Portugal já assistiu a cinquenta manifestações do Dia do Trabalhador em democracia, mas há reivindicações que não mudam, apesar dos “passos extraordinários” que foram dados desde o 25 de Abril, assegurou esta quarta-feira o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, durante a tradicional manifestação organizada pela CGTP no 1.º de Maio: “Falta fazer muito, e falta desde logo fazer uma coisa que foi um elemento central de Abril, que foi a justiça social”..Sem surpresas, o tema parece ter sido concertado entre os partidos da ala esquerda do Parlamento e pela CGTP, que se centraram nas condições de trabalho em Portugal, a começar nos salários e nos horários, e passaram por críticas ao Governo, que, de acordo com o PCP, não cumpriu “as promessas que fez aos setores profissionais”..Também a líder bloquista, Mariana Mortágua, depois de ter defendido melhorias na forma como o trabalho é desempenhado em Portugal, apelando a que a discussão passe para a Europa, destacou que o Governo “tem dado sinais contrários” sobre este tema..“Não há um compromisso sério com o aumento do salário mínimo, nem nenhuma proposta para aumentar os salários médios”, criticou Mariana Mortágua, enquanto assegurou que o seu partido sabe “como é que se faz”..Para a coordenadora do Bloco, é preciso impor “leques salariais” para “combater a desigualdade dentro da mesma empresa. Impedir que um trabalhador precise de um ano para ganhar o mesmo que um administrador ganha num dia.”.A proposta já tinha surgido antes. Depois de defender que o salário mínimo passe para 900 euros “já este ano” e que a semana de trabalho passe a ser de quatro dias, Mariana Mortágua sugeriu a introdução de “leques salariais”, por considerar que “não há nenhuma razão para que o presidente de uma empresa ganhe cem, duzentas, trezentas vezes mais que ganha um trabalhador. Não trabalha trezentas vezes mais. Essa é uma condição para grandes empresas pagarem salários milionários aos seus presidentes”, criticou..Segundo a líder do Bloco de Esquerda, “os leques salariais obrigariam a que um presidente para se pagar a si mesmo um salário milionário pode fazê-lo, mas tem de subir os salários de todos os trabalhadores dessa empresa”..Afinado com o Bloco, também o porta-voz do Livre, Rui Tavares, ergueu uma das suas mais importantes bandeiras - a semana de quatro dias de trabalho - e defendeu que “é preciso conhecer bem os dados, foi feito no privado e os resultados foram positivos”. De acordo com Rui Tavares, “a produtividade aumentou ou é a mesma”..A mesma estratégia.A pouco mais de um mês das eleições europeias, líderes do BE e do PCP apareceram na manifestação acompanhados pelos cabeças de lista dos partidos para a corrida ao Parlamento Europeu, respetivamente Catarina Martins e João Oliveira..No que diz respeito ao PS, foi a própria cabeça de lista socialista, a deputada Marta Temido, que lembrou “a importância do trabalho na agenda europeia”..A também ex-governante assinalou “uma grande responsabilidade em relação a um conjunto de compromissos, com uma agenda de trabalho mais digno, melhores salários, naturalmente, sempre com mais emprego, mas também com melhores condições de vida para os trabalhadores”..“Aquilo que a Europa assumiu e que Portugal traduziu para as suas metas nacionais em relação à taxa de emprego, em relação à taxa de população adulta a fazer formação que permita lidar com os novos desafios do mundo trabalho, em relação à diminuição da pobreza, são desafios que não são só para ficar no papel”, concluiu..Tiago Oliveira, o secretário-geral da CGTP, manteve-se sempre à frente da manifestação do 1.º de Maio, entre o Martim Moniz e a Alameda D. Afonso Henriques.Foto: Paulo Alexandrino / Global Imagens.50 anos de luta sindical livre.Também o secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, no seu discurso na Alameda D. Afonso Henriques, afirmou que Portugal tem “um Governo dos grupos económicos”, o que contrasta com as reivindicações de há seis “uma das maiores manifestações de sempre em defesa e afirmação dos valores de Abril”..Para além de propor que o horário de trabalho passe a ser de 35 horas semanais, tal como apelou Paulo Raimundo, o sindicalista insistiu num aumento de 15% para todos os trabalhadores, que teria de corresponder a uma subida mínima de 150 euros por mês. A par destas reivindicações, e afinado com as propostas do PCP, Tiago Oliveira também propôs que o ordenado mínimo passasse a ser mil euros..Um pouco antes da manifestação ter arrancado do Martim Moniz, questionado pelo DN se a democracia enfrenta agora novos desafios, Tiago Oliveira respondeu que “a democracia é isto mesmo”. “É construída pelo povo, pelos trabalhadores” e é “sempre fruto da luta, sempre fruto de assumirmos a nossa condição enquanto trabalhadores na busca de uma vida melhor”. Sobre o 1.º de Maio em concreto, o líder da CGTP vê-o como “um sentimento de esperança relativamente ao futuro”..A manifestação da CGTP, que há 50 anos encheu o antigo Estádio 1.º de Maio, em Alvalade, começou na Praça Martim Moniz e terminou em frente à Fonte Luminosa, como acontece habitualmente. A impor o ritmo daquele desfile de trabalhadores estava Alfredo Fernandes, que aos 96 anos voltou a empunhar uma bandeira de Portugal. Ao DN, ainda disse que traz a bandeira enorme para “engrandecer a manifestação”..“O 25 de Abril trouxe-nos a liberdade e é muito importante”, lembrou..À sua frente estavam os jovens do grupo Batucando, com caixas e bombos a chamar as atenções..Atrás, várias centenas de manifestantes com bandeiras da CGTP, da Palestina e dos sindicatos que se juntaram à causa. A contrastar com as outras cores, uma mulher envergava um cartaz a lembrar que “Abril continua em Maio”.