Ativistas encostam-se à parede na Avenida de Roma para denunciar operação no Martim Moniz
"Se no Casal da Mira (Amadora) estiverem cem pessoas duas horas encostadas à parede" numa operação da polícia, trata-se de "uma segunda-feira" normal, mas "na avenida de Roma seria um escândalo", afirmou à Lusa Nuno Ramos de Almeida, dirigente do movimento Vida Justa.
Instantes antes, o ativista estivera nessa posição, numa iniciativa para promover a manifestação "Não nos encostem à parede", que se realiza no sábado.
Dirigentes do coletivo que organiza a manifestação e outros ativistas comportaram-se hoje como se estivessem a ser revistados pelas autoridades, à semelhança do que sucedeu no dia 19 de dezembro na rua do Benformoso, em Lisboa, numa ação da PSP criticada por vários partidos, associações antirracistas e dirigentes políticos.
"O objetivo desta iniciativa é recriar uma situação e demonstrar que a polícia não atua da mesma maneira com toda a gente", afirmou Nuno Ramos de Almeida.
"A polícia atua em territórios da periferia como uma espécie de força de ocupação" e "há uma forma de ver o outro como se não pertencesse à sociedade, como se não tivesse poder, como se não fizesse parte da democracia", referiu o dirigente, que integra a organização da manifestação de sábado.
No seu entender, "existe uma espécie de criminalização daqueles que são mais pobres, que estão na periferia ou os imigrantes", que corresponde a uma "escolha política" do Governo.
"Embora as estatísticas digam que os imigrantes não estão associados ao crime nem ao seu crescimento que não existe", o que se passa é a "apropriação de uma agenda populista que responsabiliza os imigrantes e os setores mais pobres da população pela criminalidade e pede repressão contra eles", explicou.
Por isso "colocamo-nos numa zona rica da cidade e dizemos que a polícia aqui não faz isso, respeita as pessoas", disse.
Quanto à manifestação de sábado, Ramos de Almeida espera a "presença de milhares" de pessoas para protestar contra a ação policial e diz não temer comparações de mobilização com a anunciada ação do partido do Chega, de apoio à PSP, agendada para o mesmo dia.
Este sábado está convocada a manifestação "Não nos encostem à parede" contra o racismo e a xenofobia com início às 14h30, na Alameda, em Lisboa.