InteriorQuanto a capitais de distrito em Portugal Continental, o Bloco estabeleceu parceria alargada em Lisboa. Em Santarém e Castelo Branco concorre ao lado do Livre, e em Leiria com Livre e PAN. “Em muitos dos distritos, houve uma priorização das listas isoladas. Houve reuniões no Porto, em Beja, em Aveiro, todas estas com o Livre, mas não foram possíveis os acordos”, diz, descartando ligações ao PS nestes casos.“O caso do Porto tem particularidades, há divisões à direita, mas também à esquerda. Não sendo um cenário fácil, poderá ser possível manter um posto de vereação. Em Braga, considerámos que não fazia sentido o projeto político [do PS e de António Braga]. Em Coimbra, teremos o José Manuel Pureza, um candidato forte, com vida feita em Coimbra”, precisa Isabel Pires, em relação a três cidades com impacto no resultado eleitoral do BE em outubro. A dirigente corrobora que o Interior do país, e especialmente o Alentejo, continua a ser uma lacuna bloquista: “No Interior temos tido dificuldade em apresentar mais listas, mas teremos candidaturas às capitais de distrito. No Alentejo, já tivemos mais força do que temos, mas a discussão política está a ser dificultada pelo facto de ser disseminada de uma forma brutal uma política contra os imigrantes. São sítios que dependem de trabalho dos imigrantes, mas há uma discrepância entre o que temos no país e como as coisas são percecionadas. Temos de fazer um trabalho de fundo, de inverter a dinâmica, de sermos ‘formiguinhas’ para esta pedagogia.” Conta até que o Bloco procurou o PCP em Beja, mas que “não houve abertura” para qualquer coligação. Aliás, como o DN noticiou, o PCP concorre apenas com os Verdes, com a sigla CDU, em todo o território. Desejo de aumentar o pecúlio de cinco vereadoresNo Bloco desde os 18 anos (2008), a dirigente que integra a Mesa Nacional e a Comissão Política recusa, porém, que a justificação de não concorrer a todos os concelhos derive de uma falta de bases ou militantes. “Há alguns concelhos a que não vamos, mas onde já não íamos. Não houve uma alteração significativa. Há uma mobilização interessante, importante, novas pessoas no partido, que se juntam a pessoas que fazem isto há mais tempo.”“Queremos em cada eleição, pelo menos, manter os eleitos, idealmente aumentar. Temos menos vereadores, mas eles fazem uma diferença significativa”, destaca quanto aos objetivos. O Bloco passou de 12 vereadores em 2017 para cinco em 2021 (Lisboa, Porto, Almada, Salvaterra de Magos e a independente Carla Castelo em Oeiras). Como tal, há sensibilidade dentro do partido para compreender que as fasquias não podem ser muito elevadas.“Nessa altura, ao cairmos de 12 para cinco vereadores, já percebíamos as dificuldades da esquerda. Foi uma campanha autárquica muito difícil, houve instabilidade, anos complicados, que pode explicar esse resultado. Estamos confiantes no resultado final porque estamos a fazer as coisas de forma diferente”, assinala Isabel Pires, justamente mencionando as coligações que o partido tem vindo a ultimar. Voltar aos 12 vereadores parece, atualmente, uma meta difícil de alcançar no dia 12 de outubro, mas a tarefa de recuperar do baque das legislativas já poderá ser um importante medidor de confiança dos eleitores no partido. .Bloco de Esquerda concorre sozinho em Aveiro.PS mais disposto a coligar-se aposta fichas no PAN e Livre