"Antes das férias, para haver notícias políticas, era preciso discutir o caso das gémeas”, lembra ao DN o professor catedrático de Ciência Política do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP), José Adelino Maltez, questionado sobre a importância dos vários eventos que vão marcar a vida partidária ao longo das próximas semanas..Os sinais de vida dos partidos começam na Festa do Pontal, dos sociais-democratas, e vão até até à Academia Socialista, do PS. Pelo meio, aparece a 48.ª edição da Festa do Avante!, organizada pelo PCP, que configura, em participação, o maior evento partidário de Portugal, e vai até à 4.ª edição da Academia Política do Chega. Todos os partidos com assento parlamentar regressam assim às lides políticas, mas não há semelhanças com o ano passado: o Parlamento está agora fraturado, com um Governo sem maioria e com dois partidos na oposição - PS e Chega -, dos quais depende a aprovação do Orçamento do Estado para 2025, que marca o verdadeiro regresso ao trabalho..Sobre o debate em torno das contas públicas do próximo ano, já a partir de setembro, ainda não há um desfecho. O documento tem de estar consolidado em novembro, aprovado pelo Parlamento..Até esse momento, os partidos, tal como acontece anualmente, têm de fazer valer os teus objetivos. E o Governo tem de convencer a oposição ou ceder..“Aí vai ser precisamente o demarcar político dos partidos, do ponto de vista da continuação da estratégia eleitoral, porque, no fundo, os programas eleitorais vão estar muito presentes”, explica ao DN Paula do Espírito Santo, investigadora e professora também no ISCSP..“O orçamento certamente será viabilizado, mas com contrapesos que têm de ser colocados pelo Governo”, continua a professora, acrescentando que “neste momento cada um [dos partidos] está por si.”.Por agora, a estratégia passa por mostrar publicamente ao que vêm os partidos, aclimatando Portugal para o grande debate anual sobre as contas do Estado. Para isso, os partidos recorrem a festas culturais, populares, comícios, jantares, encontros e escolas temporárias que têm a dupla valência de manter as forças políticas a pulsar e ainda serve para recrutar novos quadros..“Os partidos têm subsídios públicos e, portanto, em momentos de falta de mobilização têm que inventar esquemas de interesse para poder justificar o que recebem”, sustenta Adelino Maltez..“Só que o verão aqui coincide com a véspera das posições sobre o Orçamento de Estado”, às quais se juntam “crises graves na cogestão de alguns setores públicos que gastam mais do Orçamento do Estado, como a Saúde”, sublinha o professor, enquanto recorda os casos que se têm acumulado em torno da ministra Ana Paula Martins, depois de divergências com organismos públicos, como o INEM..Ainda assim, continua o politólogo, “quando se vê notícias do mundo, da América, do Reino Unido, há aqui uma capacidade de a política ter estabilidade.”.“Portanto são fatores extra-políticos que revelam, em vez de uma crise política, uma normalidade”, remata Adelino Maltez..Tradição partidária anual.Questionada sobre o objetivo destas rentrées, Paula do Espírito Santo revela dois motivos para que aconteçam: “Do ponto de vista mediático é importante assegurar que o partido vai ter visibilidade”, para além de configurar uma “renovação do ciclo político dos partidos, como se houvesse um histórico que acompanha a própria atividade parlamentar.”.O PCP é o partido que tem a agenda mais apertada nestes dias e já iniciou um primeiro momento da rentrée (um termo que os comunistas não utilizam), com um jantar em Odivelas na passada sexta-feira, e, no dia seguinte, com um almoço em Fronteira, no Alentejo. Mas estes dois encontros não se comparam com a celebração magna comunista, que desde 1990 acontece na Quinta da Atalaia, no Seixal. A estreia da Festa do Avante! foi em 1976, na antiga FIL (o atual Centro de Congressos de Lisboa). A edição deste ano --a 48.ª - acontece entre 6 e 8 de setembro, com um cartaz cultural que rivaliza com festivais de verão, mas com uma aposta mais variada, que vai desde mostras de cinema, teatro, gastronomia, desporto, muita oferta musical, nacional e internacional, desde Sérgio Godinho ao punk rock brasileiro dos Garotos Podres, e culmina no habitual comício, com a expectável intervenção do secretário-geral do partido, Paulo Raimundo..Seguindo a cronologia, a vida política é reanimada, já esta semana, com a Festa do Pontal, no dia 14 de agosto, em Quarteira. O cartaz não tem rodeios: há intervenções do líder do PSD Algarve, Cristóvão Norte, e do presidente social-democrata, Luís Montenegro. Para além do jantar, está anunciado um concerto de José Cid. Mas os sociais-democratas reservam ainda, de 26 de agosto a 1 de setembro, a sua habitual Universidade de Verão, em Castelo de Vide. O programa não está fechado mas, para além das figuras cimeiras do PSD, os sociais-democratas seguem a tradição de convidar oradores de outras forças políticas..Sobre os centristas, não se sabe muito sobre a sua rentrée. Para já, será algures no distrito de Aveiro e no final de agosto..A 24 de agosto, a IL celebra este mês com uma aliteração: A’gosto da Liberdade é a rentrée dos liberais, com música, animação, jantar e a intervenção do líder do partido, Rui Rocha, para já, sem surpresas..O Chega segue uma receita muito parecida com a do PSD, com um jantar em Olhão, em 22 de agosto, que antecipará a IV Academia Política da Juventude do partido, agendada para 13 e 15 de setembro, em São Pedro do Sul. Com o mote “Contra Tudo e Contra Todos”, o cartaz do evento deixa uma pergunta em aberto: “Como pode a direita vencer eleições?”.Sobre a academia do partido liderado por André Ventura, Paula do Espírito Santo vê a pergunta do cartaz como “muito interessante”, porque sugere que, “no fundo, há a interpretação de que a direita é o Chega.”.A agenda do PS só tem um único ponto reservado para a rentrée, que se resume à habitual Academia Socialista. Este ano, decorre entre 28 de agosto e 1 de setembro, em Tomar, e promete “masterclasses com alguns dos melhores oradores nacionais e internacionais”, mas ainda sem um programa definido. “Não é necessário ser militante para participar”, avisa a página do evento, apelando à participação de jovens entre os 18 e os 30 anos..Quase em simultâneo com os socialistas, o BE vai realizar em Braga o Fórum Socialismo, entre 30 de agosto e 1 de setembro. São mais de 50 debates anunciados pelo partido que inclui a intervenção do ex-presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, sobre “Como mobilizar e unir a cidadania no combate à extrema-direita”..Também em 14 e 15 de setembro, o Livre ruma a Ílhavo para mais uma edição de Os Setembristas. É um encontro que acontece desde 2014, vocacionado para “o debate de ideias - livre, aberto e amplo”, que homenageia os “precursores do progressismo em Portugal que foram, no século XIX, os Setembristas”, revela o partido..Também neste fim de semana, a 14 de setembro, o PAN promete estar no Porto a consciencializar “para o bem-estar animal, o ambiente e os direitos humanos”, revelou ao DN fonte do partido. Para além disso, nesse fim de semana, o PAN vai lançar “um referendo sobre a abolição das touradas em Portugal, destacando o compromisso do partido com uma sociedade mais ética e progressista”. Esta iniciativa contrasta com o local escolhido para o encontro: a antiga Praça de Touros da Serra do Pilar..Atividades de verão apartidárias.Entre 5 a 8 de setembro, vai decorrer a terceira edição do Campus da Liberdade, em Peniche. Organizado pelo instituto +Liberdade, o evento é apartidário, ainda que tenha uma génese ligada à IL. Entre os oradores desta edição, é possível encontrar o deputado da IL Carlos Guimarães Pinto, a ministra da Juventude, Margarida Balseiro Lopes e o antigo líder do PSD Rui Rio..Em Miranda do Douro, decorre, entre 28 e 31 de agosto, a sétima edição do Summer CEmp, a escola de verão da Representação da Comissão Europeia em Portugal.