Ana Abrunhosa é candidata à liderança de Coimbra apoiada por PS, Livre, PAN e pelo movimento Cidadãos por Coimbra. Nascida em Cabinda, Angola, viveu na Beira Alta e em Coimbra, onde rumou aos 18 anos e agora leciona. Destaca em entrevista ao Diário de Notícias a força negocial que poderá dar a Coimbra dada a experiência como ministra da Coesão Territorial e como deputada.Como nasceu este desafio de correr por Coimbra? Conheço muito bem Coimbra e senti já há uns anos uma insatisfação com a governação de Coimbra e um potencial sempre por concretizar. Coimbra tem no seu ecossistema a universidade, o conhecimento, a sabedoria, o hospital, a saúde, é uma cidade com bons projetos de educação, tem o património, a cultura, as melhores empresas do mundo. Mas depois não há uma liderança, não há ninguém que consiga unir todas estes variáveis e fazer de Coimbra uma cidade dinâmica. Se não houver essa qualidade de vida, os jovens que se formam na universidade não querem ficar cá a viver e se não tivermos uma Câmara amiga do investidor, com regras claras, também os investidores acabam por desistir. Coimbra é Património Mundial da Unesco, não queremos correr o risco de perder esta classificação. Precisamos de aproveitar o rio e de trazer grandes eventos internacionais desportivos para Coimbra. Quando formos eleitos, as pessoas vão sentir a diferença na governação desde o primeiro dia, não precisamos de quatro anos para perceber se a pessoa sabe ou não sabe governar, há problemas que se resolvem num ano. Posso negociar no Terreiro do Paço, falar com o Banco de Fomento, ir a Bruxelas. Essas são as minhas competências. Um município não pode ser gerido como uma mercearia, vamos para Aveiro, Braga, Viseu e, sem tantas condições como nós, estão à nossa frente. Nas autarquias não deve contar a cor política, a experiência, programa e equipa são mais importantes. Hoje são as cidades a força motriz da economia. Em seu entender, quais foram as prioridades do presidente atual, José Manuel Silva? Não as tenho claras. Não sabemos qual é a ideia central deste Executivo, num dia ouvimos falar de um projeto da Casa das Coletividades, mas afinal custa 38 milhões e não há dinheiro. Na outra semana, ouvimos falar de um Plano Marshall para a Baixa e vemos o comércio a definhar, as pessoas com algum sentimento de insegurança. Já começamos a ter, mas precisamos de mais empresas tecnológicas, mais habitação e os serviços da câmara na Baixa. Quando for eleita vou viver para a Baixa para demonstrar, precisamente, que é possível viver, transformá-la num distrito de inovação. As empresas tecnológicas, sabemos, não querem ir para parques fora da cidade, a cidade de Coimbra tem de ser um parque de ciência e tecnologia. Vemos um presidente que anuncia agora estratégias: ao fim de quatro anos é que anuncia estratégias. ."A propriedade é um direito, é verdade, mas o direito à segurança, não é? Se a via do diálogo não resultar, a lei dá-nos mecanismos para podermos atuar"Ana Abrunhosa, ex-ministra e candidata à CM de Coimbra..Em relação à habitação, são os devolutos o maior problema? Coimbra é a terceira cidade do país com mais casas fechadas em condições de serem habitadas. Temos mais de sete mil casas e estes são dados do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana. Ora, a câmara tem aqui um papel determinante: o de falar com os proprietários, o de criar incentivos para o arrendamento. Temos ruas quase inteiras com edifícios totalmente devolutos. A câmara tem de incomodar. A propriedade é um direito, é verdade, mas o direito à segurança, não é?! Quando temos casas devolutas a cair, sobrepõe-se ao direito de propriedade. Não estou com isto a fazer ameaça nenhuma. Só estou a dizer que estaremos presentes, falaremos com todos e esgotaremos a via do diálogo. Se a via do diálogo não resultar, a lei dá-nos mecanismos para podermos atuar. Temos um problema gravíssimo quanto aos preços, podemos falar de alguns T2 a 400 mil euros para venda. Temos de tentar regular o preço de mercado com uma bolsa de casas do município, camarárias. Falo de custos acessíveis, de construirmos pelo menos 1.000 casas a custos acessíveis.O Metrobus é uma obra em curso. Concorda com os benefícios para Coimbra?É algo de bom que vai permitir uma mobilidade sustentável, que vai dar mais liberdade de escolha em termos de habitação por se poderem utilizar o sistema de mobilidade do Mondego. Mas as obras não podem ser pretexto para termos uma cidade suja. Hoje, pode circular-se numa rua, amanhã já não. Há uma gestão destas obras que foi mal conduzida, que não ofereceu alternativas à população, porque se as pessoas ou as famílias não podem levar as suas crianças à escola porque a rua está fechada compete à autarquia oferecer solução de transporte público. É uma estratégia aproveitar a colocação de Coimbra entre Lisboa e Porto, de modo a fixar jovens?Coimbra deve ser uma referência, é uma cidade de média dimensão, na qual temos de apostar muito no espaço público, para ser o local de habitação para muitas pessoas que trabalham para o mundo. Somos talvez das cidades que têm mais médicos ou profissionais de saúde por mil habitantes, temos excelentes escolas e todas as condições para fixar jovens famílias. Os conimbricenses espalhados pelos quatro cantos do mundo são também o nosso grande ativo e muitos deles têm de ser acarinhados, convocados para os projetos de Coimbra e para morar aqui. O autarca tem de fazer todo o possível para, o mais rapidamente possível, encontrar um espaço para a empresa que o procura e que vai empregar centenas de jovens. Ora, esses espaços existem e se não existem em espaços de meses têm de passar a existir. Referiu ser uma candidata independente com lastro na academia. Há dez anos seria possível um perfil como o seu ser apoiado pelo PS?Não. E eu só posso saudar esta abertura do Partido Socialista. As últimas eleições trazem-nos lições porque os partidos têm de se abrir porque se nos fechamos passamos a falar uma linguagem que as pessoas não entendem. Estamos a falar de uma coligação que tem partidos de esquerda e no final do fórum que organizámos, as duas medidas mais votadas foram o Simplex Urbanístico e a ideia de uma agência de investimento. Não deixa de ser curiosa a preocupação com a competitividade e de acabar com a burocracia até numa coligação à esquerda. Não há um dia que não ande nas ruas e não sinta que temos de incluir aquela medida no nosso programa ou que não sinta a validação de muitas das medidas que estamos a colocar nos nossos programas.."O convite foi feito por Pedro Nuno Santos alinhado com a concelhia. Carneiro deu-me apoio, temos uma boa relação. Não colocamos outra hipótese que não seja vencer"Ana Abrunhosa, ex-ministra e candidata à CM de Coimbra..José Luís Carneiro teve papel nos candidatos escolhidos?Tanto Pedro Nuno Santos como José Luís Carneiro foram meus colegas de governo. O desafio foi-me feito depois das Legislativas, fui cabeça de lista por Coimbra nas últimas eleições, nas anteriores. O convite foi feito por Pedro Nuno Santos alinhado com a concelhia. José Luís Carneiro disse-me ao telefone que ia ser candidato, disse-lhe que iria ter uma responsabilidade acrescida, felicitei-o até porque já tinha ido a eleições. Temos uma relação boa. Deu-me apoio. Sou independente precisamente para não me meter nestas coisas. Tenho o partido comigo forte em Coimbra, é o que me preocupa. Sente-se completamente integrada no PS?Totalmente. Tenho uma relação maravilhosa com as pessoas do PS. Há pessoas de enorme valor no partido. Foi ministra da Coesão Territorial. O que viu nessa tutela?Fui convidada por António Costa, criei um ministério e isso foi um desafio gratificante e exigente. Quisemos garantir que os territórios mais frágeis tinham políticas diferenciadoras, considerámos que eram as autarquias que poderiam saber mais do que o Estado. O Governo de António Costa foi dos que mais descentralizou. Passei muitas competências dos ministérios para os municípios, de forma a terem mecanismos para o desenvolvimento regional. Para minha alegria, Montenegro manteve este ministério [agora está ligado ao da Economia], com importância política grande. Tomarmos as regiões com proximidade permite maior eficácia e que haja codecisão, pensar com as pessoas, entidades e empresas. Temos o exemplo do PDM [Plano Diretor Municipal] é uma carta que atribui funções, é preciso ser revisto. Há alterações que são necessárias. Se o PDM não prever isso não conseguimos construir. Não só na floresta, mas também na gestão das cidades e das redes de cidades, queremos ser um farol no Centro. É importante evitar a bicefalia Porto-Lisboa. A Concelhia do PS de Coimbra registou um aumento de inscrições no partido antes das eleições e suspeitou-se de uma potencial fraude. Há um cuidado salvaguardado para este tipo de situações?Não percebo nada disso. Nem quero. Estou na causa pública desde a universidade, fui governante, deputada, mas não faço política dentro dos partidos.José Luís Carneiro disse querer ganhar Lisboa, Porto, Braga e Coimbra. Isso gera pressão?Estamos com vontade de vencer, nem colocamos outra hipótese. Todos os dias sinto que somos mais e que temos Coimbra connosco. Ainda agora ouvimos o senhor reitor dizer que a câmara impediu projetos importantes. Tem de ser a câmara a puxar pela universidade para fazermos avançar Coimbra. Temos ambição e queremos colocar todos a trabalhar em conjunto. Queremos ganhar Coimbra pelos conimbricenses..Autárquicas. Coimbra, do levantar ao ganhar vai uma enorme montanha para os socialistas.José Manuel Silva recandidato a Coimbra: "Fazemos a maior transformação desde a construção da Universidade".PS mais disposto a coligar-se aposta fichas no PAN e Livre