Valor mediano do rendimento bruto deduzido do IRS foi de 10 679 euros no país em 2022.
Valor mediano do rendimento bruto deduzido do IRS foi de 10 679 euros no país em 2022.Leonardo Negrão / Global Imagens

Lisboa, Porto, Cascais e Oeiras recuperaram mal da pandemia e são os municípios mais desiguais

Em todos os concelhos houve ganho de rendimento nominal face ao último ano antes da crise pandémica (2019). Mas terá havido perda de poder de compra em 19 deles.
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Alguns dos municípios mais populosos do país, nomeadamente, Lisboa, Porto, Cascais, Oeiras, Faro e Almada foram os que menos conseguiram recuperar da pandemia, usando como referência o “valor mediano do rendimento bruto anual declarado deduzido do IRS liquidado por sujeito passivo” e a respetiva variação deste indicador entre 2019 (último ano dito normal, antes do choque pandémico e da grave crise que se seguiu) e 2022, mostram cálculos do DN/Dinheiro Vivo a partir de dados divulgados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

De acordo com as novas estatísticas do rendimento ao nível local, aquele rendimento mediano por contribuinte (o valor que está exatamente ao meio da distribuição de rendimentos, dos mais baixos aos mais elevados), subiu em todos os cerca de 300 concelhos portugueses analisados pelo INE: face a 2019, os dez aumentos de rendimento mais fracos aconteceram em Odivelas, Entroncamento, Amadora, Barreiro, Lisboa, Porto, Marinha Grande, Faro, Loures e Setúbal, por esta ordem, começando em 6% e terminando em 7,8%, em termos nominais, e já depois do acerto do IRS. A média nacional foi bem superior, cerca de 12% entre 2019 e 2022.

No entanto, cruzando estes ritmos de recuperação de rendimento por contribuinte mediano com o indicador de desigualdade calculado pelo INE (também a nível municipal), torna-se claro que muitos destes concelhos que ficaram na mó de baixo são também os mais desiguais. É o caso de Lisboa, Porto, Cascais, Oeiras, Faro e Almada, municípios onde o índice de desigualdade (Gini) é o mais elevado entre os 300 territórios analisados, todos bem acima da média nacional.

O INE explica que “o coeficiente de Gini é um indicador de desigualdade na distribuição que visa sintetizar num único valor a assimetria dessa distribuição”. Assume valores entre 0% (quando todas as pessoas têm igual rendimento) e 100% (quando todo o rendimento se concentre numa única pessoa).

Lisboa lidera pelos piores motivos: com uma subida de rendimento mediano de 7% desde a pandemia, o concelho aparece como o mais desigual do país, com um fator de Gini de 42,5%, muito acima da média nacional (35,7%), segundo o INE.

Logo a seguir, o Porto: também logrou uma atualização de rendimentos das mais baixas a nível nacional, na ordem dos 7%, sendo um território onde o grau de desigualdade também é dos piores do País (Gini de 41,8%).

Recorde-se que foram possíveis estes aumentos (todos os municípios registaram ganhos nominais no rendimento por contribuinte) porque, depois da razia da pandemia, o ano de 2022 também foi atípico, com a chegada da guerra e da inflação muito elevada (foi de quase 8% nesse ano), o que na altura acabou por empolar os níveis salariais e de outros rendimentos, por força de várias medidas tomadas pelo governo para amortecer o embate da subida agressiva dos preços no custo de vida.

Cascais e Oeiras, outros dois concelhos altamente populosos e onde a atualização dos rendimentos foi das mais baixas (cerca de 8% desde 2019), também convivem com níveis de desigualdade altos e bem acima da média nacional, mostra o INE.

Portanto, resumindo: foi nalguns dos concelhos com mais gente e mais desiguais que os rendimentos menos recuperaram da pandemia. Mais: fazendo um cálculo mais grosseiro que é descontar a taxa de inflação nacional acumulada desde 2019 até 2022 (não existem dados para a inflação municipal), torna-se evidente que em todos estes municípios de que estamos a falar, mesmo com apoios, o contribuinte mediano perdeu, de facto, poder de compra.

Pelas contas do DN/DV, ao todos, dos 300 analisados, em 19 concelhos a recuperação nominal não chegou para cobrir a inflação (que neste período superou 9%, em termos acumulados).

Os piores casos são Odivelas, Entroncamento, Amadora, Barreiro, Lisboa, Porto, com perdas de poder de compra que vão de 3% a 2% face ao que era a situação antes da pandemia. Empobreceram, por assim dizer. A lista continua com perdas reais de rendimento a acontecerem noutros concelhos como Marinha Grande, Faro, Loures, Setúbal, Sintra, Almada, Cascais, Seixal, Moita, Oeiras ou Beja. 

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