A proposta de lei do PS para baixar as taxas do IRS concentra as maiores descidas entre os 2.º e 4.º escalões. A líder parlamentar socialista, Alexandra Leitão, assegurou esta terça-feira que esta proposta significa uma utilização “mais justa” da folga de 348 milhões de euros que o Governo tinha referido para justificar esta redução fiscal, e que, por isso mesmo, “tem mais justiça fiscal, é mais redistributiva e chega a mais gente”..Ao DN, o deputado do PSD Hugo Carneiro não hesitou em classificar a proposta socialista como “um exercício de oportunismo”, apesar de ainda não afirmar se a posição do partido face à missiva do PS será de aprovação ou de chumbo..Alexandra Leitão começou por lembrar, em conferência de imprensa, que “o Governo definiu 348 milhões de euros” como margem orçamental para proceder a esta redução, e que o PS propõe manter..“O que nós aqui estamos a fazer é uma redistribuição para que, entre 1000 e 2500 euros seja o maior ganho. Mas até há ganhos entre os 2500 e os 6500 euros em relação àquilo que está em vigor. Há é ganhos menores”, acrescentou a deputada..A proposta socialista dá como exemplo o caso de “um contribuinte sem filhos e com rendimento de 1 000 euros por mês”. .“Teria, com a proposta do Governo, um aumento do rendimento líquido na ordem dos 26 euros por ano, ou seja, menos de 1,9 euros por mês. Com a proposta do PS, o rendimento desse contribuinte aumenta duas vezes mais, ou seja, tem um aumento acima dos 55 euros por ano.”.Questionado pelo DN sobre se a proposta do PS é mais ambiciosa do que a do Governo, Hugo Carneiro rejeitou esta leitura. “Não é mais ambiciosa a proposta do PS. É o exercício do oportunismo, porque eles tinham o poder até há menos de um mês atrás e não se lembraram nunca de apresentar essa proposta. Agora, que estão na oposição, é que se lembraram”..O deputado do PSD estende esta ideia aos restantes partidos com assento parlamentar. “O facto de o Governo em Portugal ter mudado e a AD ter ganho significa mesmo que os impostos vão baixar. Tanto assim é que os outros partidos todos vieram atrás.”.Sobre a proposta do PS, Hugo Carneiro compara-a com as decisões em torno das ex-SCUT (autoestradas sem custos para o utilizador)..“Durante anos, o Parlamento andou a aprovar isenções de portagens nas ex-SCUT ou a aplicação dos descontos. O PS nunca cumpriu plenamente as deliberações do Parlamento, nomeadamente quando não tinha maioria, e agora vieram propor a isenção das portagens nas ex-SCUT. É um exercício puro de oportunismo”, insistiu..Alexandra Leitão sublinhou que a proposta do PS para o IRS traz mais alívio fiscal nos “rendimentos dos 2.º, 3.º, 4.º e 5.º escalões”, enquanto faz “alívios menores nos 6.º e 7.º escalões”, com o objetivo de “chegar a mais pessoas e a pessoas com rendimentos que não são só os mais baixos”..Por este motivo, a deputada ainda acusou o Governo de vir “defraudar as expectativas criadas pela própria AD durante a campanha”, considerando que a margem definida pelo Executivo “fica muito aquém do alcance das medidas tomadas pelo Governo PS no OE2024”..Perante esta disputa entre os dois principais partidos, André Ventura admitiu que há o “risco” do seu partido votar contra a proposta do Governo. Por oposição, foi até mais longe e admitiu a possibilidade de haver um voto favorável do Chega à proposta do PS, “se for positiva”..“Neste momento admitimos tudo, porque queremos é baixar os impostos”, afirmou o líder do Chega, sugerindo que os portugueses não querem saber quem é que avança as propostas..André Ventura considerou até “bizarro e caricato que a proposta do Chega e do PS tenham mais objetivos em comum do que a proposta do Governo da AD”..Para o líder do Chega, tanto o seu partido como o PS têm como objetivo “reduzir os impostos sobre quem ganha menos”, enquanto o Governo “parece ir no sentido contrário, de querer beneficiar os que ganham mais”..“E eu quero deixar bem claro ao Governo: não há nada que nos prenda”, afirmou André Ventura. “Se nós sentirmos que há uma proposta que baixa mais os impostos, viabilizaremos essa também”, acrescentou..O líder do Chega pediu a Luís Montenegro que “desça do pedestal e perceba que tem de negociar e que a direita chegue a uma proposta para baixar os impostos aos que ganham menos, e não aos que ganham mais”.