Caso seja eleito primeiro-ministro, o presidente do PSD, Luís Montenegro, afirmou esta quinta-feira que vai fazer um Orçamento de Estado retificativo para 2024.."Vamos, naturalmente, fazer a atualização daquilo que são os seus princípios e muitas das suas medidas através de um orçamento suplementar ou retificativo", afirmou Montenegro, em entrevista à SIC..As declarações do presidente do PSD acontecem um dia depois do Orçamento de Estado para o próximo ano ter sido aprovado no parlamento. O documento teve votos contra do PSD, Chega, Iniciativa Liberal, PCP e BE. PAN e Livre abstiveram-se, tendo sido aprovado apenas com os votos da maioria PS..Um Orçamento de Estado retificativo "que vai introduzir aqueles que são os nossos objetivos principais, do ponto de vista das prioridades políticas e do ponto de vista dos instrumentos para que os serviços públicos possam cumprir a sua tarefa de servir os cidadãos", justificou o líder social-democrata..Luís Montenegro criticou o documento aprovado esta semana no Parlamento, falando numa "estratégia errada, que continua a castigar muito as pessoas e as empresas com impostos". "Temos a maior carga fiscal outra vez a bater o recorde em 2024, se o orçamento for executado tal como está", disse..Considerou que o documento tem um "desagravamento em sede de IRS que é insuficiente para a necessidade que a classe média tem de poder ter mais capacidade de poder enfrentar as suas despesas. "Temos uma medida para os jovens que é limitada no tempo e que nós entendemos que deve ser projetada para mais de uma década", acrescentou..Sobre os nomes que estão na corrida à liderança do PS, Luís Montenegro disse não ter "nenhuma preferência", manifestando "respeito pelos dois candidatos" [Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro], que conhece bem "há muitos anos"..Destacou, no entanto, que "ambos fizeram parte dos governos de António Costa e do PS nos últimos oito anos". Governos esses em que "tivemos muito pouco investimento público, muito pouca concretização daquilo que os orçamentos de Estado corporizavam, em que tivemos empobrecimento generalizado do país", prosseguiu.."É certo que enfrentámos uma pandemia e agora duas guerras, mas está a acontecer em Portugal uma coisa que era aparentemente impossível de acontecer com um governo de esquerda, que é: com mais estatização de serviços, com mais recursos até, muitas vezes, em cima desses serviços públicos, aquilo que é prestado ao cidadão tem muito menos qualidade do que tinha quando tínhamos a restrição de ter uma troika em Portugal", declarou Montenegro..Falou depois de Pedro Nuno Santos, referindo que o candidato à liderança do PS "transporta uma convicção muito profunda em governar em parceria com o Bloco de Esquerda e com o PCP".."É um candidato que está associado a três das maiores trapalhadas" do governo. Referia-se ao caso do anúncio da localização de um novo aeroporto de Lisboa, "contra a vontade e as indicações do primeiro-ministro". "Depois teve de fazer um pedido de desculpas público, teve de ser corrigido e até, do ponto de vista político, humilhado, fazendo cessar aquilo que tinha publicado em Diário da República", lembrou..Falou depois do caso da indemnização de 500 mil euros "a uma pessoa que tinha cessado funções na TAP", referindo-se a Alexandra Reis. "Foi com ele que também tivemos a embrulhada toda à volta da TAP e a necessidade que o Estado acabou por ter de injetar 3,2 mil milhões de euros do dinheiro dos contribuintes". Um valor que, segundo disse, "dariam para pagar, por exemplo, 10 anos de recuperação total do tempo de serviço dos professores"..Questionado sobre se irá governar com alianças à direita, caso não seja o mais votado nas eleições de 10 de março, Luís Montenegro afirmou: "Eu venho governar o país com a legitimação da vontade popular. Eu só serei primeiro-ministro se ganhar as eleições", assegurou o líder social-democrata."Eu só governarei o país se ganhar as eleições. O que quer dizer que eu estou mesmo convencido que as vou ganhar e que vou ser primeiro-ministro por essa via", sublinhou..Montenegro disse que se sente "capaz de conseguir a confiança maioritária do povo português e com base nisso governar o país"..Embora não haja ainda uma decisão, o presidente do PSD afirmou que o partido está "aberto a dialogar e ponderar" coligações pré-eleitorais com o CDS-PP e o PPM, como no passado, lembrando que já existem coligações autárquicas e regionais com esses partidos..E deu uma garantia: "As listas do PSD vão integrar vários cidadãos independentes", tendo admitido "algumas surpresas". Disse ter "muitas pessoas em mente", mas nenhum convite feito..Disse que o partido está "preparado para ir sozinho a eleições", mas também admitiu a possibilidade de "uma frente mais abrangente e alargada" salientando que o CDS-PP "tem quadros políticos de grande valor"..Foi ainda questionado se, em caso de derrota nas legislativas de 10 de março, admitiria viabilizar um Governo minoritário do PS. "Estou disposto a assumir a minha responsabilidade de não constituir Governo, naturalmente que isso passará pela assunção da responsabilidade governativa por parte do PS", admitiu. Será uma decisão que só o compromete a si e não ao PSD, acrescentou.."Não quero acorrentar o PSD a uma decisão que é minha, pessoal", disse, assegurando, contudo, que se sente capaz de atrair a "confiança maioritária do povo português"..Na mesma entrevista, dirigiu-se aos eleitores do Chega e da Iniciativa Liberal quando afirmou que "há razões para concentrarem o seu voto no PSD". "O voto que muda de Governo é o voto no PSD", enfatizou..Questionado sobre a ausência de referências ao ex-líder do PSD Pedro Passos Coelho no último Congresso, o líder do PSD contrapôs que falou nele num dos seus discursos, e salientou "o grande orgulho no trabalho patriótico" do Governo PSD/CDS-PP entre 2011 e 2015.."Dito isto, é verdade que há um certo estigma da sociedade portuguesa em relação a algumas medidas restritivas desse período que não foram bem entendidas. Eu já não estou a olhar para trás, eu estou a olhar para a frente", frisou..Nesse sentido, afirmou que "há um problema social em Portugal". "A maior parte das pessoas ganha muito pouco dinheiro, tem salários muito baixos, muita gente ganha o salário mínimo e muita gente ganha pouco acima do salário mínimo e, por isso, temos defendido uma fiscalidade mais amiga das pessoas, das famílias, da classe média". .No que se refere à saúde e aos problemas que o SNS enfrenta atualmente, Montenegro disse que "é preciso acabar com a teimosia ideológica".."Quando for empossado primeiro-ministro, uma das primeiras medidas que tomarei é fazer executar um programa de emergência que dê às pessoas a possibilidade de terem consultas que não têm hoje ou estão em atraso, as cirurgias que não têm ou estão em atraso e o médico de família que não têm", disse..O presidente do PSD disse que este programa será feito "contratualizando com privados e setor social", e recusou as críticas de que o partido queira privatizar os serviços públicos.."Não estamos a aproveitar a capacidade instalada para servir o cidadão, o nosso centro é o cidadão", afirmou, dizendo que foram os governos do PS que "empurraram as pessoas para o setor privado" na saúde..Luís Montenegro considerou até que vai ser "muito difícil" reter os profissionais de saúde no setor público sem "uma gestão de complementaridade entre os setores público, privado e social", dizendo que têm saídas profissionais mais atrativas nestes últimos.."Temos uma proposta, que já apresentamos, dirigida ao setor privado e público, que é permitir que prémios de produtividade até ao montante de 6% do vencimento anual sejam devidos a quem apresentou resultados estejam isentos de contribuições e impostos", afirmou..Na entrevista, o líder social-democrata reiterou propostas que tem apresentado, como a reposição faseada do tempo de serviço congelado dos professores ou, no Congresso do passado sábado, a subida do valor de referência do Complemento Solidário para Idosos para 820 euros no final da legislatura.."É uma meta exequível, não é nada de fantástico à beira de propostas como a que ainda hoje ouvi de desbloquear todas as carreiras da administração pública e pagar o período que perderam nas últimas décadas", disse, referindo-se à proposta apresentada por Pedro Nuno Santos na sua moção de estratégia global de "recuperação gradual do tempo de serviço que esteve congelado" de todos os funcionários públicos.."Vamos lá ver, pedem-me contas a mim, eu é que tenho de pedir contas a quem apresenta uma proposta dessa envergadura, essa sim tem um alcance muito maior", considerou..No que se refere à reposição do tempo do serviço dos professores, afirmou que apresentou a proposta em setembro. Foi proposto que " o tempo de recuperação dos professores fosse integral e fosse dado faseadamente, à razão de 20% por cada ano, portanto, a reposição durar cinco anos a executar-se". Disse ainda que o PSD estimou que o custo associado a esta medida seria de 300 milhões de euros, no final dos cinco anos de execução..Ainda sobre a educação, Montenegro disse que há um "problema gravíssimo na escola pública". "Precisamos de 35 mil novos professores até 2030. A escola pública vai perder entre 2020 e 2030 cerca de 50 mil docentes", referiu.