A espera foi longa e o debate não trouxe à PSP e GNR aquilo que esperavam: uma subida de 400 euros até 2026 no subsídio de risco (suplemento de missão), proposta pelo Chega e muito semelhante ao que tem sido pedido pelos sindicatos das forças de segurança ao Governo. .Estiveram na fila durante mais de duas horas. Eram centenas de pessoas, entre elas polícias que confirmaram ao DN que o eram e que queriam ver debatida e aprovada a sua valorização salarial. Contudo, o desalento não permitiu que contivessem alguns gritos de protesto: “Vergonha, Vergonha!” À saída, com a proposta chumbada pelo Parlamento, a receita repetiu-se, e, entre um momento e o outro, houve silêncio e expectativa. No final, à parte dos poucos assobios e gritos roucos mas convictos, a manifestação decorreu de forma ordeira..À margem da fila, um único cartaz, que revela que o seu portador tem “quatro filhos” e paga “650 euros de ensino pré-escolar”. Ao DN, o homem confirmou que veio demonstrar a tristeza em relação ao salário, mas não esperava entrar nas galerias. À semelhança de outros agentes da PSP abordados pelo DN, justificou que não estava “autorizado a falar”, pelo que não adiantou mais nada..A meio do processo, o deputado do Chega Pedro Frazão saiu do Parlamento, dirigiu-se à fila de espera e afirmou que era “inadmissível que estivessem “tantas pessoas à porta da casa da democracia para entrar há mais de duas horas” sem o conseguir fazer..Quase uma semana antes do debate, o líder do Chega, André Ventura, apelou a que as forças de segurança assistissem à discussão entre deputados a partir das galerias de São Bento..“Todos ao Parlamento”, convocou. Se se dirigiu aos 44 mil elementos que compõem as duas forças de segurança, as cerca de cinco centenas de pessoas que encheram as galerias representaram uma fração daquilo que poderia ter sido este protesto quase silencioso..Ainda assim, Pedro Frazão fez questão de ver de perto o potencial efeito da convocatória do seu partido e ainda confirmou que aquela espera era uma situação inédita..“Eu sou deputado eleito desde 2022 e nunca vi uma situação destas”, disse aos jornalistas que o interrogaram no momento em que tentava falar com os elementos das forças de segurança..Questionado sobre se o grupo parlamentar do Chega não estaria também a aproveitar para politizar este protesto dos polícias que dura já há vários meses, Pedro Frazão recusou a ideia e lembrou que houve momentos em que “entravam no Parlamento várias forças sindicais e que até cantavam a Grândola [Vila Morena] e faziam outros tipos de protestos que eram até vistos com bons olhos por algumas forças políticas”..“O Chega vem cá fora, como qualquer outra força política”, defendeu, acrescentando que “qualquer outro senhor deputado que queira falar com o povo pode vir cá fora. Os deputados são livres e portanto nós fizemos aquilo que nos assiste na nossa liberdade de ação política enquanto deputado da nação. Os outros senhores deputados que estão lá dentro podem vir cá fora também”, propôs..Depois do projeto de lei do Chega ser votado e chumbado, todas as pessoas que ocupavam as galerias, fossem ou não agentes da PSP ou militares da GNR, entre homens e mulheres, tiveram a mesma atitude: levantaram-se num movimento coletivo, olharam uma última vez para o hemiciclo e abandonaram as galerias. No ar uma única palavra, repetida: “Vergonha, vergonha.”