António Tânger Corrêa e André Ventura em Sintra na ação de campanha do Chega.
António Tânger Corrêa e André Ventura em Sintra na ação de campanha do Chega.Leonardo Negrão / Global Imagens

Ventura e Tânger em desacordo sobre apoio a António Costa para cargo europeu

No debate das rádios, o último que antecede as Eleições Europeias, os partidos com assento parlamentar foram consensuais ao criticar o Chega por declarações contra imigrantes que consideram ser xenófobas.
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André Ventura reiterou esta segunda-feira que o Chega não vai apoiar o ex-primeiro-ministro, António Costa, para um alto cargo europeu. Estas declarações do líder do Chega, não sendo inéditas, configuraram um desacordo com o cabeça de lista do partido para as europeias, António Tânger Corrêa, que um dia antes, em entrevista à RTP, admitiu que o antigo chefe do Governo “não seria um mau candidato, objetivamente”, “por ser português”.

Já em declarações à SIC e à CNN, antes de iniciar a primeira ação de campanha de ontem, Tânger Corrêa voltou a dizer que a única vantagem de Costa para um alto cargo europeu é o facto de ser português. “Eu dou-me bem com António Costa. Aliás, é o timbre de um diplomata dar-se bem com as pessoas. Ele tem família em Goa. Eu ajudei muito a família dele, quando não era ninguém, mas ajudei a família dele. E a partir daí criámos, enfim, uma relação franca e com alguma coisa”, afirmou.

Tiago Petinga / Lusa
Carlos Moedas, o presidente da câmara de Lisboa, juntou-se esta segunda-feira a Sebastião Bugalho numa ação de campanha.

Confrontado com estas declarações de Tânger Corrêa, André Ventura, durante uma ação de campanha no Concelho de Sintra, garantiu que o Chega não vai “apoiar António Costa”. “O que nós não queremos para o nosso país, não queremos para a Europa”, rematou.

José Sena Goulão / Lusa
Marta Temido, acompanhada por António Vitorino, do PS, visitou esta segunda-feira a Feira do Livro de Lisboa.

De acordo com o presidente do Chega, o que Tânger Corrêa “disse é que alguém que foi primeiro-ministro em Portugal, como em toda a Europa, é objetivamente um candidato que pode ser apresentado ao Conselho Europeu”, sublinhou, garantindo que “está fora de questão” apoiar António Costa.

Sobre o Orçamento do Estado para 2025, André Ventura admitiu que o seu partido não pretende “chumbar por chumbar”, no entanto, deixou um aviso ao primeiro-ministro: “Se o Orçamento for no sentido do que têm ido estas medidas de Luís Montenegro, desta desilusão permanente, há condições difíceis para isso”.

Durante a mesma arruada, que decorreu na zona residencial de Algueirão-Mem Martins, António Tânger Corrêa mostrou-se afinado com André Ventura no que diz respeito ao Orçamento do Estado, mas manteve-se em silêncio sobre qualquer outro tema.

António Pedro Santos / Lusa
João Cotrim de Figueiredo, candidato a eurodeputado da IL, acusou o Chega de declarações xenófobas.

“Não é o nosso objetivo, neste momento, deitar abaixo o Governo”, destacou, recusando abordar outros assuntos.

Também nesta segunda-feira, durante o debate das rádios, o Chega foi criticado por todos os partidos com assento parlamentar, quando Tânger Corrêa afirmou que em Vila Nova de Milfontes, num espaço comercial, havia “pressão noite e dia” por parte de imigrantes a comerciantes portugueses.

O cabeça de lista da AD às eleições europeias, Sebastião Bugalho, respondeu a Tânger Corrêa afirmando que “o problema não é o excesso de imigrantes”. Para Sebastião Bugalho, “isso não existe.”

“O problema é o excesso de imigrantes que não foram regularizados e protegidos. Não podemos tratar os imigrantes como criminosos. Neste momento os imigrantes, em Portugal, são é vítimas de crime”, destacou o candidato a deputado pela AD.

António Pedro Santos / Lusa
Pedro Fidalgo Marques, do PAN, à chegada aos estúdios da RTP, onde decorreu o debate das rádios.

A cabeça de lista do PS, Marta Temido, também rejeitou que Portugal esteja a explorar imigrantes e criticou a posição do Chega, que acusou de os criminalizar. “O que me preocupa é quando oiço, como ouvi neste debate, candidatos de forças políticas a dizerem que é necessário dar destino aos imigrantes que cá estão. Dar destino? São por acaso objetos? Oiço dizer que é preciso ter um Blue Card mais baratinho. Isso é que me preocupa porque mostra bem aquilo a que vimos.”

Por parte da Iniciativa Liberal, o cabeça de lista do partido, João Cotrim de Figueiredo, disse que o que o candidato a eurodeputado do Chega fez foi dizer que há um “problema de ordem pública, ou até de coação, associado a imigrantes quando é uma coação condenável fosse qual fosse o perpetrador”.

“Não me venha dizer que não há portugueses que fazem o mesmo, se calhar por vários centros comerciais por aí fora”, rematou Cotrim de Figueiredo, recusando que este tipo de crime seja exclusivo de imigrantes. “É totalmente indiferente a nacionalidade do infrator, neste caso e associar uma coisa à outra parece-me os tais laivos de xenofobia e de racismo que perpassam o discurso do Chega”, concluiu.

A candidata do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, afastou a hipótese proposta por Tânger Corrêa de que 400 mil imigrantes em situação não-regularizada estejam à espera de entrar no mercado de trabalho. “As 400 mil pessoas que estão à espera de regularização estão a trabalhar, o seu processo de regularização não é para entrar no mercado de trabalho”, afirmou, enquanto considerou que a posição do Chega “é mentirosa”.

Afirmando que os imigrantes já estão sujeitos a exploração, o candidato da CDU, João Oliveira, defendeu que Portugal precisa de uma “política migratória” que “se foque na regularização dos processos dos imigrantes”.
Para o Livre, representado no debate pelo seu cabeça de lista às Europeias, Francisco Paupério, Portugal tem de ter “fronteiras abertas com segurança”, defendendo que “esta reforma recente foi no sentido correto”.

Acusando o candidato do Chega de proferir “acusações sem depois ter consequência”, o cabeça de lista do PAN, Pedro Fidalgo Marques, afirmou que associar aumento da imigração a aumento da criminalidade “é erro”.

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