Luís Montenegro está hoje em Bruxelas para um encontro do Partido Popular Europeu (PPE), já na qualidade de primeiro-ministro indigitado. Na capital belga está também o ainda primeiro-ministro, António Costa, para uma reunião do Conselho Europeu - e entre os dois há um tema tabu: que apoio dará ou não o próximo Governo, dirigido pelo líder do PSD, à eventual promoção de Costa a um alto cargo na UE depois das eleições europeias..Montenegro, ontem, à saída da audiência com o Presidente da República, não respondeu a questões sobre esse assunto, reservando-se para quando for primeiro-ministro. No passado, tanto ele como Paulo Rangel se manifestaram reservados, enquadrando as supostas ambições internacionais de Costa em propaganda pessoal, visando iludir fracassos na governação nacional. Mas na altura em que falaram Costa não estava demissionário nem se tinham realizado eleições..São quatro aqueles que a gíria da UE classifica como top jobs: presidente da Comissão Europeia; presidente do Parlamento Europeu; presidente do Conselho Europeu; e Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança..O que está em causa para o ainda primeiro-ministro é, para já, num primeiro momento, decidir se quer avançar mesmo ou não - e como conjugar isso com a Operação Influencer e o facto de estar a ser investigado (afinal, o pretexto que o levou a demitir-se)..Depois, caso decida avançar, entre os tais quatro top jobs, há pelo menos um dos quais está excluído: ser presidente do Parlamento Europeu (porque recusa ser candidato a eurodeputado)..Depois, é difícil que venha a ser presidente da Comissão Europeia porque a família da UE onde o PS se integra, o Grupo S&D (Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu), escolheu para seu candidato o comissário luxemburguês Nicolas Schmit (embora já tenha acontecido, como com Ursula von der Leyen, a escolha não sair dos candidatos previamente nomeados)..Assim, o que sobra é a possibilidade de ser presidente do Conselho Europeu, sucedendo ao liberal belga Charles Michel (o mandato termina em novembro). Na imprensa europeia, o facto de Costa estar envolvido num processo judicial em Portugal foi notado como condicionante mas não fez com que a o deixasse de considerar o favorito..A outra hipótese é tornar-se Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, cargo atualmente ocupado pelo socialista espanhol Josep Borrel..O que os socialistas portugueses no Parlamento Europeu sabem é que tanto para uma função como para outra - mas sobretudo para a de presidente do Conselho Europeu -, Costa tem apoio indiscutível do Grupo S & D. E acreditam que um Governo português liderado por Luís Montenegro dificilmente terá margem para se opor à escolha de António Costa se esta se tornar mesmo possível..A possibilidade de sucesso da candidatura dependerá de dois fatores: por um lado, a relação de forças que se vier a estabelecer dentro do Parlamento Europeu depois das próximas eleições; por outro, a relação de forças dentro do próprio Conselho Europeu, entre as famílias políticas dos diversos primeiros-ministros.