Arruda, o ex-Chega que quer "reconquistar a Rua do Benformoso aos Mouros"
ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Arruda, o ex-Chega que quer "reconquistar a Rua do Benformoso aos Mouros"

Deputado alvo de buscas domiciliárias por suspeitas de furtar malas de viagem reencontrou no Chega a convicção política que "perdeu" nos socialistas. Processo de levantamento da imunidade pode demorar entre duas a três semanas. Miguel Arruda passou esta sexta-feira a deputado não inscrito - saiu do Chega.
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Antigo sargento, no quadro de Pessoal Militar Não Permanente do Exército, Miguel Arruda trabalhava como Técnico Superior Ambiente na MUSAMI – Operações Municipais do Ambiente EIM SA [empresa que desde 2006 recolhe e faz a gestão dos resíduos dos concelhos de Lagoa, Ponta Delgada, Povoação, Ribeira Grande, Vila Franca do Campo e Nordeste] antes de ser eleito, nas legislativas de 2024, e fazer história ao ser o primeiro deputado do Chega dos Açores a entrar na Assembleia da República.

Licenciado em Ciências Biológicas e da Saúde, com dois mestrados (em Ciências Biomédicas e Ambiente, Saúde e Segurança) e duas pós-graduações (Segurança Alimentar e Saúde Pública e Engenharia da Qualidade”, Miguel Arruda, considerado um dos mais ruidosos deputados do Chega, esteve na JS-Açores e PS-Açores, mas saiu por “deixou de acreditar” apontado culpas aos da família “César”.

A convicção perdida reencontrou-a no partido de André Ventura e no repetido apoio público ao Grupo 1143 liderado por Mário Machado, que considera ser “um preso político”.

A 29 de dezembro do ano passado, por exemplo, contestando a condenação de Mário Machado, que tinha pedido a "prostituição forçada das gajas do Bloco", Arruda reduziu o caso a umas “atoardas”.

“A minha consciência pesa mais alto do que as consequências políticas ou a censura. De pouco vale falar em surdina quando não se tem coragem de dizer em voz alta. - Mário Machado escreveu 'umas atoardas' e foi preso, e isso faz dele um preso político", escreveu na sua conta no X – que foi esta manhã eliminada.

O Grupo 1143, em resposta, partilhou uma mensagem de apoio: “Deputado Miguel Arruda, do Partido Chega, considera Mário Machado um Preso Político”.

Miguel Arruda, que diz ser preciso “reconquistar a Rua do Benformoso aos Mouros”, meses antes, em julho do ano passado, garantia existir “uma correlação clara entre a imigração e o crime”. E acrescentava que “basta visitar uma prisão portuguesa para perceber essa evidência” sem, contudo, ter dito se alguma tinha visitado.

Apesar da falta de esclarecimento dos factos tinha uma certeza: “Não nos atirem areia para os olhos, sff”.

O caso da malas, que já levou à sua saída do Chega – é desde esta sexta-feira deputado não inscrito -, revelou facetas que só agora, e por testemunhos de deputados, causavam estranhezas.

Uma deles, a conta na Vinted “miguelarruda84”, que negou ser sua, mas que mais tarde admitiu ser “uma coisa antiga”, apesar de ter sido somente criada há cerca de oito meses, e que a “esposa”, alegou, “fazia qualquer coisa deste género”. A RTP noticiou que o e-mail usado para a inscrição era o mesmo que deu ao Chega.

Outra estranheza, para além de andar “sempre cheio de malas”, era a mochila ”grande” que trazia quase sempre e onde dizia ter “dois garrafões com chá”.

Questionado na quinta-feira, na TVI, sobre as filmagens que indiciam que desviava malas do aeroporto, Miguel Arruda ensaiou uma explicação: “Perante as novas tecnologias, até podem aparecer imagens de inteligência artificial a demonstrarem isso”.

O deputado, que pesquisou “os inibidores da acetilcolinesterase em Hedychium gardnerianum dos Açores”, é defendido no caso das malas pelo advogado José Manuel Castro que é também secretário-geral do ADN, Alternativa Democrática Nacional, e advogado de Mário Machado.

A revista sábado revelou que na Declaração Única de Rendimentos, Património, Interesses, Incompatibilidades e Impedimentos de Miguel Arruda, que faz 41 amos em março, constam “créditos de 3.632 euros à Cofidis, de 14 mil euros e de 1.921 euros ao BNP Paribas, de 581 euros de Cartão Universo e de 28 mil euros à Caixa Geral de Depósitos”.

O deputado Miguel Arruda, do Chega, foi constituído arguido, por suspeita do furto de malas no aeroporto. Segundo fonte policial indicou à lusa em causa estão suspeitas de crimes de furto qualificado e contra a propriedade, tendo Miguel Arruda furtado malas dos tapetes de bagagens das chegadas dos aeroportos de Lisboa e de Ponta Delgada quando viajava de e para os Açores no início e no final da semana de trabalhos parlamentares.

Esta sexta-feira anunciou que vai meter "baixa psicológica" e regressar aos Açores. Em declarações à SIC Notícias, garantiu que a acusação de roubo o rebentou psicologicamente, até porque teve consequências na sua vida pessoal: "Rebentei psicologicamente. A minha família está um caco."

Por essa razão, irá regressar a São Miguel, nos Açores, sem data para regressar ao continente. "Não sei quando volto. Vou desligar o telefone”, assumiu.

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"As coisas não foram pacíficas." Chega protesta por causa de lugar de Miguel Arruda na AR

O caso

Na terça-feira, Miguel Arruda, deputado do Chega, foi alvo de buscas domiciliárias por suspeitas de furtar malas de viagem nos aeroportos de Lisboa e Ponta Delgada. A Polícia de Segurança Pública (PSP), que realizou a operação, apreendeu bens alheios ao deputado, incluindo relógios, roupa e outros bens.

No entanto, por ser deputado, não pode ser detido, nem sequer ouvido em tribunal, uma vez que goza de imunidade parlamentar. Mas pode vir a perdê-la.

Segundo a Constituição e os Estatuto dos Deputados, o levantamento da imunidade parlamentar é obrigatório “quando houver fortes indícios de prática de crime doloso a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo seja superior a três anos” - algo que se verifica no caso dos crimes dos quais o deputado é suspeito.

Para tal, é preciso um pedido do tribunal tem de pedir o levantamento da imunidade parlamentar ao gabinete de José Pedro Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República. Uma vez recebido, este pedido terá de ser aprecido na Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados (do qual Miguel Arruda faz parte enquanto suplente).

Se aprovado, o deputado deixará de ter imunidade parlamentar e poderá ser ouvido em tribunal.

Este processo pode demorar entre duas a três semanas.

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