André Ventura comparou o PS ao papel que o PCP e o Bloco tiveram no tempo da "geringonça".
André Ventura comparou o PS ao papel que o PCP e o Bloco tiveram no tempo da "geringonça".FOTO: Leonardo Negrão

Orçamento do Estado. André Ventura reclama liderança da oposição contra "Bloco Central"

Líder do Chega comparou papel do PS de Pedro Nuno Santos com aquele que o PCP e o Bloco de Esquerda desempenharam nos tempos da "geringonça". E disse que o seu partido tentará "melhorar um bocadinho o que é mau" durante a discussão na especialidade do Orçamento do Estado para 2025.
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O presidente do Chega, André Ventura, reclamou para si a liderança da oposição contra aquilo a que chamou "Governo de Bloco Central", equiparando o papel do PS no "suporte" ao Executivo de Luís Montenegro, traduzido na viabilização do Orçamento do Estado para 2025, com a "geringonça" com que o PCP e o Bloco de Esquerda permitiram que António Costa pudesse governar entre 2015 e 2019.

Numa reação ao anúncio de Pedro Nuno Santos, feito na véspera, de que irá recomendar à Comissão Política Nacional do PS a abstenção do grupo parlamentar socialista nas votações na generalidade e na globalidade da proposta de Orçamento do Estado para 2025, André Ventura criticou um orçamento que "dá com uma mão para tirar com a outra", declarando que o seu partido tentará "melhorar um bocadinho o que é mau" durante a discussão na especialidade.

O líder do Chega acusou o PSD e o PS de estarem a "construir uma governação conjunta", centrada numa política fiscal em que se anuncia uma descida nos impostos sobre o rendimento ao mesmo tempo que vai buscar mais dinheiro ao transportes, ao gasóleo e à gasolina". Algo que considera constituir "um típico Orçamento socialista, que o Chega nunca poderia viabilizar".

Qualificando de "encenação" as divergências entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, Ventura disse que o documento apresentado pelo Governo da Aliança Democrática tem, como "única vantagem", o facto de "clarificar quem fica a sustentar o Governo e quem fica a liderar a oposição".

Quanto ao secretário-geral do PS, o líder do Chega disse que "o homem que queria unir as esquerdas acaba por viabilizar o Orçamento do Estado do PSD e do CDS", realçando ainda assim que não ficou claro o que os socialistas pretenderão fazer durante a discussão na especialidade. 

Por seu lado, André Ventura garantiu que a proposta do Governo, cuja aprovação na generalidade está assegurada na votação de 31 de outubro, passará pelo crivo do grupo parlamentar do Chega. "Vai ser visto emdidada a medida, ítem a ítem, caso a caso", disse, apontando prioridades como as condições de trabalho das forças policiais.

Francisco Assis defende Pedro Nuno Santos

O eurodeputado socialista Francisco Assis defendeu nesta sexta-feira que a viabilização do Orçamento é a decisão "que melhor serve o interesse público", considerando que o secretário-geral do PS demonstrou a "coragem de um líder e a ponderação de um estadista".

"Estou naturalmente satisfeito com a decisão tomada pelo secretário-geral do PS, já que a mesma é a que melhor serve o interesse público na presente conjuntura nacional", afirmou Francisco Assis numa posição enviada à agência Lusa um dia depois de Pedro Nuno Santos ter anunciado que vai propor aos órgãos do partido a abstenção do PS quer na generalidade quer na votação final global do Orçamento do Estado para 2025.

Segundo Francisco Assis, apesar de não o surpreender, o líder do PS demonstrou que tem "a coragem de um líder e a ponderação de um estadista". "Desautorizou todos quantos o associam a um sectarismo radical e dogmático", acrescentou.

O PS, de acordo com o antigo presidente do CES, "é e será sempre um grande partido da esquerda, democrático", que está "empenhado esteja no poder ou na oposição, em contribuir para afirmação de um país cada vez mais livre, mais próspero e mais justo".

"Pedro Nuno Santos não é um calculista, nem um cínico; é um político sério que compartilha com os portugueses as suas convicções, as suas naturais hesitações e as suas dúvidas. Sabe ouvir e sabe decidir", elogiou.

O líder do PS anunciou na noite de quinta-feira que vai propor à Comissão Política Nacional que o partido se abstenha na votação do Orçamento do Estado para 2025, quer na generalidade quer na votação final global.

Em conferência de imprensa na sede do partido, o líder do PS justificou esta decisão com duas razões: o facto de terem passado apenas sete meses sobre as últimas eleições e um eventual chumbo conduzir o país às terceiras legislativas em menos de três anos.

Bloco: "Quem viabiliza um Orçamento de direita não é alternativa"

A coordenadora do Bloco de Esquerda criticou nesta sexta-feira o PS por viabilizar uma proposta de Orçamento do Estado para 2025 que "reflete o programa de Governo", sem chegar a qualquer acordo com o Executivo, e reiterou que "quem viabiliza um orçamento de direita não é alternativa à direita".

Em declarações aos jornalistas, no Parlamento, sobre o anúncio do secretário-geral do PS de que o seu partido irá viabilizar pela abstenção a proposta orçamental do Governo, Mariana Mortágua criticou o que diz ter sido um "desalentado anúncio" da viabilização mesmo sem ter havido um acordo com o Governo para responder às críticas feitas pelo PS.

"O PS viabilizou o Orçamento do programa da direita, como se um governo de maioria absoluta do PSD se tratasse em Portugal", acusou Mortágua.

A dirigente bloquista reiterou a ideia de que "quem viabiliza um orçamento de direita não é alternativa à direita", frisando que o "Bloco de Esquerda, sem nenhum desalento e com toda a convicção, é uma alternativa ao Governo de direita e ao orçamento do programa do PSD".

A líder do BE reafirmou ainda as críticas já feitas ao orçamento, que considerou ser "errado e mau para o país", e disse que a base das críticas bloquistas à proposta orçamental "não são muito distintas" das apresentadas pelo PS, embora com concretizações diferentes na votação.

O partido prometeu ainda apresentar propostas na discussão orçamental na especialidade de modo a "transformar um mau orçamento" num documento "que responda pelo SNS, pela habitação, pela justiça fiscal e que inverte as prioridades" da proposta apresentada pelo Executivo de Luís Montenegro.

Questionada sobre se esta posição dos socialistas afasta de alguma forma um possível acordo à esquerda para a corrida às autárquicas, nomeadamente à autarquia lisboeta, Mortágua frisou que se tratam de "processos separados" e afirmou que o "Bloco de Esquerda quer derrotar a direita, em Lisboa nomeadamente, como quer no Orçamento do Estado e no Parlamento".

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