O Parlamento recebeu esta sexta-feira a cerimónia oficial do 25 de Abril, mas a comemoração, com música, que estava marcada para os jardins da residência oficial do primeiro-ministro, foi adiada para dia 1 de Maio, devido ao luto nacional pela morte do Papa Franciso.
O Parlamento recebeu esta sexta-feira a cerimónia oficial do 25 de Abril, mas a comemoração, com música, que estava marcada para os jardins da residência oficial do primeiro-ministro, foi adiada para dia 1 de Maio, devido ao luto nacional pela morte do Papa Franciso.Leonardo Negrão

Adiamento da comemoração do 25 de Abril marca reações dos partidos. Maioria promete ir à Avenida da Liberdade

Entre os 50 anos que passaram desde as primeiras eleições livres e a evocação do Papa Francisco, o líder parlamentar do PSD falou em "moderação" nas comemorações e criticou "polémicas estéreis".
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"O Governo participou e participará nas cerimónias do 25 de Abril", assegurou esta sexta-feira o líder parlamentar do PSD, Hugo soares, classificando como uma "polémica estéril" as várias reações dos partidos perante as alterações na celebração da Revolução dos Cravos.

"A única coisa que o Governo adiou, e creio que qualquer português entende, eram os concertos da festa que iam acontecer na residência oficial do primeiro-ministro", completou, acrescentando que "os portugueses sabem que não é compaginável haver concertos de música e festividades ao mesmo tempo que o Governo e o seu Presidente da República decretaram luto nacional" pela morte do Papa.

"Nós não podemos, por um lado, aplaudir três dias de luto nacional e ao mesmo tempo estarem os jardins da residência oficial do primeiro-ministro em festa com concertos", insistiu.

Com a promessa de que, para além da participação na cerimónia oficial do 25 de Abril irá descer a Avendida da Liberdade, em Lisboa, a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, argumentou que, apesar do falecimento de Francisco, é importante "festejar aqui estes valores que são intemporais".

Recordando que nesta sexta-feira comemoram-se também, para além da Revolução dos Cravos, os "50 anos das primeiras eleições livres, no caso para a Assembleia Constituinte", alexandra Leitão destacou que foram as primeiras eleições "em que as mulheres puderam votar independentemente da sua circunstância".

"Isso não pode, não deve e não vai passar sem a devida homenagem, a devida comemoração aqui na Assembleia da República e, para quem quiserem, seremos seguramente muitos milhares na Avenida [da Liberdade", completou.

Também a líder parlamentar da IL, Mariana Leitão, destacou o "marco histórico" que são "os 50 anos das primeiras eleições livres, onde todos puderam votar independentemente de qualquer situação, inclusivamente as mulheres", e aludiu às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa para enaltecer "o trabalho dos invisíveis, daqueles que estão nos bastidores e que também contribuíram de forma decisiva para todo o processo democrático: as pessoas que estão nas mesas de voto".

Mariana Leitão aproveitou a ocasião da celebração da democracia para lembrar que "o país está numa situação complicada" e apelar a uma mudança, no dia 18 de maio, afirmou, expressar o voto que a mudança traga "um futuro diferente".

Para a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, e de acordo com "quase todas as intervenções" que ouvira na cerimónia, "não há nenhuma incompatibilidade em respeitar o Papa Francisco e a sua mensagem e celebrar a liberdade e a democracia, pelo contrário".

Argumentando que "as duas mensagens encontram-se", a líder bloquista disse que foi isso que retivera do discurso de Marcelo, na mesma medida em que é isso "que o país retém quando mostrou ao Governo que fez mal em desvalorizar o 25 de Abril e ao cancelar as celebrações".

"A data do 25 de abril não se adia, nós esperámos 48 anos pela democracia, tivemos a mais longa ditadura da Europa, nós não adiamos nem atrasamos a celebração do dia em que conquistámos a democracia, em que conquistámos o voto universal. Nós não adiamos a celebração do dia em que as mulheres puderam pela primeira vez na história portuguesa", defendeu, enquanto explicava que "o 25 de Abril também é uma ideia de país".

"Também é a ideia de que somos todos iguais, é uma ideia de empatia, que somos capazes de olhar para o outro e reconhecê-lo como um de nós, ver o que há de humano no outro e, hoje mais do que nunca, perante o genocídio que Israel está a fazer contra o povo palestiniano, com a guerra na Ucrânia, com a escalada armamentista e militar, com o discurso de ódio e de divisão que usa os imigrantes, as mulheres para fomentar as divisões da sociedade portuguesa, acho que devemos invocar essa grande ideia de Abril", sublinhou.

"Tenho a certeza que essa também é a principal mensagem com que ficamos do Papa Francisco", cncluiu.

O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, aproveitou a "data importantíssima da nossa história", para afirmar que o 25 de Abril "não é uma festa, é uma grande comemoração, uma comemoração histórica do nosso povo, conquistada com muita luta, muita determinação, muita coragem, dessa revolução que pôs fim ao fascismo no nosso país e que abriu um caminho de esperança, de conquistas e valores".

Lembrando que o 25 de Abril "abriu o caminho para o Serviço Nacional de Saúde, para o acesso à habitação, para os direitos dos trabalhadores, para o salário mínimo, para as respostas às creches, para acabar de uma vez por todas apostar na educação, para abrir caminho para a justiça e para a igualdade", o líder comunista disse que é esse o caminho que é preciso retomar, "para responder às necessidades da maioria e de uma vez por todas acabar com este retrocesso de uma política ao serviço que em nome de uma maioria está sempre ao serviço de uma minoria".

"As festas podem-se adiar, as comemorações populares, esta data histórica do nosso povo, não há nenhuma possibilidade de ser adiada, e portanto aqui estamos, aqui estamos hoje do ponto de vista institucional, como estiveram milhares de pessoas ontem nas ruas em todo o país, como vão estar hoje milhares de pessoas logo à tarde por todo o país e aqui na Avenida da Liberdade, em Lisboa, onde eu terei o prazer também de estar, numa grande afirmação destes valores", prometeu.

Afinada com as mensagens anteriores, também a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, evocou o 25 de Abril e assinalou os 50 anos do voto livre, argumentando que esta data "não é só a esperança na igualdade, para combatermos um dos maiores flagelos que o nosso país atravessa, que é o da violência doméstica", mas também a garantia de "que no próximo dia 18 de Maio" haverá "um voto útil no combate a este flagelo".

Lamentando que nem o Presidente da República nem o presidente da Assembleia da República tenham "lembrado a crise climática e o necessário esforço que temos que fazer enquanto coletivo para combater as alterações climáticas", Inês de Sousa Real afirmou que "o legado de Papa Francisco também nos convoca para protegermos a nossa casa comum".

Com a promessa de que "o Chega não participará, nem em desfiles em Avenidas da Liberdade, nem em nenhuma outra avenida do país, porque não é com desfiles simbólicos na mão que se resolve o problema da corrupção, que se resolve o problema dos salários, que se resolve o problema da saúde e da falta dela em Portugal", André Ventura foi uma voz dissonante que defendeu que o 25 de Abril "deveria ser um dia de assumirmos o que foi mal feito e tanto está mal feito, mas também um dia de soluções e um dia de capacidade de pôr o dedo na ferida".

"Hoje não usei o exemplo da Celeste [Caeiro] por qualquer coisa. Usei-o porque ele evidencia bem o reino da nossa hipocrisia nesta matéria. Que é a própria pessoa que criou a simbologia dos cravos morreu sem saúde numa urgência à espera de ser atendida. E eu acho que isto diz tudo sobre o 25 de Abril e sobre a forma como nós o celebramos", concluiu.

O Parlamento recebeu esta sexta-feira a cerimónia oficial do 25 de Abril, mas a comemoração, com música, que estava marcada para os jardins da residência oficial do primeiro-ministro, foi adiada para dia 1 de Maio, devido ao luto nacional pela morte do Papa Franciso.
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