Luís Montenegro na Suíça a comemorar o 10 de Junho.
Luís Montenegro na Suíça a comemorar o 10 de Junho.ESTELA SILVA /Lusa

Montenegro a alunos na Suíça : "Nós precisamos de vocês em Portugal"

O primeiro-ministro afirmou esta terça-feira perante alunos de uma escola de ensino português em Genebra que deseja que sejam felizes na Suíça, mas frisando que também são necessários em Portugal.
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"O nosso objetivo é que sejam felizes e realizados nos locais onde se encontram -- alunos, professores e comunidade -, mas nós também precisamos de vocês em Portugal", afirmou Luís Montenegro, no primeiro ponto da deslocação conjunta com o Presidente da República à Suíça, no âmbito das comemorações do Dia de Portugal.

O chefe do Governo apelou a que estes jovens continuem a aprender "a língua, a história e a cultura portuguesa" e que "mantenham vivos os laços" que os unem às famílias, amigos e interesses em Portugal.

"O Governo de Portugal, o vosso governo acolher-vos-á no nosso território para ajudar a criar uma sociedade mais forte, social e economicamente, para ser mais justa e dar uma oportunidade a todos", afirmou.

Luís Montenegro considerou "muito reconfortante" verificar que a cultura e a língua portuguesa "estão bem vivas" na Suíça, país que acolhe cerca de 260 mil emigrantes portugueses.

"Estarmos aqui hoje por decisão do Presidente da República é sinónimo da proximidade e da importância que damos a estar convosco (...) Nós portugueses somos capazes de ser tão bons como os melhores ou mesmo os melhores dos melhores", enalteceu, dando como exemplo o poeta Luís de Camões, cujas comemorações dos 500 anos do nascimento arrancaram na segunda-feira em Coimbra.

Depois das intervenções iniciais, o Presidente da República e o primeiro-ministro, sentados num palco de uma das salas de aula, precisamente com um desenho de Luís de Camões por trás, responderam a algumas perguntas dos alunos, com idades entre os 11 e os 14 anos.

"Como acha que me sinto quando sou emigrante e não pertenço a nenhum lugar?", questionou Francisca Martins.

O primeiro-ministro pediu-lhe para se sentir "sempre portuguesa" e aproveitou para falar também sobre a situação dos imigrantes em Portugal, quase um milhão, muitos deles com filhos a estudar nas escolas portuguesas.

"Digo muitas vezes que eles devem sentir-se também portugueses, novos portugueses, e que Portugal lhes quer bem. Quem pensa assim para os que recebe no seu pais, também deve ter respeito para os que recebem bem os nossos, a Suíça recebeu sempre bem os portugueses, defendeu.

Em resposta a outra aluna, que lhe perguntou o que pode fazer para que os jovens não deixem Portugal, Montenegro reiterou que essa é uma prioridade do atual Governo.

"Este Governo nos próximos anos - creio que é um caminho igual em todos os partidos políticos -, todos estamos muito empenhados em ter para a juventude alguma diferenciação positiva para ficarem em Portugal: pagarem menos impostos, terem ajuda para comprar a primeira casa", exemplificou.

Montenegro repetiu o apelo para que os jovens perante os quais falou hoje "possam pensar em viver em Portugal" ou, pelo menos, "não se esqueçam que muitos dos seus familiares e amigos estão lá".

"Continuem a ajudar-nos, a levar mais investimento para Portugal e abrir mais empresas portuguesas aqui. E façam um esforço para preservar um dos mais valioso património que nos une a todos: a língua", pediu.

Já questionado se gostava de ir à escola quando era jovem, Montenegro disse que sim, mas admitiu que "a parte de que mais gostava eram os intervalos".

"A escola é uma oportunidade, não desperdicem essa oportunidade, aproveitem para aprender e para se divertir", aconselhou.

PM vai tentar encontrar solução para reivindicações de professores de português na Suíça

O primeiro-ministro português afirmou  que o Governo vai "tentar encontrar uma solução" para as reivindicações dos professores de português na Suíça, que o confrontaram e ao Presidente da República com a falta de atualização salarial há 15 anos.

À chegada a uma escola em Genebra com alunos do ensino de português no estrangeiro, na primeira iniciativa na Suíça âmbito das comemorações do Dia de Portugal, uma dezena de professores de português aguardavam pelo Presidente da República e pelo primeiro-ministro para "alertar" para a injustiça da falta de atualizações dos salários dos docentes num país onde dizem ser particularmente castigados pela desvalorização cambial.

Marcelo Rebelo de Sousa disse já conhecer o problema, para o qual "tem de se encontrar uma solução", e apontou para um trabalho conjunto entre Ministério da Educação e o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

"Sabe qual é a situação?", perguntou o chefe de Estado ao primeiro-ministro.

"Sei, sei, acontece também com funcionários consulares por causa do fator cambial. Vamos olhar para isso", respondeu Luís Montenegro.

Questionado pelos jornalistas, o chefe do Governo reiterou que conheceu este problema ainda quando era líder da oposição.

"A garantia é tentar encontrar uma solução, o problema não é exclusivo dos professores, embora no caso dos professores seja uma situação muito delicada", disse, reconhecendo que muitos têm abandonado este ensino.

"Posso garantir que vamos tentar encontrar uma solução de acordo com o interesse que é de todos e também é o nosso, preservar o ensino de português e desenvolvê-lo", acrescentou.

Antes da chegada de Presidente da República e do primeiro-ministro, em declarações à imprensa, um dos professores, José Coelho, que leciona português na Suíça há 26 anos, e que, tal como os restantes, tinha um crachá onde se podia ler «2009-2024, 15 anos?», explicou que em causa está o facto de a sua tabela salarial datar de 2009, "do tempo ainda do primeiro-ministro José Sócrates".

"Até à atualidade, até 2024, não sofreu nenhuma atualização. Devemos ser talvez dos trabalhadores da função pública com tabelas salariais mais antigas. E como estamos num país em que a moeda corrente é o franco suíço, o euro, que é a unidade monetária em que são pagos os salários, sofreu uma desvalorização de 35,4% desde 2009 e, portanto, esse é o défice dos salários reais que temos neste momento", disse.

Lembrando que "a portaria do mecanismo de correção cambial" de remunerações "foi suspensa no dia 31 de dezembro de 2023", José Coelho explicou que mesmo que essa compensação, da qual os professores não gozam há cerca de seis meses, seja retomada, é de apenas 15%, pelo que se manteria uma situação de "défice real" de 20%.

"Este crachá é precisamente para alertar para a situação de injustiça, face a outras situações, de outros colegas, que trabalham também para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, e que têm vindo a ser acauteladas essas desvalorizações por causa de atualizações que têm sido feitas recentemente. Não é o nosso caso, e como tal nós estamos aqui para chamar a atenção para isso", disse.

Apontando que são afetados todos os 69 professores a trabalhar na coordenação do ensino de Português na Suíça, José Coelho advertiu que há o risco crescente de não haver professores interessados em ensinar a língua portuguesa na Suíça, convidando quem estiver interessado a "consultar os últimos concursos publicados".

"Cerca de metade ou mais ficam desertos, ou os professores assumem e passado pouco tempo desistem. É de nos interrogarmos por que razão isso acontece", concluiu.

As comemorações do Dia de Portugal prosseguem a partir de hoje e até quarta-feira na Suíça, país que acolhe a segunda maior comunidade de emigrantes portugueses no mundo (a seguir a França), com Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro a realizarem a sua primeira deslocação em conjunto ao estrangeiro.

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