No púlpito, no Parlamento, logo abaixo das duas principais figuras do Estado - o Presidente da República e o Presidente da Assembleia da República -, havia várias rosas brancas, cuja tonalidade foi quebrada por dois cravos vermelhos, um deles colocado lá por Mariana Mortágua. André Ventura, antes de acusar a esquerda de conviver “mal com a liberdade”, deixou claro que este dia “não era de cravos vermelhos”, por isso, removeu-os antes da sua intervenção. Para assinalar o 50.º aniversário do 25 de Novembro, por seu turno, Marcelo Rebelo de Sousa vincou que, naquele dia, em 1975, só houve um vencedor: “A pátria.” À esquerda, a líder do Bloco de Esquerda, com um cravo na lapela, argumentou que esta “não é uma evocação da democracia”, mas “uma tentativa de reescrever a sua História”. O dia acabou assim marcado por divisões, tentativas de acalmar os ânimos e trocas de flores. O PCP não esteve presente na sessão, por considerar que era um “ajuste de contas” com o 25 de Abril.Perante convidados, incluindo o antigo Presidente da República António Ramalho Eanes, os partidos mostraram as suas perspetivas sobre um momento que a maioria parlamentar considerou de consolidação da democracia.A encerrar a sessão solene dos 50 anos do 25 de Novembro, numa mensagem conciliadora, o Presidente da República defendeu que pouco importa quem saiu derrotado há 50 anos.Com uma evocação da Carta de Bruges, escrita no século XV por D. Pedro, Marcelo Rebelo de Sousa disse que o infante “acreditava que a maior virtude era a temperança”, isto é, o equilíbrio, que, segundo o chefe de Estado, foi o que prevaleceu no 25 de Novembro. Marcelo vincou a vitória do “equilibro, da sensatez, da moderação”, acrescentando que “o 25 de Novembro talvez tenha sido mais evidente do que tantos lances durante a revolução”.Sublinhando que os portugueses estão “unidos no essencial”, o Presidente terminou com: “Viva o 25 de Novembro, viva o 25 de Abril, viva a democracia, viva a liberdade, viva Portugal.”Antes de Marcelo, já o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, dissera que, cinco décadas volvidas, ainda “é estranho ouvir dizer que o 25 de Novembro é uma data que divide” em vez de agregar, porque se trata “de uma apropriação”. De acordo com Aguiar-Branco, “é estranho ouvir falar em Abril em Novembro” e vice-versa. Para o presidente do Parlamento, esta data mostra que não se deve “dar a democracia por adquirida”. Falando para alunos de duas escolas, presentes no Parlamento, referiu que “a democracia liberal” é o único espaço onde todas estas diferentes perspetivas podem ser conjugadas.Por parte do PSD, já depois do discurso mais disruptivo de André Ventura, o deputado Pedro Alves chegou ao púlpito com uma atitude conciliadora, ao repor os cravos vermelhos. Afinal, diz, “este dia é de todos”.Agradeceu a Ramalho Eanes, a figura “mais importante” desta data, e identificou o 25 de Novembro como “a afirmação da soberania do povo”. “Não foi um contragolpe, nem um episódio secundário”, afirmou, e terminou dizendo que, “se o 25 de Abril salvou o país do fascismo, o 25 de Novembro garantiu a transição para um regime democrático”.André Ventura evocou a data falando na primeira pessoa do plural, com a ideia de que “evitámos que a extrema-esquerda fizesse aquilo que melhor sabe fazer: matar, expropriar, acabar com a liberdade, amordaçar”. Falando em “milhões de democratas” que impediram que Portugal se transformasse numa “Cuba do Ocidente”, o líder do Chega, virando-se para as bancadas à esquerda, prometeu: “Diremos sempre não à vossa tirania.”O deputado do PS Marcos Perestrello, antes de Ventura, recordara as palavras de Mário Soares, quando disse que esta data foi “um recomeço, um regresso à pureza inicial do 25 de Abril”, além de ter sido “uma vitória do PS e dos democratas, que se lhe juntaram sobre as forças não-democráticas de esquerda e de direita”. Criticou por isso a “péssima ideia” do Governo de comemorar o 25 de Novembro, como acontece este ano.A líder da Iniciativa Liberal, Mariana Leitão, começou por dizer que o “PREC [Processo Revolucionário em Curso], guiado por uma ideologia arcaica e sempre falhada, ameaçava transformar Portugal num país sem pluralismo, sem propriedade, sem voz”. Recordou as “nacionalizações feitas à pressa, empresas destruídas, direitos atropelados, tudo em nome de uma promessa que nunca foi verdadeira”.A representar o Livre, o deputado Jorge Pinto iniciou a intervenção recordando que a data fundadora da democracia é o 25 de Abril e que “quem quer comemorar o 25 de Novembro são os derrotados dessa data”, assinalando esse dia, porém, como histórico.Na conclusão, Jorge Pinto citou o documento do Grupo dos Nove, no qual era defendido um Portugal europeu. Na sua intervenção, o líder parlamentar do CDS, Paulo Núncio, acusou o PREC de ter encarnado “uma nova via repressiva e autoritária, com mandados de captura em branco”, entre “março e outubro de 1975”, que levou à detenção em Caxias de “440 presos”, “por razões políticas”. “Em Portugal, nunca mais pode acontecer”, atirou.Mariana Mortágua lembrou que “no 25 de Abril o povo livrou-se de um regime corrupto”, afirmando que “Abril não é uma data, nem uma cerimónia”. “Não está ao vosso alcance diminuí-lo”, sublinhou a líder do BE, numa mensagem às bancadas mais à direita do hemiciclo.Inês de Sousa Real considerou que esta data é “tantas vezes usada como arma de arremesso” e serviu para estabelecer que “a democracia não era um parênteses e seria a regra”. Para a líder do PAN, o 25 de Novembro mostrou que “um povo dividido pode encontrar chão comum”.O deputado do JPP, Filipe Sousa, acusou “alguns” de andarem “a brincar com os discursos incendiários. Há 50 anos, Portugal esteve em risco de perder a democracia conquistada com o 25 de Abril”, lembrou..25 de Novembro. Marcelo evoca D. Pedro, Ventura retira os cravos e PCP fala em "menorizar o 25 de Abril".25 de Novembro: Partidos dividem-se entre “reconciliação” e “ajuste de contas com o 25 de Abril”