Rocha e Montenegro retomaram contactos iniciados no início de 2023, quando a maioria absoluta do PS parecia estar para durar.
Rocha e Montenegro retomaram contactos iniciados no início de 2023, quando a maioria absoluta do PS parecia estar para durar.D.R.

Recuo na inclusão de dois ministros da IL deve deixar liberais de fora do Governo

Acordo de Luís Montenegro com Rui Rocha esteve próximo, mas dificuldade na indicação de nomes e desacordo sobre pastas deve deixar liberais fora do Governo. CDS-PP pode só ter Nuno Melo no Conselho de Ministros.
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A Iniciativa Liberal (IL) deverá ficar fora do Governo da Aliança Democrática (AD) que será apresentado por Luís Montenegro na próxima quinta-feira, 28 de março, apesar dos contactos que o PSD fez com o quarto partido mais votado.

Ao que o DN apurou, as negociações entre PSD e IL tiveram avanços e recuos desde a ida de Rui Rocha à audiência com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na semana passada. À saída, o líder partidário disse que “o cenário de base” seria ficar fora do Governo, embora tenha dito que “caberá ao partido vencedor analisar os cenários em que se quer mover”, deixando a iniciativa a Montenegro, que foi indigitado primeiro-ministro ontem, depois da meia-noite, após serem apurados os votos da emigração.

Os contactos realizados no final da semana passada entre PSD e IL, e que levaram Marques Mendes a anunciar neste domingo, no seu comentário semanal na SIC, a possibilidade de haver dois ministros liberais no próximo Governo, que tomará posse a 2 de abril, enfrentaram vários problemas que tornam muito difícil que a AD possa acrescentar aos seus 80 deputados (78 do PSD e dois do CDS-PP) os oito da IL. Algo que ficaria muito longe de garantir a maioria absoluta e nem sequer asseguraria que esses 88 parlamentares suplantariam a soma do PS com Bloco de Esquerda, PCP, Livre e PAN.

Além da diferença de programas políticos, com a IL a pretender uma descida de impostos mais intensa e um ritmo de reformas pouco compatível com a necessidade que a coligação de centro-direita sente de se reconciliar com reformados, pensionistas e várias classes profissionais, outro problema capaz de travar a entrada de ministros liberais tem a ver com os nomes disponíveis e as pastas atribuídas.

Para a inclusão no Governo, a IL teria de mobilizar pesos-pesados, mais concretamente o líder do partido, Rui Rocha, e um dos seus antecessores: Carlos Guimarães Pinto ou João Cotrim de Figueiredo. Algo que, no caso deste último, colidiria com o objetivo, já oficializado, de ser o primeiro eleito da IL no Parlamento Europeu. Cotrim de Figueiredo, que deixou a liderança do partido no início de 2023, é o cabeça de lista dos liberais nas eleições europeias, e o “desvio” para o Conselho de Ministros abriria um vazio difícil de preencher.

No caso de Rui Rocha e de Carlos Guimarães Pinto, dois dos oito deputados da IL que tomam posse na terça-feira, haveria dúvidas quanto às suas pastas. Guimarães Pinto estaria disponível para tutelar as áreas da Reforma do Estado e Modernização Administrativa, mas seria mais difícil encontrar uma pasta suficientemente importante e adequada para o líder partidário. Com o PSD pouco interessado em prescindir das Finanças, da Economia (com abundância de candidatos) e das Infraestruturas, que terá uma relevância ainda maior devido ao novo aeroporto de Lisboa, a alternativa poderia passar pela Coesão Territorial.

A ida de Carlos Guimarães Pinto e de Rui Rocha para o Governo - já sem falar de alguns secretários de Estado e dos seus gabinetes - também teria o efeito de retirar peso político ao grupo parlamentar da IL, que deixou de contar com Cotrim de Figueiredo e Carla Castro. Entre os dois deputados estreantes nesta legislatura, Mário Amorim Lopes e Mariana Leitão, a segunda acaba de ser eleita líder parlamentar, tirando partido do seu conhecimento das dinâmicas do Parlamento enquanto chefe de gabinete. Já o anterior líder parlamentar, Rodrigo Saraiva, deve ser vice-presidente da Assembleia da República, pois a maioria de direita possibilitará que desta vez o Chega e a IL estejam representados, enquanto terceira e quarta maiores forças partidárias.

Falando ontem com jornalistas em Bruxelas, onde participou num encontro do Partido Popular Europeu, já na qualidade de primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro recusou falar sobre a inclusão de ministros liberais. “Oportunamente darei nota da composição do Governo”, disse o líder do PSD.

Ainda assim, a possibilidade de a IL ter dois ministros causou algum desconforto no CDS-PP, que assinou o acordo de coligação com o PSD (e também com o PPM), tendo em vista não só as legislativas de 10 de março, mas também listas conjuntas da coligação nas europeias de 9 de junho.

Apesar de nos últimos dias terem sido apontados vários centristas como possíveis ministros, o mais certo é que o CDS-PP tenha apenas o seu presidente, Nuno Melo, a assumir uma pasta.

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