João Merino estava a cumprir o segundo mandato à frente da distrital de Setúbal.
João Merino estava a cumprir o segundo mandato à frente da distrital de Setúbal.D.R.

Líder do CDS-PP em Setúbal deixa partido “que já não faz sentido”

Próximo de Francisco Rodrigues dos Santos, João Merino acusa a direção de Nuno Melo de abandonar as “bandeiras” dos centristas. E diz que o “prazo de validade do partido esgotou-se”.
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O presidente da Comissão Política Distrital de Setúbal do CDS-PP, João Merino, apresentou a demissão e anunciou que se vai desfiliar, comunicando essa intenção numa carta enviada à Secretaria-Geral do partido liderado por Nuno Melo. Em declarações ao DN, o ex-dirigente fez um diagnóstico muito reservado do futuro dos centristas, dizendo que “o partido já não faz sentido” e que o seu “prazo de validade esgotou-se”.

Entre os motivos que Merino apresenta para sair está aquilo que diz ter sido o abandono dos princípios que constam da carta fundadora. “Saio porque a defesa da família, das forças de segurança, dos antigos militares, da luta contra a subsidiodependência, a corrupção e o nepotismo já não são bandeiras do CDS”, defende o cantor lírico, de 49 anos, residente no Concelho do Montijo, que cumpria o segundo mandato enquanto líder distrital.

Reconhecendo que alguns desses temas foram pontos-chave do Chega na campanha eleitoral, Merino ressalva que, no que toca às questões económicas, também a Iniciativa Liberal ocupou o espaço que até há pouco tempo pertencia aos centristas. “Outros vieram e tomaram conta”, diz o ex-dirigente de um partido que considera estar em “estado comatoso”.

João Merino acrescenta outras “bandeiras” que alega terem deixado de pertencer ao partido, como “a defesa da cultura, da agricultura e agricultores”, “a defesa da vida desde a conceção até ao momento em que Deus nos chame à sua presença”, “a defesa dos pequenos e médios empresários”, “a defesa de uma educação exigente e a luta contra uma escola ideológica que afasta os pais e que - contra a Constituição - doutrina, politiza e sexualiza as nossas crianças”.

Apoiante de Francisco Rodrigues dos Santos, que numa entrevista ao Expresso criticou a “subalternização” do partido no seio da Aliança Democrática (AD), João Merino diz que “desta vez não houve diálogo”, tendo sido informado dos nomes dos centristas que seriam incluídos na lista de Setúbal “cinco minutos antes” do Conselho Nacional do CDS-PP. Mas elogia Ana Clara Birrento, “um ativo muito importante do CDS no distrito”, enquanto provedora da Santa Casa da Misericórdia de Azeitão e ex-diretora da Segurança Social de Setúbal.

Merino também acusa a atual Direção Nacional de ser herdeira daqueles que, quando foram oposição interna, impediram o anterior presidente de “estancar a quebra de votos que vinha de há muitos anos”, culminando na perda de representação parlamentar em 2022. E considera que os atuais responsáveis tomaram a opção de se “fecharem no Largo do Caldas e de não se abrirem às preocupações das pessoas” que dão a cara pelo partido em todo o país. Nomeadamente os autarcas e, em particular, os presidentes das seis câmaras municipais que governam.

“Saio porque os donos do CDS têm vergonha de defender os nossos valores de sempre, e é por isso que o CDS já só existe na memória dos democratas-cristãos a sério”, defende o até agora líder distrital, garantindo que a equipa de Nuno Melo se recusou a dialogar com as estruturais locais e distritais ou “com as bases que apoiaram outra liderança”. Em sua opinião, foram “afastados, perseguidos e ignorados, sendo delapidado ainda mais o valor humano do CDS”.

Debandada a sul do Tejo

Além do presidente, terão saído mais de metade dos membros da Comissão Política Distrital, pelo que é necessário realizar eleições dentro em breve. De qualquer forma, Merino admite  que “muitas concelhias já não foram a eleições”, estando a presença do CDS-PP em alguns concelhos a ser assegurada por delegados nomeados para esse efeito. Algo que o ex-líder distrital realça contrastar com o tempo em que conseguiu que o partido tivesse Comissões Políticas eleitas nos 13 concelhos e candidaturas às autárquicas de 2021 em todos. “Fizemos história num distrito onde faltavam rigor e objetivos”, garante.

Contactado pelo DN, o secretário-geral do CDS-PP, Pedro Morais Soares, não quis comentar a saída de Merino e o rombo nos órgãos locais de Setúbal, mas assegurou que haverá militantes disponíveis para assumir funções, até porque o partido se encontra “em fase de crescimento”.

Após dois anos de ausência da Assembleia da República, o CDS-PP assegurou a 10 de março que terá grupo parlamentar, pois elegeu Nuno Melo e Paulo Núncio, nas listas da AD, os quais serão substituídos por outros centristas se integrarem o Governo.

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