MNE deixa para diretor-geral audiência com relatora da ONU pró-Palestina
Reinaldo Rodrigues

MNE deixa para diretor-geral audiência com relatora da ONU pró-Palestina

Francesca Albanese, que fará uma conferência no ISCTE e outra no CCB, descreve a operação militar israelita como um “genocídio” contra os palestinianos.
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A Relatora Especial das Nações Unidas para os territórios palestinianos vai ser recebida no ministério dos Negócios Estrangeiros, por um diretor-geral, confirmou ao DN a porta-voz do gabinete do ministro Paulo Rangel.

Francesca Albanese tem sido uma voz muito crítica em relação à atuação de Israel e à “inação da comunidade internacional” em relação ao que classifica como “campanha de genocídio contra os palestinianos”.

De acordo com a mencionada fonte oficial, Albanese, que está de visita a Portugal durante três dias e fará hoje uma conferência no ISCTE intitulada “Anatomia de um Genocídio - o falhanço do sistema internacional”, não será recebida por Paulo Rangel, mas “ao nível de diretor-geral”, por motivos de agenda do ministro.

Apesar da justificação, a decisão de colocar a Relatora a ser recebida por um diretor-geral está a criar alguma desconfiança.

“Entre o MNE e o diretor-geral ainda havia a possibilidade de um secretário de Estado. Tendo em atenção o facto de Albanese fazer parte da demonologia de Israel, isto é, dos americanos, e não desejando Portugal afastar-se mais da posição de Washington  - fê-lo na semana passada no voto na Assembleia Geral da ONU, na questão dos colonatos, mas não ousa reconhecer o Estado da Palestina, como fez Espanha - é legítimo interrogarmo-nos sobre se o downgrading da audiência não terá sido deliberado”, sinalizou um diplomata português jubilado,  ouvido pelo DN. 

Por outro lado, Vasco Becker-Weinberg, especialista em Direito Internacional e comentador de temas do Médio Oriente, considera que uma visita desta natureza não deve ser entendida como uma tomada de posição do MNE. “Como é sabido, Francesca Albanese defende uma posição enviesada relativamente ao conflito no Médio Oriente, bem como insustentável quanto aos factos e ao Direito Internacional aplicável aos mesmos”, lembra.  

Acrescenta, porém, que “embora seja possível que alguém queira fazer crer que a sua visita ao MNE reflita o alinhamento de Portugal com a sua visão sobre o conflito no Médio Oriente, essa leitura seria necessariamente errada”. Salienta que,“do ponto de vista institucional, é compreensível que o MNE receba todas as pessoas associadas às Nações Unidas, sem que isso corresponda a uma manifestação de aceitação ou de concordância por Portugal das ideias ou opiniões que essas pessoas representam ou defendem”.

As últimas decalarações públicas de Paulo Rangel em relação ao conflito em Gaza, foram feitas quando se encontrava em Noa Iorque, na Assembleia Geral da ONU. 

"A posição de Portugal é muito clara", referiu quando questionado pela RTP. "Israel tem direito à sua legítima defesa, mas claramente nos últimos meses tem havido um excesso", criticou.

Já quanto à Palestina, Portugal nas Nações Unidas votou "a favor da Autoridade Palestiniana ou da Palestina ser membro integral" e votou "favoravelmente" uma resolução apresentada pela Palestina no Tribunal Internacional de Justiça, frisou o líder da diplomacia portuguesa.

Francesca Albanese será também oradora hoje numa conferência no CCB e terá encontros na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

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