O frente a frente televisivo entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, com os dois líderes partidários a trocarem argumentos no debate que será transmitido pela RTP, SIC e TVI, a partir das 20h30 desta quarta-feira, ficará marcado pelo apagão que privou todo o território nacional de eletricidade na segunda-feira. No dia seguinte ao que o primeiro-ministro disse ser “uma situação grave, inédita e inesperada”, o secretário-geral do PS destacou-se nos ataques ao Executivo da Aliança Democrática.“Este Governo falha sempre na resposta às crises, mas nunca falha na propaganda”, condenou Pedro Nuno Santos, numa conferência de imprensa realizada ao início da tarde desta terça-feira, referindo-se ao facto de, logo após a reposição do fornecimento de energia elétrica na maior parte do país, Luís Montenegro ter visitado a Maternidade Alfredo da Costa na noite de segunda-feira, poucos dias após várias urgências de obstetrícia terem sido encerradas durante a Páscoa. “Tivemos um apagão no Governo central, com ausência de liderança, de orientação e de apoio, quando o país mais precisava. Recordo que o responsável máximo da Proteção Civil é o primeiro-ministro”, disse ainda o líder socialista, para quem coube a milhões de portugueses “tomarem decisões difíceis, mas corajosas”, face à “ausência” do Executivo. E também elogiou as proteções civis municipais, deixadas “sem coordenação central”, dizendo ter sido esse “sentido de responsabilidade e solidariedade que manteve o país de pé enquanto o Governo falhava”. Reiterando o “quão incompetente este Governo é nos momentos de crise”, o secretário-geral do PS apontou os incêndios de 2024 e a crise no INEM como “momentos críticos” em que o Executivo de Luís Montenegro “desapareceu”, contrapondo a forma como a anterior governação socialista reagiu à pandemia de covid-19. E apontou o dedo à ausência de Margarida Blasco e Maria da Graça Carvalho, titulares das pastas da Administração Interna e do Ambiente e Energia, realçando que o mesmo ocorreu no passado recente com a ministra da Saúde, Ana Paula Martins. Ao que o DN apurou, a ministra não acompanhou o primeiro-ministro na visita à Maternidade Alfredo da Costa por se encontrar no Norte, em Vila Real, onde é cabeça de lista da AD - Coligação PSD/CDS. Na conferência de imprensa que fez minutos antes, Montenegro garantiu não temer que o apagão seja tema central na luta pelo voto nas legislativas de 18 de maio. “Os assuntos são aqueles que os protagonistas da campanha quiserem. Não tenho problema nenhum em discutir este, ou outro assunto qualquer”, disse, prometendo esforçar-se por esclarecer os eleitores sobre as propostas “para a continuação do ciclo de crescimento e de valorização da qualidade de vida dos portugueses”.As críticas também pautaram a reunião do Governo com representantes dos grupos parlamentares, com reparos de vários partidos à comitiva integrada pelos ministros da Presidência, Assuntos Parlamentares, Ambiente e Infraestruturas. António Leitão Amaro, Pedro Duarte, Graça Carvalho e Miguel Pinto Luz ouviram várias menções à “comunicação insuficiente”.Também não faltaram apelos dos partidos mais à esquerda para a renacionalização da REN - solução afastada por Pedro Nuno Santos, para quem “teríamos o apagão à mesma” se esta fosse pública -, mas também se ouviu Rita Matias, do Chega, dizer que Portugal está “vergado a Espanha” e à União Europeia no que toca à política energética. Quanto à constituição de uma comissão técnica independente para avaliar a gestão da crise, decidida em Conselho de Ministros, o facto de depender da tomada de posse dos próximos deputados, pois três dos sete membros serão nomeados pelo Parlamento, gerou nova ronda de críticas.