O primeiro-ministro, António Costa, considera que foi correta a opção tomada pela 'task force' técnica de não começar a vacinação pelos primeiros-ministros ou presidentes, como aconteceu em outros países..António Costa defende igualmente os critérios estabelecidos pela 'task force' técnica, que definem os momentos da vacinação de cada um, por razões de doença, idade, ou funções exercidas, tendo também em conta as quantidades que vão sendo disponibilizadas.."Noutros países, houve a ideia de que deviam começar pelos primeiros-ministros ou pelos presidentes para darem o exemplo, mas desse ponto de vista a opção que fizemos foi a correta", diz o primeiro-ministro, numa entrevista à Lusa sobre a presidência da União Europeia que Portugal assume neste primeiro semestre do ano..Ao contrário do que acontece em outros Estados, há em Portugal um plano nacional de vacinação permanente e um historial neste capítulo, que faz com que, "mesmo não sendo as vacinas obrigatórias", os portugueses não tenham "uma resistência à ideia da vacinação", nota António Costa.."Nós sabíamos que [o primeiro lote] tinha 9750 doses, [como poderíamos] querer pôr como primeira prioridade um universo de 150 mil pessoas, que são os utentes e funcionários dos lares? Como é que se fazia a seleção? Moeda ao ar?", indaga o primeiro-ministro..Destaquedestaque"Há uma coisa que eu tenho a certeza: se eu tiver covid, quero, quando chegar ao hospital, ter médicos que estejam de boa saúde para me poderem tratar".Assim, refere, "as 9.750 doses aplicadas aos profissionais considerados prioritários nos hospitais de primeira linha é um critério compreensível, que responde a uma necessidade efetiva e que é possível realizar, como foi". "Pela minha parte, quando chegar a minha vez, serei vacinado", acrescenta..O primeiro-ministro também considera que o facto de terem sido os profissionais de saúde os primeiros a ser vacinados "transmite a todos uma enorme confiança", para além de que há "uma razão óbvia", a de que tinha de se começar "por proteger quem nos pode proteger".."Há uma coisa que eu tenho a certeza: se eu tiver covid, quero, quando chegar ao hospital, ter médicos que estejam de boa saúde para me poderem tratar, e não chegar a um hospital onde todos os médicos estão contaminados, portanto, acho que se seguiu o caminho certo", sustenta..Relativamente à sua recente experiência de 14 dias de isolamento profilático, que cumpriu em S. Bento, e da qual saiu no passado dia 30 de dezembro, António Costa diz que a assumiu como uma "responsabilidade social".."[O isolamento] teve a ver com aquilo que é uma responsabilidade social, que partilho, ou partilhei, durante 14 dias com 70 mil outros portugueses que estão também confinados, não por estarem com covid, mas por terem tido um contacto de risco e que estão privados de poderem ter outros contactos de forma a travar as cadeias de contágio", declara..E conclui: "quanto ao Natal, foi uma experiência única, de uma noite solitária, mas felizmente a tecnologia hoje permite-nos vencer essa solidão e acabei por estar ligado em Zoom pelas quatro casas em que se dividiu a minha família este ano"..Sobre a presidência portuguesa da União Europeia, o primeiro-ministro defende que as divergências dentro da UE existem e devem ser assumidas e resolvidas através do diálogo. António Costa refere que "para rutura já chegou o 'Brexit'".O primeiro-ministro afirma, no entanto, que há "linhas vermelhas" e o respeito pelo Estado de direito é uma delas.."Acho que seria mau procurarmos fingir que não existem essas divergências, os problemas só se resolvem quando são assumidos e se conversa francamente sobre eles", sustenta António Costa quando questionado sobre as divisões surgidas na UE com a crise pandémica..Para o primeiro-ministro, o que é "justo" é dizer que, nesta crise, a Europa deu "uma resposta célere e assertiva" e "demonstrou grande capacidade de liderar", de que são "marcos muito simbólicos" a "compra conjunta de vacinas" e o "passo de gigante" de avançar para uma emissão conjunta de dívida para financiar a recuperação..António Costa admite que persistem diferenças entre os 27, mas frisa que essa é "uma realidade" que se deve "assumir sem dramas e com toda a tranquilidade".."É muito claro que, hoje, os 27 Estados-membros não têm todos a mesma visão sobre o que a Europa deve ser, nem sequer têm todos a mesma vontade que a Europa seja aquilo que já é. [...] Porventura, a presença do Reino Unido escondeu muitas destas posições nacionais, que ficaram, digamos, a descoberto com a saída do Reino Unido", afirma, exemplificando com as diferenças em temas como as migrações ou a solidariedade orçamental..Para Costa, "seria mau" procurar "fingir que não existem essas divergências", porque "os problemas só se resolvem quando são assumidos e se conversa francamente sobre eles".."Não obrigar ninguém a fazer movimentos que não quer fazer, criando situações de rutura. Para rutura já chegou o 'Brexit' e ninguém quer novos processos de rutura", afirma..Já quanto às fricções a propósito do respeito pelo Estado de direito, que motivaram aliás um bloqueio da Hungria e da Polónia à aprovação do orçamento e do Fundo de Recuperação, só ultrapassado na Cimeira de dezembro, o primeiro-ministro assegura que essa "é mesmo uma das linhas vermelhas", porque "o Tratado da União Europeia é muito claro"..O tema, frisa, é "particularmente sensível" para Portugal, porque "o que motivou a adesão de Portugal à União Europeia, não foi propriamente a existência do euro, que nem sequer existia, ou do mercado interno, que não existia", foram "mesmo os valores" que permitiram que fosse "consolidada a liberdade e a democracia"..Sobre as críticas de que foi alvo quando em julho visitou o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, em Budapeste, e defendeu que as violações do Estado de direito devem ser abordadas como estipulam os tratados e não servir para condicionar fundos, António Costa afirma que "não se arrepende" da visita, que foi "bastante útil" para haver acordo no Conselho Europeu de julho.."Eu fui à Hungria pela mesma razão de que fui a Haia. Fui tratar de desbloquear os dois grandes obstáculos que existiam para podermos ter em julho, como conseguimos ter, um acordo sobre o programa de recuperação. Em Haia, fui falar com o chefe dos 'frugais' [o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte], na Hungria falei com o inspirador do grupo de Visegrado", Viktor Orbán, nota.."Não me arrependo de nenhuma dessas visitas e ambas as visitas foram bastante úteis para ter sido possível um acordo em julho no Conselho, para ter havido agora um acordo entre a presidência alemã e o Parlamento Europeu e para o Conselho Europeu ter aprovado aquilo que aprovou", sublinha..E insiste: "Não podemos ser 27 e não falarmos a 27. Quando a decisão tem de ser por unanimidade, não vale a pena ter a ilusão de que é possível ter unanimidade, recusando-nos a falar com um ou com outro. Temos que falar com todos e encontrar o ponto de entendimento entre todos"..O primeiro-ministro frisa, a propósito, a importância de ter sido superado o impasse, apontando que se "agora o que se discute é se o dinheiro chegar em junho vem tarde", o que seria "se estivéssemos a discutir não termos esse acordo".."Quando é preciso unanimidade, só há uma forma, é haver um compromisso. Naturalmente, tentar compreender quais são os pontos de vista dos outros, fazer os outros compreender os nossos pontos de vista e encontrar qual é o ponto de entendimento", conclui...