João Galamba: "Há uma história e há factos, provas e muitas testemunhas"
Audição do ministro das Infraestruturas durou mais de seis horas. Galamba contrariou depoimento de Frederico Pinheiro, diz que o ex-assessor o ameaçou, que as imagens de videovigilância já estão na posse da Polícia Judiciária e admitiu algum risco na exoneração da ex-CEO da TAP.
Há uma história e há factos". João Galamba foi ontem à comissão parlamentar de inquérito à TAP contrariar boa parte das alegações de Frederico Pinheiro sobre o que se passou no Ministério das Infraestruturas ao longo das últimas semanas. Acusou o ex-adjunto de mentir, de ter comportamentos bizarros - como ir ao Ministério fazer "cópias e impressões" a horas "impróprias" - e, invertendo a acusação do próprio Frederico Pinheiro, sustentou que foi o adjunto que o ameaçou durante a conversa telefónica em que foi exonerado.
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Numa audição (que ainda decorria à hora de fecho desta edição) em que evitou responder às perguntas de natureza mais política - nomeadamente sobre as condições para exercer o cargo depois de se ter demitido (uma demissão que o primeiro-ministro não aceitou) - João Galamba insistiu que "não há duas versões contraditórias" sobre o que aconteceu: "Há uma história e depois há factos, provas e muitas testemunhas". E foi do testemunho da sua chefe de gabinete à CPI, no dia anterior, que Galamba se socorreu muitas vezes. Foi o que aconteceu com o relato da noite de 26 de abril quando, já depois de exonerado, Frederico Pinheiro foi ao Ministério buscar o computador. Dado que não testemunhou os incidentes, Galamba remeteu para o testemunho de Eugénia Correia e, na sua própria fita do tempo, contou que - acabado de chegar de Singapura - ligou para Frederico Pinheiro às 20h40 para o exonerar. Entre as 21h00 e as 21h10 recebeu um telefonema da sua chefe de gabinete, "visivelmente perturbada, a relatar agressões e o roubo de um computador" no ministério. Galamba diz ter então ligado para o ministro da Administração Interna, uma informação que não tinha revelado até agora: "Reportei ao MAI e depois falei com o diretor nacional da PSP". Um "processo análogo" ao que fez depois com a ministra da Justiça, num telefonema sobre o qual disse não recordar se falou ou não do SIS. Outro ponto em que João Galamba hesitou foi sobre se já tinha conhecimento do contacto com os serviços de informações - feito pela sua chefe de gabinete - quando falou com a Judiciária, começando por admitir que sim e acabando por concluir que não. Recorde-se que, segundo contou Frederico Pinheiro, a PJ foi a casa do ex-adjunto na manhã da dia 27 para recuperar o computador, que já tinha sido levado pelo SIS pela meia noite.
Além do ministro da Administração Interna e da Justiça, Galamba repetiu que contactou o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, de onde veio a indicação para contactar o SIS, uma vez que o computador continha documentos classificados. Na conferência de imprensa que deu a 29 de abril, Galamba tinha omitido o telefonema para o MAI, descrevendo assim as suas diligências nessas noite: "Liguei ao primeiro-ministro, que não atendeu, julgo que estava a conduzir, liguei ao secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, a quem reportei este facto [o alegado furto do computador] e que disse que devia falar com a ministra da Justiça, o que fiz, e disseram-me que devia comunicar estes factos àquelas duas entidades [SIS e PJ]".
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Já sobre a exoneração propriamente dita, Galamba justificou a demissão com "comportamentos incompatíveis para um adjunto" - Frederico Pinheiro desobedeceu a instruções da chefe de gabinete, mentiu a colegas, mentiu-me a mim, não atendeu telefonemas, não enviou notas." E negou "categoricamente" que tenha ameaçado Frederico Pinheiro, que na quarta-feira disse que o ministro o ameaçou com dois murros. "Nego categoricamente, mas afirmo que fui ameaçado por Frederico Pinheiro. Se havia alguém mesmo muito exaltado naquele telefonema não era seguramente eu", disse Galamba, que mesmo admitindo ser "colérico", disse que estava "tranquilo" naquela altura por se ter livrado do problema.
Acusado pelo bloquista Pedro Filipe Soares de ter mentido ao país sobre as reuniões de janeiro com a CEO da TAP, Galamba rejeitou a acusação, voltando a dizer que na reunião do dia 16 deu conhecimento à responsável da TAP do encontro do dia seguinte com o grupo parlamentar do PS, mas rejeitando que tenha dado indicação para que Christine Ourmières-Widener estivesse presente. E defendeu que se trata de uma reunião normal, sustentando que até deputados do Bloco estiveram presentes em reuniões deste género ao tempo da geringonça, talo como deputados do PSD no governo de Passos Coelho - o que foi rebatido por ambos os partidos. "Não nos arraste para a sua normalidade", retorquiu o deputado social-democrata Paulo Rios de Oliveira. Sobre a reunião de 5 de abril no Ministério - apontada por Frederico Pinheiro como o momento em que é dada indicação para omitir as notas das reuniões de janeiro, pela chefe de gabinete e na presença do ministro - Galamba afirmou que não esteve presente.
Já quanto à exoneração da presidente executiva da TAP e do chairman Manuel Beja, Galamba disse que a decisão foi tomada de pleno acordo com as Finanças e embora tenha sustentado que o relatório da Inspeção Geral de Finanças é "mais do que suficiente" para sustentar a decisão de exonerar os dois administradores, admitiu que "há algum risco" de o Estado ser condenado, e disse depois que retirará consequências políticas caso os tribunais venham a concluir que não houve sustentação para as demissões.
PJ já tem as imagens do Ministério
Antes do início da audição a Galamba, a CPI aprovou um requerimento do Chega para solicitar as imagens de videovigilância do Ministério das Infraestruturas na noite em que terá havido agressões entre elementos do gabinete. Estas imagens, apurou o DN, já estão na posse da Polícia Judiciária há vários dias. Integram o inquérito-crime que foi instaurado aos incidentes de dia 26 de abril, que envolveram o ex-adjunto do ministro João Galamba, Frederico Pinheiro, e cinco assessoras, entre as quais a sua chefe de gabinete. Com Valentina Marcelino
susete.francisco@dn.pt
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