A Iniciativa Liberal (IL) deverá ficar fora do Governo da Aliança Democrática (AD) que será apresentado por Luís Montenegro na próxima quinta-feira, 28 de março, apesar dos contactos que o PSD fez com o quarto partido mais votado..Ao que o DN apurou, as negociações entre PSD e IL tiveram avanços e recuos desde a ida de Rui Rocha à audiência com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na semana passada. À saída, o líder partidário disse que “o cenário de base” seria ficar fora do Governo, embora tenha dito que “caberá ao partido vencedor analisar os cenários em que se quer mover”, deixando a iniciativa a Montenegro, que foi indigitado primeiro-ministro ontem, depois da meia-noite, após serem apurados os votos da emigração..Os contactos realizados no final da semana passada entre PSD e IL, e que levaram Marques Mendes a anunciar neste domingo, no seu comentário semanal na SIC, a possibilidade de haver dois ministros liberais no próximo Governo, que tomará posse a 2 de abril, enfrentaram vários problemas que tornam muito difícil que a AD possa acrescentar aos seus 80 deputados (78 do PSD e dois do CDS-PP) os oito da IL. Algo que ficaria muito longe de garantir a maioria absoluta e nem sequer asseguraria que esses 88 parlamentares suplantariam a soma do PS com Bloco de Esquerda, PCP, Livre e PAN..Além da diferença de programas políticos, com a IL a pretender uma descida de impostos mais intensa e um ritmo de reformas pouco compatível com a necessidade que a coligação de centro-direita sente de se reconciliar com reformados, pensionistas e várias classes profissionais, outro problema capaz de travar a entrada de ministros liberais tem a ver com os nomes disponíveis e as pastas atribuídas..Para a inclusão no Governo, a IL teria de mobilizar pesos-pesados, mais concretamente o líder do partido, Rui Rocha, e um dos seus antecessores: Carlos Guimarães Pinto ou João Cotrim de Figueiredo. Algo que, no caso deste último, colidiria com o objetivo, já oficializado, de ser o primeiro eleito da IL no Parlamento Europeu. Cotrim de Figueiredo, que deixou a liderança do partido no início de 2023, é o cabeça de lista dos liberais nas eleições europeias, e o “desvio” para o Conselho de Ministros abriria um vazio difícil de preencher..No caso de Rui Rocha e de Carlos Guimarães Pinto, dois dos oito deputados da IL que tomam posse na terça-feira, haveria dúvidas quanto às suas pastas. Guimarães Pinto estaria disponível para tutelar as áreas da Reforma do Estado e Modernização Administrativa, mas seria mais difícil encontrar uma pasta suficientemente importante e adequada para o líder partidário. Com o PSD pouco interessado em prescindir das Finanças, da Economia (com abundância de candidatos) e das Infraestruturas, que terá uma relevância ainda maior devido ao novo aeroporto de Lisboa, a alternativa poderia passar pela Coesão Territorial..A ida de Carlos Guimarães Pinto e de Rui Rocha para o Governo - já sem falar de alguns secretários de Estado e dos seus gabinetes - também teria o efeito de retirar peso político ao grupo parlamentar da IL, que deixou de contar com Cotrim de Figueiredo e Carla Castro. Entre os dois deputados estreantes nesta legislatura, Mário Amorim Lopes e Mariana Leitão, a segunda acaba de ser eleita líder parlamentar, tirando partido do seu conhecimento das dinâmicas do Parlamento enquanto chefe de gabinete. Já o anterior líder parlamentar, Rodrigo Saraiva, deve ser vice-presidente da Assembleia da República, pois a maioria de direita possibilitará que desta vez o Chega e a IL estejam representados, enquanto terceira e quarta maiores forças partidárias..Falando ontem com jornalistas em Bruxelas, onde participou num encontro do Partido Popular Europeu, já na qualidade de primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro recusou falar sobre a inclusão de ministros liberais. “Oportunamente darei nota da composição do Governo”, disse o líder do PSD..Ainda assim, a possibilidade de a IL ter dois ministros causou algum desconforto no CDS-PP, que assinou o acordo de coligação com o PSD (e também com o PPM), tendo em vista não só as legislativas de 10 de março, mas também listas conjuntas da coligação nas europeias de 9 de junho..Apesar de nos últimos dias terem sido apontados vários centristas como possíveis ministros, o mais certo é que o CDS-PP tenha apenas o seu presidente, Nuno Melo, a assumir uma pasta.